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    Como é feito o transplante de medula óssea

    Também conhecido como TMO, o procedimento consiste em uma transfusão de células-tronco

    Por Tiemi OsatoPublicado em 24/06/2022, às 16:57 - Atualizado em 25/05/2023, às 16:37
    Foto: Shutterstock

    A medula óssea é um dos vários tecidos que temos no corpo. E também um dos mais importantes. Presente em todos os ossos do organismo, a medula abriga as células-tronco (ou células-mãe), responsáveis por produzir glóbulos brancos (leucócitos), glóbulos vermelhos (hemácias) e plaquetas.

    Essas células do sangue servem, respectivamente, para defender nosso corpo de ataques de agentes estranhos, distribuir oxigênio para as demais células e controlar hemorragias. É por isso que, quando as células-mãe param de funcionar corretamente, pode ser necessário realizar um transplante de medula óssea (TMO). 

    O procedimento costuma ser indicado para algumas doenças do sangue — tanto malignas quanto benignas. É comum encontrar nesse grupo patologias como leucemias, linfomas, mielodisplasia, mieloma múltiplo, anemia aplásica, anemias falciforme e talassemia. 

    As soluções, em termos de transplante, são duas. Pode-se recorrer ao TMO alogênico, no qual o paciente recebe a medula de uma outra pessoa, sendo ela um parente ou não.

    Outra opção é o TMO autólogo, no qual o doador da medula é o próprio paciente. Essa modalidade é aplicada a doenças que não têm origem diretamente na medula ou nos quadros em que a patologia diminuiu o suficiente para não atingir mais esse tecido, ou seja, ainda existe tecido saudável e viável para ser aproveitado.

    Como é feito o transplante de medula óssea?

    Primeiro, vale ressaltar que o TMO não é uma cirurgia, e sim uma transfusão de células feita com o auxílio de um cateter. 

    Para garantir que alguém esteja apto a receber o transplante, uma equipe médica multidisciplinar faz uma avaliação da condição clínica por meio de uma série de exames de check-up do corpo inteiro. É preciso analisar, por exemplo, pulmão, rim e coração.

    Estando tudo certo, a internação é feita, geralmente, uma semana antes do TMO. Durante o regime preparatório, o paciente é submetido à quimioterapia — que pode ou não estar associada à radioterapia — e à imunoterapia, que vai suprimir a imunidade e destruir a própria medula óssea deficiente. 

    Já o doador, tendo apresentado bons resultados no check-up, é internado um dia antes do procedimento. No momento da doação, ele recebe uma anestesia peridural (que é de baixo risco), e a medula óssea é aspirada com uma agulha. Assim, retira-se o sangue de dentro da bacia, que é o local do corpo onde estão ossos mais largos e de fácil acesso. 

    Em seguida, as células-tronco doadas são armazenadas em uma bolsa de sangue e direcionadas ao receptor por meio de um cateter, posicionado em uma veia central que leva ao coração. Essas etapas demoram cerca de duas horas. 

    Foto: Shutterstock

    Embora a punção feita no doador seja indolor, há a possibilidade de sentir algum desconforto após o procedimento. Nesse caso, são indicadas medicações analgésicas simples. O indivíduo costuma receber alta no mesmo dia, com a recomendação de não realizar, por uma semana, atividades que exijam muita força física. Dentro de 15 dias, a medula óssea se recompõe (ou seja, as células se multiplicam e voltam para o nível usual). 

    Existe ainda uma forma diferente de conduzir a doação. É a chamada coleta por aférese. Nesse caso, administra-se uma medicação ao longo de 5 dias para estimular as células-mãe a se multiplicarem e migrarem da medula  para o sangue do doador. O sangue é coletado por meio de uma punção venosa periférica — como se fosse uma coleta de sangue normal —, a máquina de aférese capta somente as células-tronco, e o restante é devolvido ao doador. 

    Outra possibilidade para doação é específica para gestantes, que podem ceder o cordão umbilical para o procedimento. Como essa estrutura é rica em células-tronco, o sangue do cordão pode ser doado a um Banco Público de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário. 

    Bom, mas e o transplante autólogo? Quando o doador da medula é o próprio paciente, ele recebe uma injeção para aumentar a produção de células-tronco, que serão retiradas do organismo e congeladas. O paciente é então submetido a doses altas de quimioterapia e, quando esse tratamento é finalizado, recebe novamente as células coletadas. 

    Como é o pós-transplante?

    Uma vez concluída a transfusão, a medula volta a funcionar em 15 a 20 dias — é o que se chama de “pega da medula”, ou, em termos técnicos, enxertia. 

    Nesse período, o receptor fica suscetível a infecções, então deve estar isolado em uma unidade adequada e protegida. Isso porque a medula óssea original já não funciona mais, como resultado da quimioterapia, e a nova ainda não se adaptou ao organismo. 

    Além disso, por causa do tratamento feito antes do transplante, o paciente pode enfrentar efeitos colaterais como dor de garganta, diarreia, febre, náuseas e vermelhidão na pele. 

    Depois de ser liberado do hospital, o receptor precisa manter o controle ambulatorial, porque o processo de recuperação da imunidade dura, em média, um ano. Nos primeiros meses, o controle costuma ocorrer duas vezes por semana. Com o tempo, a periodicidade torna-se semanal e mensal. 

    Como ser doador de medula?

    Foto: Shutterstock

    O voluntário deve ter entre 18 e 35 anos e estar em bom estado de saúde. Os principais impeditivos são câncer e doenças infecciosas, incapacitantes, hematológicas ou do sistema imunológico. Outras complicações devem ser analisadas individualmente. 

    Atendendo às condições básicas de idade e de saúde, tornar-se um doador é simples. Basta localizar um hemocentro que realize o cadastro no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), e comparecer com documento de identidade. Os endereços das unidades habilitadas no país estão disponíveis no site do Instituto Nacional de Câncer (Inca), que gerencia o Redome. 

    No hemocentro, será preciso preencher um cadastro com informações pessoais, e retirar uma pequena amostra de sangue. O material coletado será analisado por exame de histocompatibilidade (HLA), permitindo identificar características genéticas que serão cruzadas com as de pacientes que aguardam transplante. 

    Seguindo esses passos, você se torna um potencial doador não apenas para brasileiros, mas para qualquer pessoa ao redor do mundo que precise de um transplante de medula. Isso porque o registro nacional está ligado ao internacional. 

    Quando surgir um paciente com possível compatibilidade, o hemocentro irá te contatar para verificar se você realmente está disposto a fazer a doação e, caso a resposta seja positiva, será realizada uma triagem mais aprofundada para confirmar a compatibilidade e averiguar as suas condições de saúde. 

    E lembre-se: é importante deixar o cadastro sempre atualizado! Se você mudou de endereço ou telefone, avise o Redome para que os profissionais consigam entrar em contato com você rapidamente quando necessário. 

    Fontes: Celso Arrais, médico do Serviço de Hematologia e Transplante de Medula Óssea do Hospital Nove de Julho e Coordenador do Serviço de Transplante de Medula Óssea da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Vaneuza Funke, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Terapia Celular e Transplante de Medula Óssea (SBTMO) e hematologista chefe da Divisão de adultos do Serviço de Transplante de Medula Óssea da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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