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    Memória: como funciona e como podemos melhorá-la

    Exercícios físicos e mentais podem favorecer a capacidade de memória

    Por Tiemi OsatoPublicado em 13/12/2022, às 16:21 - Atualizado em 25/04/2023, às 10:26
    Imagem: Shutterstock

    Tudo que você escuta, enxerga, toca, lê e sente acaba sendo captado pelo cérebro. Algumas dessas coisas são armazenadas por meros segundos, enquanto outras ficam guardadas por anos. Independentemente do tempo, estamos falando da capacidade de memória.

    A memória é um processo de aquisição, conservação e evocação de uma informação”, explica Juliana Luchin, médica neurologista do Hospital Santa Paula e especialista em neurologia da cognição. “As memórias são armazenadas em forma de conexões neuronais em redes e estruturas cerebrais”, descreve.

    E isso acontece o tempo inteiro. Estamos constantemente formando memórias, inclusive desde pequenos. Pode ser até difícil lembrar de fatos da nossa infância ou adolescência, mas as memórias foram, sim, consolidadas.

    “Só que, conforme ficamos mais velhos, torna-se mais difícil resgatar memórias antigas”, observa Caio Lima, neurologista do Hospital Santa Paula e especialista em cognição e demências. “Elas estão em uma área cortical mais profunda e mais difícil de acessar”, acrescenta. Ou seja, é como se as memórias fossem “afundando” no nosso cérebro com o tempo.

    Memória de longo e curto prazo

    A memória pode ser classificada em diferentes tipos. Dois bastante conhecidos são a memória de longo prazo e a memória de curto prazo.

    A memória de curto prazo é a que armazena informações por minutos ou horas. Ela é válida para situações como: anotar um número de telefone que alguém está dizendo, gravar um recado rápido que precisa ser repassado para outra pessoa e lembrar de alguns itens que serão comprados no mercado.

    Esse processo se concentra sobretudo numa área do cérebro chamada de lobo frontal, que vai reter as informações por um período e depois irá perdê-las. E é o lobo frontal que seleciona as memórias mais importantes para serem gravadas no lobo temporal – mais especificamente, no hipocampo.

    O hipocampo é o “baú” que armazena memórias de longo prazo. É lá que ficam informações que você aprendeu quando era criança e hoje já são automáticas – por exemplo, identificar a cor de um objeto ou ver as horas em um relógio de ponteiro. Também é no hipocampo que ficam guardados episódios marcantes da vida de cada um.

    O que pode causar perda de memória?

    Primeiro, é importante dizer que esquecimentos pequenos relacionados à rotina podem ser resultado de desatenção, e não necessariamente indicam algum problema neurológico.

    “O esquecimento que leva a pensar em patologias relacionadas à degeneração é o esquecimento progressivo que impacta na funcionalidade do indivíduo no dia a dia”, especifica Lima.

    Ao se intensificar com o tempo, a perda de memória impede que a pessoa trabalhe adequadamente, pague as contas com regularidade ou tome os remédios da forma certa, por exemplo. Isso acontece em pacientes com Alzheimer, a doença degenerativa mais comum no Brasil.

    Outros quadros que podem interferir na memória são: ansiedade, depressão, deficiência de vitaminas, anemias, doença de Parkinson, AVC e Covid-19.

    A idade também pode trazer consequências para a memória. “No envelhecimento saudável, é principalmente a velocidade do processamento da memória (seja para obtenção ou evocação dela) que será comprometida”, destaca Luchin.

    Vale ressaltar que essas condições não atingem as mesmas áreas do cérebro – portanto, os efeitos de perda de memória são distintos. A depender da patologia, as complicações podem tender mais para o lobo frontal (mais relacionado à memória de curto prazo) ou o lobo temporal (mais relacionado à memória de longo prazo).

    Perda de memória pós Covid-19

    Não é raro ouvir que alguém contraiu Covid-19 e acabou ficando mais esquecido. Embora vários estudos ainda estejam sendo conduzidos, os pesquisadores já têm algumas informações sobre o impacto do coronavírus no nosso cérebro.

    Sabe-se, por exemplo, que esse dano é causado por diversos mecanismos. “A Covid-19 inflama os neurônios, impacta a comunicação nas sinapses interneuronais e inflama os vasos do cérebro, o que leva a um mau funcionamento cerebral”, explica Lima.

    Os médicos reconhecem também que é o lobo frontal o mais afetado pela doença. Essa é a região responsável pela memória de curto prazo, pelo raciocínio, pela capacidade de manter a atenção e pela velocidade com a qual nós processamos as coisas. Todas essas funções podem ser comprometidas, em algum grau, em pacientes que tiveram Covid-19.

    Como melhorar a memória

    Imagem: Shutterstock

    “A melhor coisa que a gente pode fazer na rotina para melhorar a memória é, de fato, ter uma rotina”, afirma Lima. “Estabelecer uma rotina é muito positivo para o cérebro e oferece conforto mental até no caso de pacientes que têm, por exemplo, Alzheimer”, complementa.

    E é bom inserir nessa rotina dois tipos de exercícios: os físicos e os mentais. A realização de atividades físicas libera uma série de endorfinas que são benéficas para o cérebro e auxiliam na retenção de novas memórias e na neuroplasticidade.

    Neuroplasticidade, vale esclarecer, é o termo que faz referência à capacidade dos neurônios de criarem novas conexões ou de fortalecerem as já existentes.

    “É a capacidade do cérebro de se reorganizar e se adaptar a um novo estímulo, desenvolver um novo aprendizado ou se ajustar para compensar prejuízos no funcionamento”, detalha Luchin.

    Esse processo é favorecido por exercícios mentais. Fazer cálculos ou palavras cruzadas, estudar com frequência e aprender uma nova língua são formas de exercitar o cérebro e melhorar a memória.

    Vitaminas e remédios para melhorar a memória

    Existem, sim, vitaminas e remédios que podem ajudar a melhorar a memória. No entanto, eles só devem ser tomados após avaliação e recomendação específica de um médico neurologista.

    “As vitaminas do complexo B são as mais envolvidas com a memória”, diz Lima. “Mas não se indica de maneira rotineira a administração de vitamina para pessoas que não estejam desnutridas. A reposição cabe a pacientes que tenham alguma deficiência”, reforça o neurologista.

    A mesma lógica se aplica aos remédios: eles são prescritos somente nos casos em que um especialista julgar necessário. “Temos medicamentos que tratam alterações cognitivas e de memória, porém que atuam apenas quando já existe um dano e tentam controlá-lo”, esclarece Luchin.

    São medicações especificamente voltadas para quadros leves, moderados e graves, que ajudam a potencializar a comunicação entre os neurônios prejudicados por alguma doença neurodegenerativa.

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