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    Como a poluição do ar pode afetar a nossa saúde?

    Estudos trazem evidências da ligação entre o ar poluído e doenças como demência e câncer

    Por Danielle SanchesPublicado em 21/06/2022, às 16:23 - Atualizado em 25/05/2023, às 13:52
    Foto: Shutterstock

    Basta olhar para o céu das grandes cidades para ter dimensão do problema que a poluição representa no mundo atual. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que praticamente toda a população do mundo (99%) respira um ar com mais partículas poluentes do que o recomendado pela entidade.  

    Embora esse seja um problema bastante discutido na esfera ambiental, a poluição do meio-ambiente  também vem sendo debatida na área médica. Isso porque são cada vez mais fortes as evidências científicas de que respirar essas partículas aumenta consideravelmente o risco de desenvolver doenças como diabetes e Alzheimer.  

    Na verdade, a ciência já tem indícios bastante sólidos de que a poluição do ar é responsável por provocar doenças especialmente no trato respiratório humano como asma, Doença pulmonar obstrutiva crônica (CPOC), enfisema e até câncer de pulmão. 

    “Também podem ocorrer inflamações pulmonares associadas a determinados agentes poluidores, o que pode resultar em uma diminuição da capacidade respiratória”, afirma Roberta Frota Villas Boas, endocrinologista do Hospital 9 de Julho, em São Paulo.  

    O que é poluição e por que ela é ruim para o corpo?  

    Podemos chamar de poluição atmosférica qualquer contaminação – dentro ou fora de casa – por qualquer agente químico, físico ou biológico que modifica as características naturais do ar.  

    Queima de combustível fóssil, atividade industrial e incêndios florestais são fontes comuns de poluição do ar. No quesito saúde, os agentes poluidores de maior preocupação incluem material particulado fino (PM2), como são chamados os poluentes (poeira, fumaças e outros materiais sólidos) que permanecem suspensos na atmosfera por seu tamanho reduzido; monóxido de carbono; ozônio; dióxido de nitrogênio e dióxido de enxofre.  

    Ocorre que, quando essas partículas e substâncias são aspiradas, elas levam para dentro do corpo toxinas e outros componentes que provocam inflamação nos pulmões e outros órgãos.  

    É justamente esse processo inflamatório crônico que está ligado ao risco de desenvolver não apenas problemas respiratórios como também doenças como aterosclerose, diabetes, Alzheimer e câncer. 

    Foto: Shutterstock

    Poluição e doenças: o que os estudos dizem?

    Mesmo sendo um tema que tem ganhado relevância nos últimos anos, com estudos cada vez mais robustos sendo produzidos, é importante salientar que ainda existem mais perguntas do que certezas neste campo. “Nada é conclusivo. Ainda existem várias pesquisas em andamento para esclarecer melhor esses dados”, afirma Villas Boas.  

    Em uma delas, publicada recentemente na revista Nature Communications, pesquisadores da Universidade Emory de Atlanta, nos Estados Unidos, acompanharam por 18 anos (de 2000 a 2018) a relação entre poluição e aumento na incidência de demência entre os americanos. O resultado mostrou que a exposição excessiva ao material particulado fino (PM2) e dióxido de nitrogênio está associada a casos de demência e Alzheimer. 

    No entanto, este não foi o primeiro trabalho a mostrar isso. Estudos anteriores realizados com populações da China, Inglaterra e dos Estados Unidos já haviam demonstrado uma associação entre a toxicidade resultante da aspiração de PM2 e outras substâncias poluentes e problemas cognitivos, como perda de memória e o aparecimento de demências, entre elas, o Alzheimer.  

    Mas vale deixar claro que, embora exista uma associação estabelecida, a poluição atmosférica pode não ser a causa do declínio cognitivo – ou seja, ainda são necessárias mais análises para entender qual o mecanismo que nos torna vulneráveis à doença quando expostos à poluição.  

    No caso do diabetes, uma pesquisa publicada em 2018 no periódico Lancet Planetary Health já havia jogado a bomba: estima-se que 3,2 milhões de novos casos de diabetes por ano podem ser atribuídos aos efeitos da poluição elevada do ar, com moradores de áreas mais pobres sendo os mais afetados.  

    A poluição atmosférica tem influência até mesmo na microbiota intestinal: em uma análise feita por especialistas da Universidade Bolder do Colorado, nos Estados Unidos, os pesquisadores notaram que a poluição das grandes cidades pode mudar a composição da microbiota do intestino, aumentando o risco para desenvolver diabetes. 

    É possível reduzir a aspiração de poluentes? 

    Dificilmente. A menos que você se mude para uma ilha deserta distante de qualquer centro urbano, as chances de encontrar um ar poluído com partículas nocivas existe, mesmo em ambientes rurais.  

    Há ainda a questão da poluição industrial, que depende de uma mudança comandada por políticas públicas e conscientização de governos em todo o mundo – o que nem sempre é possível de ser feito e costumam levar anos para serem implementadas.  

    Por isso, o melhor é focar naquilo que pode ser modificado dentro do nosso raio de ação social. “Alguns agentes poluentes dependem do nosso estilo de vida, como o uso de carros para deslocamentos”, afirma Villas Boas. Ou seja, reduzir a rodagem com o veículo e até considerar substituí-lo por uma bicicleta ou uma caminhada, se e quando isso for possível, são alternativas que deveriam ser amplamente estimuladas em nossa sociedade.  

    Há ainda a questão: as doenças crônicas dependem não de apenas um, mas de vários fatores de risco para se tornarem realidade em nossa saúde. Por isso, manter outros fatores sob controle – como uma alimentação saudável e balanceada, praticar exercícios físicos, não fumar e manter-se mentalmente ativo – também é uma forma de reduzir as chances de ficar doente mesmo convivendo diariamente com a poluição.  

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