Como o verão aumenta a pressão por corpos magros?

Praia, sol e mar (ou piscina): o verão é uma estação deliciosa para muita gente que gosta de aproveitar o tempo quente com atividades ao ar livre e/ou na água. Mas, para quem tem um corpo fora dos padrões estéticos vigentes, é um período que pode intensificar situações constrangedoras. 

Nas redes sociais, não é difícil achar relatos de pessoas que ouviram piadinhas inconvenientes ou agressões verbais relacionadas ao excesso de peso e à forma física. A gordofobia é justamente esse tipo de comportamento, que mostra a repulsa ou aversão aos corpos gordos. 

É verdade que esse tipo de preconceito ocorre durante todo o ano de diversas formas – muitas delas, aliás, veladas, mas igualmente incômodas. Mas é no verão que ele fica mais evidente, já que é também o período em que o(a) gordo(a) tira sua “armadura”, a roupa, e deixa o corpo mais exposto. 

“A gordofobia pode ser francamente agressiva mas também uma atitude de desprezo disfarçada de piedosa”, afirma o psiquiatra Adriano Segal, coordenador do Grupo de Cirurgia Bariátrica do IPq (Instituto de Psiquiatria) do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e membro da Comissão de Transtornos Alimentares da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica).

“O portador de obesidade é considerado culpado por ser daquele jeito, como se fosse dele a responsabilidade moral ou comportamental de estar acima do peso”, afirma. 

Dados da pesquisa Obesidade e Gordofobia – Percepções 2022, realizada pela Abeso e SBEM (Sociedade Brasileira de Metabologia e Endocrinologia) mostrou que 85% dos entrevistados já foram vítimas desse tipo de preconceito. 

Os ambientes mais comuns em que isso ocorre são a própria casa ou de familiares e estabelecimentos comerciais. Quanto maior o peso, mais recorrentes são os episódios de gordofobia, que têm relação direta com o estigma social que a obesidade tem. 

Impacto da gordofobia na saúde mental?

De acordo com Segal, a segregação a que essas pessoas são expostas apenas por suas características físicas gera transtornos que vão além do desconforto do momento. 

“Essas pessoas são julgadas injustamente por serem portadoras de obesidade, como se isso fosse uma falha de caráter”, afirma o psiquiatra. “Isso pode desencadear quadros psiquiátricos como alterações de humor, ansiedade e estresse”, alerta. 

Além disso, não é incomum encontrar pessoas que acabam descontando a frustração dessas situações na comida – o que pode facilmente gerar um transtorno alimentar, piorando ainda mais o problema. 

Por isso, recomenda-se que pacientes portadores de obesidade ou sobrepeso busquem apoio psicológico para serem acolhidos, trabalharem a autoaceitação e ainda se fortalecerem psicologicamente para se proteger de ataques gordofóbicos.

“Quando a pessoa sentir sua autoestima e a própria funcionalidade abaladas, mesmo que seja algo moderado, é recomendado que busque ajuda profissional”, acredita Segal.