Quais os benefícios da natureza para a sua saúde?
Vantagens vão de alívio do estresse à prevenção de doenças cardíacas
TV, celular, tablet, computador. Não importa o lugar. Se houver pessoas, algumas delas estarão conectadas. Nada contra a tecnologia, ela nos possibilitou uma série de avanços. Mas, se pensarmos na saúde, nenhum ambiente virtual substitui o contato com a natureza.
Neste artigo, você vai ler:
Descubra a seguir tudo que boas doses de verde podem fazer pelo seu corpo e pela sua mente. E como incluir essas doses no dia a dia, mesmo que você viva em um grande centro urbano.
Benefícios da natureza para adultos
Ajuda a controlar o estresse
Apenas 20 minutos diários de contato com a natureza já reduzem significamente os níveis de hormônio do estresse, o cortisol. É o que aponta um estudo publicado no Frontiers in Psychology.
Diminui o risco de doenças cardíacas
Um estudo do Journal of the American Heart Association mostrou que pessoas que vivem em áreas mais verdes, além de terem menores níveis de estresse, têm menos chance de desenvolver doenças cardiovasculares, como infartos ou AVC (acidente vascular cerebral), também conhecido como derrame.
No ar que respiramos existe um material particulado fino conhecido como PM2.5. Nos grandes centros urbanos, a concentração de PM2.5 é maior, enquanto em ambientes arborizados, é menor.
“Altas concentrações desse material podem causar infarto ou AVC em pessoas com predisposição genética”, afirma o professor do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, Fernando Bellissimo Rodrigues.
Redução nos sintomas de ansiedade e depressão
Caminhar calmamente observando as árvores, os pássaros, o céu e o que há no entorno, acalma o ritmo respiratório mesmo que por alguns minutos, podendo reduzir assim a ansiedade e a depressão.
Esse benefício da caminhada foi inclusive comprovado em uma revisão feita em países como Canadá, Estados Unidos e Japão por pesquisadores da Universidade de Derby no Reino Unido, em que pessoas que caminhavam tiveram uma redução efetiva no estado de ansiedade.
Menor risco de doenças respiratórias
Plantas e árvores limpam e umidificam o ar, removem material particulado e monóxido de carbono, diminuindo os riscos de asma e outras doenças como pneumonia e bronquite.
“Respiramos melhor quando estamos em contato com a natureza. Se esse contato for frequente, melhor ainda. Melhoramos nosso bem-estar e, consequentemente, nossa qualidade de vida”, ressalta Luiza Ishikawa Ferreira, professora de Biologia da PUC- Campinas.
O contato com a natureza também diminui os riscos de outras infecções pulmonares, pois aumenta os nossos níveis de imunoproteínas e células que combatem vírus e bactérias. Além disso, pesquisas mostram que participar de atividades na natureza reduz os marcadores inflamatórios que têm sido associados ao risco de asma.
Promove a sensação de conforto térmico
Se você não sente frio, nem calor, diante da temperatura do ambiente em que se encontra, pode-se dizer que está sob um conforto térmico.
E a arborização proporciona justamente mais conforto térmico em zonas urbanas, pois o processo de fotossíntese das plantas faz com que elas absorvam uma grande quantidade de calor do ar presente em volta delas, resfriando o ambiente.
Além de diminuir os efeitos da poluição, o conforto térmico evita mortes. “Na China, por exemplo, somente no ano de 2017, morreram mais de 16 mil pessoas em razão das ondas de calor. Na Europa, entre 2008 e 2010, morreram 3 mil pessoas por ano, devido às alterações climáticas”, conta Bellissimo Rodrigues.
Benefícios da natureza para as crianças
Promove melhora na forma física e estimula o sistema cardiorrespiratório
É em meio a natureza que a criança poderá se exercitar em terreno natural, ou seja, irregular. Isso dá a ela a capacidade de estimular todas suas musculaturas ao correr, pular, subir em árvores e barrancos, entre outros. A partir desse momento, o sistema cardiorrespiratório já estará em ação, se tornando mais resistente.
Estimula a visão e previne miopia
A estimativa é que em 2050 metade da população mundial venha a ser míope, distúrbio que afeta o globo ocular e faz a imagem dos objetos aparecer desfocada. É o que aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Um estudo recente publicado no periódico Jama mostrou que a progressão da miopia em crianças de 6 a 8 anos foi três vezes maior em 2020, se comparado aos anos anteriores, em razão do confinamento, onde o tempo gasto em atividades ao ar livre diminuiu drasticamente.
O pediatra e sanitarista Daniel Becker explica que, além de hereditária, a miopia também é causada pela falta de luz externa e pelo excesso de telas. “Por causa do isolamento social, estamos em uma epidemia mundial sem precedentes de miopia e a luz natural é a melhor forma de prevenir essa condição. Por isso, é necessário se expor à luz ao ar livre”.
Capacidade de aprendizado e resolução de problemas
A natureza oferece à criança um espaço valioso para o aprendizado e a socialização. Se ela está em grupo, aprende ainda a negociar, ouvir e brincar de forma colaborativa. Além disso, existe o senso de risco, que apesar da palavra parecer uma ameaça é vista por Becker como um benefício.
“Uma criança precisa de magia e aventura. Por isso, é bom ela poder subir em uma árvore e pensar: será que eu vou cair? E se eu subir nesse barranco, será que vou me machucar? Essas sensações de risco despercebido e de avaliação de risco estimulam esse senso de aventura e magia que todo mundo precisa”, ressalta o pediatra.
Estimula e melhora o sistema imunológico
A sujeira natural vinda da natureza – como o barro, a lama, a terra e as folhas – ajuda a fortalecer o sistema imunológico. Ela melhora o microbioma humano, ou seja, o conjunto de bactérias, vírus e fungos que compõem o organismo (sim, temos tudo isso dentro da gente nesse exato momento), e os fitoquímicos exalados pelas árvores estimulam a imunidade.
Não é à toa que um artigo publicado por um professor de microbiologia médica da University College of London concluiu que quando nosso sistema imunológico fica exposto aos micróbios contidos no solo ou nas plantas, acabam “ensinando” nosso corpo a se proteger de microorganismos que oferecem riscos à saúde e ignorar aqueles inofensivos.
Senso de observação, atenção e foco
Um ambiente com animais desperta na criança um senso de descoberta e interesse pela própria natureza. É ali que ela vai olhar as formigas no chão e os pássaros no céu, por exemplo.
Nesse momento será necessário que ela também desenvolva seu próprio foco. Seja para contemplar tanta novidade que a natureza oferece quanto nas brincadeiras que podem ser praticadas ali, desenvolvendo assim sua capacidade de concentração.
“No imaginário das crianças menores, um pequeno fragmento de mata é uma grande floresta. Por isso, esse contato direto com o ambiente natural ajuda a sensibilizar as crianças a prestarem mais atenção a esse tipo de ambiente”, conta a professora Luiza Ishikawa.
Ainda sobre foco, uma pesquisa do primeiro programa nacional de prescrição natural baseado em evidências do Canadá (PaRx) concluiu que crianças que caminham pelo menos 20 minutos diários em áreas verdes como parques aumentam sua capacidade cerebral em áreas que melhoram a atenção e foco, se comparadas com outras que caminham em áreas urbanas.
Mas eu moro em um centro urbano. E agora?
Tente trazer a natureza para dentro da sua casa. Que tal ter um ou dois vasos de planta? Existem algumas espécies que não exigem tanto sol, sombra ou regas diárias.
Você ainda pode investir em plantas que ajudam a retirar os poluentes do ar, como a hera inglesa, lírio da paz, espada de São Jorge e dracena; e mini hortas com plantações de salsinha, cebolinha, manjericão, por exemplo. Esse tipo de iniciativa ainda pode ser uma ponte para o contato das crianças com folhas, gravetos e outros materiais naturais.
Ainda há a opção de fazer parte das suas caminhadas ou corridas em trilhas ou parques urbanos. Ou ainda se programar para acampar ou mergulhar de tempos em tempos.
Para as crianças, também não faltam alternativas. Vale caminhar em uma rua arborizada ou até uma praça que seja um pouco mais longe de casa, onde haja árvores, terra, areia e brinquedos de playground.
Assim como visitar parques com grandes áreas verdes ou praias. “O território essencial da criança é a natureza e a atividade fundamental é o brincar livre”, diz Becker. Ter cachorros ou gatos também conta como contato da criança com a natureza.
“Tudo isso é válido. É uma pirâmide. Por isso, o primeiro passo é que as famílias entendam a importância da natureza para a criança, pois mesmo em ambiente urbano a natureza está presente de diversas maneiras e a criança deve ser incluída nela, sendo levada para uma área verde pelo menos uma vez por mês, por exemplo”, lembra o pediatra.
“Nesse sentido, a medida mais importante seria a criação e manutenção das áreas verdes. Ou seja, precisamos plantar onde não tem e podar árvores e gramas onde tem”, indica Bellissimo Rodrigues.