Fibrose pulmonar: falta de ar progressiva e tosse seca são os principais alertas
Doença afeta principalmente idosos e fumantes, e seu diagnóstico envolve exames de imagem como a tomografia de tórax
A fibrose pulmonar é considerada uma doença rara, mas sua incidência tem aumentado nas últimas décadas. No quadro, acontece a cicatrização (fibrose) do tecido pulmonar, que fica mais grosso e rígido, comprometendo sua capacidade de expandir e realizar as trocas gasosas necessárias.
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A doença afeta principalmente adultos, a maioria idosos (geralmente acima dos 65 anos), sendo mais comum em homens (2 a 3 homens para cada mulher). Além disso, pessoas que foram ou ainda são fumantes têm uma probabilidade maior de desenvolver a fibrose pulmonar.
Infelizmente, se o quadro não for tratado, a maioria dos pacientes vive apenas de três a cinco anos. Conheça agora os sintomas mais comuns da doença, além dos exames para diagnóstico e opções de tratamento.
O que é fibrose pulmonar?
De forma geral, a fibrose pulmonar é uma doença pulmonar crônica e progressiva em que ocorre a cicatrização do tecido pulmonar, prejudicando a sua função. Ela pertence a um grupo de mais de 200 enfermidades conhecidas como doenças pulmonares intersticiais, por afetarem o interstício.
O interstício é uma fina camada de tecido que envolve os alvéolos, aquelas pequenas bolsas de ar responsáveis pela troca de oxigênio e gás carbônico. E, quando o interstício inflama e cicatriza, essa estrutura – que antes era esponjosa e flexível – se torna espessa e rígida.
E isso dificulta a passagem do oxigênio para a corrente sanguínea. O resultado? Uma perda progressiva da função pulmonar, que leva a uma sensação crescente de falta de ar. A forma mais frequente e grave é a fibrose pulmonar idiopática (FPI), ou seja, com causa desconhecida.
Causas de fibrose pulmonar
Embora em muitos casos, como na FPI, a causa exata seja desconhecida, existem outras doenças ou condições associadas que podem levar ao desenvolvimento de fibrose pulmonar. Entre eles, podemos destacar:
- Exposição a agentes externos: a inalação prolongada de certas partículas e poeiras pode desencadear a doença. Isso inclui sílica, fibras de amianto, pó de metais duros, grãos e até mesmo fezes de pássaros e mofo. A exposição a agentes externos é determinante para a fibrose pulmonar ocupacional, causada justamente pela inalação de poeiras minerais no ambiente de trabalho.
- Tabagismo: um fator de risco significativo, especialmente para a forma idiopática da doença.
- Doenças autoimunes: condições em que o sistema imunológico ataca o próprio corpo, como artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, esclerodermia e síndrome de Sjögren, podem causar fibrose como uma de suas manifestações.
- Fatores genéticos: ter um parente de primeiro grau com a doença aumenta o risco de desenvolver a fibrose pulmonar familiar.
- Radioterapia: pessoas que passaram por tratamento de radioterapia no tórax, para câncer de pulmão ou de mama, por exemplo, podem desenvolver cicatrizes nos pulmões meses ou até anos após o tratamento.
Medicamentos utilizados em quimioterapia, para tratar arritmias cardíacas, alguns antibióticos e anti-inflamatórios podem, em casos raros, levar à fibrose pulmonar como efeito colateral.
Prevenção
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, não existe hoje uma medida capaz de impedir totalmente o desenvolvimento da doença. Mas podemos evitar alguns fatores de risco.
Entre eles, o principal seria evitar fumar, seja ativamente ou passivamente. E, se possível, reduzir a exposição a substâncias tóxicas e poluição em excesso.
Além disso, se você tem uma doença pulmonar crônica que pode levar à fibrose, precisa seguir rigorosamente o tratamento prescrito pelo médio.
Vale lembrar que, em até 20% dos casos, a doença pode afetar dois ou mais membros da mesma família. Então, se você tem histórico familiar de fibrose pulmonar idiopática e começar a sentir sintomas típicos do quadro, procure um médico.
Sintomas da fibrose pulmonar
Normalmente, os sintomas da fibrose pulmonar se desenvolvem de forma lenta e gradual, o que pode fazer com que sejam confundidos com sinais do envelhecimento ou de outras condições menos graves.
Entre os sintomas, a dispneia é o mais comum. No começo, essa falta de ar ou dificuldade para respirar só aparece quando o paciente se exercita. Mas, com a progressão da doença, passa a se manifestar mesmo em repouso ou em atividades simples, como tomar banho ou se vestir.
Aquela tosse seca persistente e irritativa, e que não melhora, é outro sinal característico da condição. Assim como um cansaço constante, fruto do esforço que o corpo faz para respirar e da menor oxigenação do sangue.
Algumas pessoas podem sentir uma dor ou aperto no peito, embora seja menos comum. E, já nos estágios mais avançados da doença, alguns pacientes podem perder o apetite.
Em alguns casos, as pontas dos dedos das mãos e dos pés podem ficar arredondadas e aumentadas e as unhas podem se curvar para baixo. Esse sinal indica uma baixa oxigenação crônica no sangue.
Quando procurar por um médico?
Se você notar a presença de um ou mais dos sintomas mencionados, especialmente uma falta de ar que piora com o tempo e uma tosse seca que não passa, procure um médico. O especialista mais indicado para investigar e tratar a fibrose pulmonar é o pneumologista.
Ouça os sinais do seu corpo. Falta de ar não é apenas uma consequência natural da idade ou do sedentarismo – pode indicar condições que, sem um tratamento adequadro, reduzem a expectativa de vida.
Exames que auxiliam no diagnóstico da fibrose pulmonar
O diagnóstico da fibrose pulmonar pode ser complexo. Isso porque seus sintomas são semelhantes aos de outras doenças cardíacas e pulmonares, como o edema pulmonar. Por isso, depois da análise do histórico do paciente e do exame físico, o médico pode solicitar uma série de exames complementares.
Exames de imagem
São essenciais para visualizar as cicatrizes nos pulmões. E a tomografia do tórax, especialmente a de alta resolução, é o exame de imagem mais importante. Ela fornece imagens detalhadas dos pulmões e permite ao médico identificar o padrão de cicatrização típico da fibrose, conhecido como padrão de “favo de mel” em estágios mais avançados.
O raio-x do tórax também pode mostrar as cicatrizes pulmonares, mas, nos estágios iniciais da doença, elas não costumam ser visíveis.
Testes de função pulmonar
Há algumas opções de testes para verificar a função dos pulmões, sendo as mais comuns:
- Espirometria: um teste simples e indolor que mede a quantidade de ar que você consegue inspirar e expirar, e a velocidade com que faz isso. Na fibrose pulmonar, o exame geralmente mostra uma capacidade pulmonar reduzida.
- Pletismografia: avalia, além dos volumes pulmonares, a difusão, isto é, como está a passagem do oxigênio dos alvéolos para o sangue
- Teste de caminhada de seis minutos: avalia a distância que o paciente consegue caminhar em seis minutos e mede a saturação de oxigênio no sangue antes, durante e após o esforço. Uma queda na oxigenação durante o teste é um indicativo da doença.
- Oximetria de pulso: um pequeno dispositivo colocado no dedo mede de forma não invasiva o nível de oxigênio no sangue.
Em alguns casos, quando os outros exames não são conclusivos, pode ser necessário remover uma pequena amostra de tecido pulmonar para análise em laboratório. A biópsia confirma a presença de fibrose e ajuda a descartar outras doenças.
Tratamentos para a fibrose pulmonar
Embora os danos causados pela fibrose pulmonar sejam irreversíveis e a doença não tenha cura, os tratamentos disponíveis podem aliviar os sintomas, retardar a sua progressão e melhorar a qualidade de vida do paciente.
A reabilitação pulmonar, por exemplo, é um programa supervisionado que inclui exercícios físicos, técnicas de respiração, orientação nutricional e apoio psicológico. O objetivo é ajudar o paciente a lidar melhor com os sintomas, aumentar sua capacidade de realizar atividades e melhorar seu bem-estar geral.
No caso da fibrose pulmonar idiopática (FPI), existem medicamentos específicos chamados antifibróticos. Eles não curam a doença, mas demonstraram ser eficazes em reduzir a velocidade da progressão da fibrose e a perda da função pulmonar.
Já quando os níveis de oxigênio no sangue ficam muito baixos, a oxigenoterapia (oxigênio suplementar) se faz necessária. Ela ajuda a reduzir a falta de ar, melhora o sono e a disposição, além de proteger o coração de complicações.
Para pacientes mais jovens e com a doença em estágio avançado, que não respondem a outros tratamentos, o transplante de pulmão pode ser uma opção.