Parkinson: além dos medicamentos, terapias com ultrassom e marca-passos cerebrais controlam sintomas
Pesquisas com células-tronco e imunossupressores se mostram promissoras para frear a progressão da doença, que afeta mais de 200 mil brasileiros
A doença de Parkinson é a condição neurodegenerativa que mais cresce no mundo, atingindo hoje cerca de 10 milhões de pessoas. E as projeções indicam que esse número pode dobrar até 2050. O aumento está ligado ao envelhecimento da população, mas também a fatores externos.
Neste artigo, você vai ler:
A condição, marcada pela perda progressiva de neurônios, desafia a medicina, que avança em ritmo acelerado para oferecer novas formas de diagnóstico e tratamento.
Parkinson: o que é?
A doença de Parkinson é uma enfermidade neurológica, crônica e progressiva que afeta o sistema nervoso central. Sua principal causa é a degeneração e morte de células nervosas (neurônios) localizadas em uma área do cérebro chamada substância negra.
Esses neurônios são os responsáveis pela produção de dopamina, um neurotransmissor que atua no controle e coordenação dos movimentos do corpo. Com a morte dessas células, os níveis de dopamina diminuem, causando, portanto, uma falha na comunicação entre os neurônios.
Essa falha na comunicação causa sintomas motores e não motores característicos da doença, que se manifestam gradualmente e tendem a piorar com o tempo.
Parkinson pode ser hereditário?
Na maioria dos casos, a causa exata da doença de Parkinson é desconhecida. No entanto, a genética pode desempenhar um papel importante. Estima-se que entre 10% e 25% das pessoas com a doença possuem parentes que também foram diagnosticados, o que sugere uma predisposição familiar.
Pesquisadores já identificaram mutações em genes específicos, como o LRRK2 e o GBA, que podem aumentar o risco de desenvolver a doença. Essas mutações são mais comuns em casos de início precoce (antes dos 40 ou 50 anos) ou quando há um forte histórico familiar.
Para investigar essa ligação, existem exames genéticos específicos, como o Painel NGS Para Doença De Parkinson De Início Precoce, que analisa um conjunto de genes associados à condição.
Mas ter uma dessas variações genéticas não quer dizer que a pessoa desenvolverá a doença. Trata-se de um fator de risco. A condição está atrelada a uma complexa interação entre a predisposição genética e fatores ambientais.
Vale ainda mencionar que os homens têm maior probabilidade de desenvolver a doença, e que a idade também é um fator de risco. A maioria dos pacientes tem mais de 60 anos quando desenvolve o quadro.
É possível prevenir o Parkinson?
Até o momento, não existe um método comprovadamente eficaz para prevenir a doença de Parkinson. Mas é possível gerenciar e reduzir alguns dos fatores de risco conhecidos.
Pesquisas apontam que a exposição a agentes ambientais tóxicos, como poluição do ar, solventes e, principalmente, herbicidas e pesticidas, pode aumentar a probabilidade de desenvolver a doença.
Evitar esses agentes tóxicos depende de políticas públicas, ou seja, da criação de políticas ambientais para controle e redução da exposição da população a esses agentes. Mas nós também podemos fazer a nossa parte. Como? Cuidando melhor da gente.
E isso incluir adotar um estilo de vida mais saudável com a prática regular de atividades físicas e uma dieta nutritiva rica em fibras e antioxidantes. Ou seja, que priorize alimentos integrais e in natura.
Sintomas de Parkinson
Os sintomas do Parkinson são divididos em duas categorias principais: motores e não motores.
Sintomas motores
Dentre os sintomas motores, destacam-se:
- Lentidão de movimentos (bradicinesia): o sintoma está presente em todos os pacientes. Tarefas simples, como abotoar uma camisa ou levantar-se de uma cadeira, tornam-se mais lentas e difíceis.
- Rigidez muscular: os músculos ficam contraídos e enrijecidos, mesmo em repouso, o que pode causar dor e limitar a amplitude dos movimentos.
- Tremores de repouso: é o sintoma mais conhecido, embora não afete todos os pacientes, mas sim cerca de 70%. O tremor tipicamente começa em uma das mãos, com um movimento característico de “contar moedas”, e diminui durante o movimento voluntário.
- Dificuldade para manter o equilíbrio, o que leva a uma postura curvada e a um maior risco de quedas, geralmente em fases mais avançadas.
A doença também pode causar alterações na escrita, que se torna pequena e tremida (micrografia), diminuição da expressão facial (“rosto em máscara”) e redução do balanço dos braços ao caminhar.
Sintomas não motores
Muitas vezes, esses sintomas surgem anos antes dos problemas motores e têm um grande impacto na qualidade de vida:
- Alterações do olfato: a perda ou diminuição da capacidade de sentir cheiros (anosmia) é um dos sinais precoces mais comuns.
- Distúrbios do sono: insônia, sonolência diurna e o Transtorno Comportamental do Sono REM (em que a pessoa “atua” em seus sonhos) são frequentes.
- Problemas gastrointestinais: a constipação intestinal é muito comum, causada pela lentidão do trânsito no intestino.
- Sintomas psiquiátricos e cognitivos: depressão e ansiedade podem acompanhar a doença. Com a progressão, podem ocorrer problemas de memória e, em cerca de um terço dos casos, um quadro de demência.
Estágios do Parkinson
Os estágios da Doença de Parkinson, baseados na escala de Hoehn & Yahr de 1967, são os descritos a seguir.
Estágio 1
Sintomas leves que geralmente não atrapalham as atividades diárias. Tremores e outros sintomas de movimento ocorrem apenas em um lado do corpo. Podem surgir mudanças na postura, caminhada e expressões faciais.
Estágio 2
Os sintomas começam a piorar. Tremores, rigidez e outros sintomas de movimento afetam ambos os lados do corpo ou a linha média (como pescoço e tronco). Problemas na caminhada e na postura podem ser visíveis. A pessoa consegue viver sozinha, mas as tarefas diárias são mais difíceis e demoradas.
Estágio 3
Neste estágio intermediário, a perda de equilíbrio (como instabilidade ao girar ou ao ser empurrado de pé) é a característica principal. Quedas são mais comuns. Os sintomas motores continuam a piorar.
Funcionalmente, a pessoa está frequentemente um pouco restrita em suas atividades diárias, mas ainda é fisicamente capaz de levar uma vida independente. A deficiência é leve a moderada neste estágio.
Estágio 4
Neste ponto, os sintomas estão totalmente desenvolvidos e são gravemente incapacitantes. A pessoa ainda consegue andar e ficar em pé sem assistência, mas pode precisar de bengala ou andador para segurança. Ela precisa de ajuda significativa para as atividades do dia a dia e não consegue mais viver sozinha.
Estágio 5
Este é o estágio mais avançado e debilitante. A rigidez nas pernas pode tornar impossível ficar em pé ou andar. A pessoa fica acamada ou em uma cadeira de rodas, a menos que seja auxiliada. É necessário cuidado 24 horas por dia para todas as atividades.
Qual médico procurar?
O diagnóstico e o tratamento da doença de Parkinson devem ser conduzidos por um médico neurologista. Este especialista pode identificar os sinais clínicos da doença, diferenciá-la de outras condições com sintomas semelhantes (como parkinsonismo e a demência frontotemporal) e indicar a melhor abordagem terapêutica para cada paciente.
Em casos em que o tratamento cirúrgico é uma alternativa, um neurocirurgião funcional também fará parte da equipe de cuidados.
Frequentemente outros profissionais de saúde não médicos podem auxiliar no tratamento, especialmente fisioterapeutas, fonoaudiólogos e nutricionistas.
Exames indicados
O diagnóstico da doença de Parkinson é fundamentalmente clínico. O neurologista baseia seu diagnóstico no histórico do paciente (relato detalhado dos sintomas e de quando eles começaram), no exame neurológico (avaliação dos sinais motores, como tremores, rigidez e lentidão) e na resposta ao medicamento Levodopa.
Se depois que o paciente usar o Levodopa, houver uma melhora significativa dos sintomas, o médico tem um forte indicativo de que se trata de doença de Parkinson.
Exames complementares podem ser solicitados para excluir outras condições. Para casos específicos, principalmente de início precoce ou com forte histórico familiar, o Painel NGS Para Doença De Parkinson De Início Precoce pode ser utilizado para identificar mutações genéticas associadas à doença.
Formas de tratamento para o Parkinson
Embora a doença de Parkinson ainda não tenha cura, existem diversas formas de tratamento focadas no controle dos sintomas, na melhora da qualidade de vida e na manutenção da autonomia do paciente pelo maior tempo possível.
Tratamento medicamentoso
É a base do tratamento. O principal medicamento é a levodopa, uma substância que o cérebro converte em dopamina (que precisa ser reposta nesses pacientes). Geralmente, ela é combinada com a carbidopa para aumentar sua eficácia e reduzir efeitos colaterais. Outras classes de medicamentos, como agonistas dopaminérgicos e inibidores da MAO-B, também podem ser utilizadas, sozinhas ou em combinação.
Terapias cirúrgicas
Para pacientes em fases mais avançadas, cujos sintomas não são mais bem controlados pelos medicamentos ou que sofrem com efeitos colaterais graves, a cirurgia pode ser uma opção. E as principais são:
- Estimulação cerebral profunda (DBS): conhecido como “marca-passo cerebral”, este procedimento envolve o implante de eletrodos em áreas específicas do cérebro. Esses eletrodos, conectados a um gerador implantado no peito, emitem pulsos elétricos que ajudam a modular a atividade cerebral e a controlar os sintomas.
- Ultrassom focado de alta intensidade (HIFU): uma tecnologia mais recente e não invasiva que utiliza ondas de ultrassom guiadas por ressonância magnética para criar uma pequena lesão em uma área milimétrica do cérebro responsável pelo tremor, controlando-o de forma imediata em até 70% dos casos.
Pesquisas e perspectivas em tratamento
A ciência segue buscando novas soluções e algumas pesquisas promissoras em andamento são:
- Terapia com células-tronco: estudos recentes mostraram segurança e resultados encorajadores no transplante de precursores de neurônios produtores de dopamina.
- Imunoterapia: uma nova frente de pesquisa investiga o papel da inflamação cerebral na progressão da doença, testando medicamentos imunossupressores para retardar o avanço dos danos.
- Cannabis medicinal: embora as evidências ainda sejam limitadas, a cannabis medicinal tem sido explorada para ajudar no controle de sintomas como dor, alterações de humor e distúrbios do sono.
Fonte: Dr. Renato Hoffmann – Neurorradiologista