Congresso de virologia debate doenças atuais
Realizado na Inglaterra, encontro teve participação de especialistas do mundo todo
Realizado entre os dias 7 e 10 de setembro, a 24 edição do Congresso Internacional da Sociedade Europeia de Virologia Clínica (ESCV 2022, em inglês) trouxe importantes conversas a respeito dos agentes infecciosos presentes na sociedade atualmente.
Neste artigo, você vai ler:
Quem acompanhou de perto todos os debates foi o virologista José Eduardo Levi, superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento de Novos Produtos da Dasa Genômica e pesquisador do Laboratório de Virologia do Instituto de Medicina Tropical da USP (Universidade de São Paulo).
Levi, que também coordena o GENOV, projeto científico de vigilância genômica das variantes do novo coronavírus (Sars-CoV-2), conta que o debate sobre agentes emergentes foi um dos pontos altos da programação, envolvendo conversas importantes sobre doenças como varíola dos macacos, dengue e covid-19.
Sobre o novo coronavírus, aliás, Levi afirma que um novo estudo apresentado durante a conferência mostrou com mais clareza a origem do vírus. “A pesquisa colocou uma pedra sobre as teorias da conspiração”, acredita. “Não há dúvidas de que a origem dele é mesmo animal.”
Prêmio Nobel e preocupação com a pólio
O especialista da Dasa Genômica conta ainda que outro destaque do evento foi a palestra de Stanley Prusiner, vencedor do Prêmio Nobel em 1997 por sua pesquisa a respeito de proteínas (as “príons”) que, quando modificadas, poderiam causar doenças neurológicas em animais e humanos – as chamadas “doenças priônicas”, como a doença de Creutzfeldt-Jakob, mais conhecida como “mal da vaca louca”.
Embora sejam doenças consideradas raras, elas ainda causam preocupação tanto pela capacidade em “pular” de espécies animais para os seres humanos como também pela sua ocorrência em rebanhos que têm um papel importante na economia mundial.
Por fim, outro debate apontado por Levi como bastante importante – e preocupante – foi a questão do retorno da poliomielite em países em que a doença estava controlada há décadas, como Estados Unidos e Israel.
+ Saiba mais: Risco de retorno da pólio preocupa especialistas
A aula foi ministrada por Aidan O’Leary, diretor para erradicação da pólio da OMS (Organização Mundial da Saúde). De acordo com a apresentação, hoje, além do vírus selvagem, que ainda circula no Paquistão e Afeganistão, a preocupação é com o vírus vacinal – que foi atenuado para ser usado nos imunizantes aplicados via oral (a famosa “gotinha”).
De acordo com Levi, é justamente esse segundo tipo – que já é encontrado no esgoto por ser eliminado com as fezes de quem recebeu a vacina oral – que pode, em alguns casos, sofrer modificações e causar a doença em pessoas vulneráveis.
“O problema não é a vacina”, reforça o especialista. “Se todos estivessem imunizados corretamente, não haveria perigo. Mas a baixa cobertura vacinal no mundo todo faz com que a doença tenha, sim, o risco de voltar, inclusive no Brasil, de acordo com os dados da OMS”, lamenta.