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Endometriose: o que é, sintomas e tratamentos

Doença crônica é caracterizada por forte cólica menstrual

Por Tiemi OsatoPublicado em 01/06/2022, às 18:00 - Atualizado em 25/05/2023, às 14:08
endometrioseFoto: Shutterstock

O endométrio é um tecido que fica localizado dentro do útero. Todos os meses, ele descama e é expelido por meio da menstruação. No entanto, há alguns casos em que parte do tecido volta pelas trompas e acaba ficando na cavidade pélvica e abdominal. É esse o quadro conhecido como endometriose. 

Crônica, a condição tem alta prevalência  e acomete cerca de 7 milhões de brasileiras, conforme o Ministério da Saúde. A patologia tem também caráter inflamatório. Isso porque, mesmo fora do útero, o endométrio recebe estímulos hormonais em função do ciclo menstrual e sangra. O resultado consiste em uma reação inflamatória que, por sua vez, gera dor nas pacientes. 

Embora seja mais comum a endometriose afetar órgãos das regiões pélvica e abdominal, como intestino e bexiga, existem casos mais raros com manifestações, por exemplo, no coração, na córnea e no pulmão. 

“É uma doença mais prevalente na pelve, mas que pode acometer qualquer órgão do corpo”, diz Thiago Borges, cirurgião e coordenador do Serviço Especializado em Endometriose do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), no Rio de Janeiro. 

O que causa a endometriose?

Esta é uma pergunta que ainda está em estudo. Não há consenso dentro da comunidade médica quanto à origem do quadro, que é multifatorial. O que se sabe é que prematuridade, baixo peso ao nascer e menarca precoce (menstruar muito cedo, antes dos 12 anos) são os maiores fatores de risco para endometriose. 

Os médicos reconhecem também a importância da genética e, mais especificamente, da epigenética no assunto. “É aquilo que a mulher faz durante a vida e que pode causar alterações genéticas”, explica Borges. “É o caso da alimentação. Um grande fator de risco é a ingestão aumentada de carne vermelha”, exemplifica. 

Quais são os sintomas da endometriose?

O sinal mais característico da doença  é a cólica forte durante a menstruação. Este sintoma pode vir acompanhado de distensão abdominal e dor em outros momentos, como na relação sexual com penetração, ao urinar e ao evacuar. 

“O principal alerta é a intensidade da dor pélvica: muito forte, todos os meses e, principalmente, relacionada à menstruação. Pode acontecer fora desse período, mas durante a menstruação se intensifica”, afirma Borges. 

Outros indícios mais atípicos da endometriose incluem dor lombar ao longo do período pré-menstrual ou menstrual, no ombro e no diafragma. 

Como é feito o diagnóstico de endometriose?

Atentar-se aos sintomas e comparecer a consultas ginecológicas rotineiras são dois passos fundamentais. Em algumas situações, é possível que uma boa anamnese (conversa do médico com o paciente para entender queixas, histórico familiar e informações pessoais) e um exame físico bem feito direcionem o especialista para um diagnóstico. 

A partir da suspeita clínica, recorre-se a exames de imagem para confirmar o quadro de endometriose e obter mais detalhes, como a extensão da doença. Os métodos mais utilizados são a ressonância magnética e o ultrassom com preparo intestinal. 

Foto: Shutterstock

“A doença pode ter muitas apresentações”, observa Manoel Orlando, coordenador do Setor de Diagnóstico por Imagem da Pelve Feminina do Alta Excelência Diagnóstica, de São Paulo. “Desde pequenas manchas e pontinhos vermelhos no peritônio (membrana que reveste o interior do abdome) até grandes cistos e lesões”, constata. 

Além disso, vale dizer que não há correlação entre sintomas e a extensão da doença. Às vezes lesões pequenas podem causar muita dor, enquanto lesões grandes podem gerar poucos sintomas. E, dependendo do caso, pode haver influência da pílula anticoncepcional, que inibe sintomas. 

Orlando destaca ainda a importância de escolher instituições especializadas para a realização dos exames. “Assim como você deve ir a um ginecologista especializado em endometriose, você deve ir a um centro de diagnóstico que faça ultrassom e ressonância com protocolo específico para endometriose”, ressalta. “Em um centro super especializado, você só vai deixar de ver lesões muito pequenas e superficiais, de 1 ou 2 milímetros”, comenta. 

E não custa lembrar: diagnóstico precoce envolve tratamento precoce e, portanto, uma melhor qualidade de vida. 

É possível engravidar com endometriose?

“Nem toda paciente que tem endometriose vai ter infertilidade, mas a maioria das pacientes com infertilidade podem ter endometriose”, esclarece Thiago Borges. 

A endometriose pode danificar a trompa, o útero e os ovários. E os cistos de endometriose, chamados de endometriomas, conseguem afetar tanto a quantidade como a qualidade dos folículos ovarianos da mulher. Outra adversidade é a contração do útero causada pela inflamação crônica da pele.  

Por isso algumas mulheres são submetidas a um procedimento cirúrgico antes de engravidar, e outras — que têm uma endometriose mais grave — precisam recorrer à fertilização in vitro. “Mas cada caso tem que ser investigado. Às vezes existem outras causas, e o parceiro também tem que ser examinado”, lembra o médico.  

Então, apesar de uma parcela das pacientes apresentar um quadro de infertilidade conjugal associado à endometriose, a maior parte das mulheres conseguem engravidar (mesmo que encontrem dificuldades nesse processo). 

Vale também esclarecer uma dúvida comum: a gravidez não cura a endometriose. O que pode acontecer é um cessar dos sintomas devido à mudança hormonal — e, particularmente, o aumento da progesterona e a diminuição do estrogênio. 

“A paciente tem essa falsa sensação de que está curada, mas ela deve lembrar que, depois da gestação, tem que voltar ao tratamento, que é de uma doença crônica”, alerta Borges. 

Quais são os tratamentos para endometriose?

Como dito antes, atualmente, a endometriose é uma doença para a qual não há cura. Cada caso deve ser avaliado de forma individualizada, levando em consideração o tipo e o tamanho da lesão e as consequências para a paciente, além do perfil da mulher. 

Uma das opções consiste no tratamento clínico medicamentoso. Seu principal objetivo é aliviar a dor e reduzir os sintomas. Esse caminho, porém, não elimina os focos de endometriose — o que não é obrigatoriamente um problema.  

Uma segunda alternativa é a cirurgia, mas que, na maioria das vezes, não é necessária. “Apenas de 15% a 20% das pacientes vão precisar operar”, diz Thiago Borges. A intervenção costuma se dar pela videolaparoscopia e é indicada quando o tratamento clínico falha, ou então quando a lesão compromete a qualidade de vida da mulher. 

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