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    Dia Mundial da Prematuridade

    Condição é mais comum do que se imagina e pode deixar sequelas ou até mesmo levar à morte

    Por Raquel RibeiroPublicado em 17/11/2022, às 16:59 - Atualizado em 25/07/2023, às 09:58
    Foto: Shutterstock

    O dia 17 de novembro é conhecido como o Dia Mundial da Prematuridade. E neste ano, a ONG Prematuridade.com, que une pais, familiares, amigos e cuidadores de bebês prematuros, escolheu o tema: “Garanta o contato pele a pele com os pais desde o momento do nascimento”.

    A prematuridade ocorre quando o bebê nasce antes de 37 semanas de idade gestacional, ou seja, antes de nove meses. Este é um problema de saúde pública mais comum do que se imagina, especialmente em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, devido à dificuldade de acesso de muitas pessoas aos serviços de saúde de qualidade.

    “Essa é a principal causa de doenças e mortalidade neonatal, resultando em 75 a 95% de todos os casos de falecimentos de bebês prematuros não associados a malformações congênitas”, afirma Ana Amélia Meneses Fialho Moreira, neonatologista da Maternidade Brasília.

    Estima-se que 15 milhões de bebês nasçam prematuros  no mundo por ano, o que corresponde a um em cada 10 recém-nascidos, de acordo com o relatório global do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Só no Brasil são 340 nascimentos antes da hora por ano. Isso corresponde a 931 por dia ou 6 prematuros a cada 10 anos.

    É muita coisa, não é mesmo? Mas apesar da recorrência, o parto prematuro, e a prematuridade como um todo, ainda é um assunto que envolve muitas dúvidas.

    O tema da campanha deste ano “Garanta o contato pele a pele com os pais desde o momento do nascimento” carrega uma informação preciosa sobre o assunto, pois o contato pele a pele desde o parto traz uma série de benefícios para as mães e seus filhos. 

    Essa aproximação aumenta os níveis de ocitocina de ambos, um hormônio extremamente importante relacionado ao vínculo materno; além de diminuir a quantidade de cortisol, que, por sua vez, está ligado ao estresse, comum nessas situações.

    Por isso, hoje vamos esclarecer uma série de questionamentos e trazer informações valiosas sobre o assunto, como essa mencionada no tema da campanha. Acompanhe!

    Quando um parto é considerado prematuro?

    O nascimento pré-termo, popularmente conhecido como prematuro, é aquele que acontece antes dos nove meses de gestação, que é o período em que o bebê está pronto para nascer.

    Existe também a classificação de prematuro extremo, que é aquele que nasce antes de 28 semanas de gestação; moderado, entre 28 e 31 semanas; e tardio (também chamado de leve), quando o nascimento ocorre entre 32 e 36 semanas”, explica Ana Amélia.

    Fonte: OMS

    A neonatologista ressalta que esses bebês têm mais riscos de adoecerem e morrerem em consequência do desenvolvimento incompleto dos órgãos, além de estarem mais suscetíveis a infecções. Esses fatores ainda pioram por conta da constante manipulação que precisam ser expostos e pelo tempo que precisam ficar nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatais, chegando até quatro meses, nos casos dos prematuros extremos.

    Causas

    O trabalho de parto prematuro pode acontecer por diversas causas como:

    • Infecção materna;
    • Descolamento prematuro de placenta;
    • Gemelaridade (quando existe mais de um feto);
    • Causas idiopáticas: ou seja, nas quais não se consegue atribuir um motivo para o parto prematuro;
    • Outras causas como hipertensão de difícil controle, que pode indicar a necessidade de interrupção da gestação prematuramente. 

    “A causa mais comum do parto prematuro é a infecção urinária. Na gestação, ela geralmente apresenta sintomas atípicos, raramente provocando dor e ardor ao urinar. O sintoma mais clássico é a dor na parte baixa do ventre”, explica Aline Ambrósio, ginecologista e obstetra do Saúde Minuto.

    Outras infecções também podem causar parto prematuro, principalmente aquelas que comprometem o estado geral da gestante, como febre alta. Além disso, o corrimento genital, que pode ser a manifestação de doenças como a vaginose bacteriana e as doenças sexualmente transmissíveis, também pode contribuir para o parto prematuro.

    Outra causa comum é a chamada insuficiência istmo-cervical, quando o colo uterino é curto e tem baixa resistência para suportar o peso do conteúdo uterino.

    Nesse sentido, o acompanhamento pré-natal se faz fundamental para analisar possibilidades de intervenção médica especializada sempre que possível, diminuindo riscos e até mesmo evitando a morte.

    Confira outros fatores associados à prematuridade:

    • Idade: grávidas com menos de 20 anos ou com mais de 40;
    • Parto prematuro prévio;
    • Estado nutricional: com a desnutrição materna, o feto não consegue receber o aporte ideal de nutrientes para se desenvolver;
    • Exposição a substâncias tóxicas: como benzeno e partículas de fumaça;
    • Tabagismo: além da nicotina, outras substâncias do cigarro podem trazer inúmeros prejuízos à gravidez;
    • Altura: estatura materna inferior a 1,52 metros;
    • Sangramento vaginal: quando ocorre no 2º trimestre de gestação;
    • Atividade uterina: aumento das contrações antes da 29ª semana de gestação;
    • Peso inadequado: estar com sobrepeso aumenta as chances do parto prematuro;
    • Infecções urinárias: podem provocar contrações no útero;
    • Ausência de pré-natal: os cuidados nesse período são essenciais para prevenção e avaliação de riscos;
    • Falta de higiene bucal: mães com doença periodontal, como gengivite, podem ter filhos com risco aumentado de prematuridade.

    Diagnóstico

    O diagnóstico da prematuridade está aliado à prevenção. Nesse sentido, a avaliação ultrassonográfica longitudinal do colo uterino via transvaginal é um instrumento oportuno que pode ajudar a identificar o risco de um parto prematuro. 

    Geralmente, o exame é realizado entre 20 e 24 semanas de gestação, tendo a mulher fatores de risco ou não em sua história materna. Com ele, é analisado o tamanho do colo uterino e outras características estruturais.

    A medida do colo uterino abaixo de 25 mm foi identificada em 10% das gestantes e representou 40% dos partos prematuros abaixo de 34 semanas. Sendo assim, esse valor é usado como referência para identificar casos de maior risco de prematuridade.

    Outro aspecto avaliado é a presença de pequenas partículas próximas ao colo uterino chamadas de Sludge. Este sinal pode estar associado à infecção intra-amniótica, que aumenta o risco de complicações obstétricas e problemas no feto e neonatal.

    Contudo, somente o médico é capaz de avaliar cada caso individualmente de acordo com o histórico clínico de cada pessoa. Portanto, consulte-o!

    Tratamento

    Com os avanços da Medicina e, em especial, do diagnóstico e do tratamento do recém-nascido na UTI Neonatal, têm sido possível diminuir cada vez mais os dados da mortalidade de prematuros. Portanto, o tratamento adequado é essencial para diminuir os riscos e melhorar a qualidade de vida desses bebês, especialmente durante os primeiros meses de vida.

    Bebês prematuros podem não ter o reflexo de sucção desenvolvido e precisam receber suporte nutricional por outras vias. Isso é feito ainda na fase de internação.

    Além disso, durante esse período, uma equipe especializada irá realizar uma série de cuidados a fim de atingir alguns pré-requisitos que vão garantir a segurança desse bebê.

    • Peso mínimo:  o Atendimento Humanizado ao Recém-Nascido de Baixo Peso do Ministério da Saúde recomenda para uma alta mais segura um peso acima de 1.900 gramas, mas pode haver exceções com peso mínimo de 1.600 gramas;
    • Temperatura corporal: o bebê precisa ser capaz de manter a temperatura corporal normal em um berço comum;
    • Ausência de apneia: há pelo menos cinco dias antes da alta;
    • Tolerância alimentar: por via oral, sem apresentar engasgo ou dificuldade respiratória.

    Cuidados após o parto prematuro

    Após a alta da UTI, tanto a mãe quanto o bebê ainda precisarão seguir outros cuidados:

    Mãe

    Não é fácil o período pós-parto para a mãe que deu à luz a um prematuro. Afinal, muitos são os casos dos bebês que ficam internados por mais de dois meses, o que leva a pessoa a ter uma rotina de terapia intensiva de forma integral. 

    Por isso, é necessário um cuidado especial e redobrado com essa mãe com o apoio de psicólogos e/ou de uma terapia ocupacional

    Bebê

    Os procedimentos e orientações de uma rotina com um prematuro irá depender da necessidade de cada bebê. No entanto, é fundamental que os responsáveis estejam habilitados e treinados para realizar o cuidado. Os principais deles são:

    • Dar banho;
    • Realizar a troca de fraldas;
    • Realizar lavagem adequada das roupas;
    • Aprender amamentar e complementar com copinho (quando indicado);
    • Fazer a administração de medicamentos por via oral;
    • Saber medir a temperatura corporal do bebê;
    • Realizar a obstrução nasal;
    • Identificar situações em que o bebê não está bem, como quando apresenta palidez, tremores ou convulsões etc.

    A seguir, respondemos algumas das principais dúvidas que as pessoas têm em relação ao parto prematuro:

    Qual o mínimo de semanas que um bebê pode nascer?

    24 semanas de idade gestacional é o limite da viabilidade, ou seja, o nascimento não é possível antes desse período. “Muitos berçários que atendem alta complexidade mantêm vivos recém-nascidos mesmo antes da  24ª semana de gestação. Mas é necessário ter um treinamento adequado de toda a equipe para sustentar a vida extra-uterina tão precocemente”, ressalta a ginecologista e obstetra Aline Ambrósio.

    Quais os riscos de um parto prematuro? 

    Quanto menor é a idade gestacional, maior a chance de uma evolução desfavorável, seja de sequelas da prematuridade, internação prolongada ou até mesmo a morte”, alerta Patricia Moreno Romano, médica neonatologista, rotina médica da UTI neonatal do Complexo Hospitalar de Niterói.

    Quando o bebê nasce nessas condições, o que é feito?

    Os bebês nascidos prematuros recebem um atendimento diferenciado já na sala de parto. Muitas vezes precisam de algum tipo de suporte, sendo encaminhados a UTI neonatal. 

    Vale ressaltar que um bebê prematuro deve ser atendido por um pediatra e uma equipe treinada em reanimação neonatal para o pronto atendimento nos casos em que o bebê não apresenta boa vitalidade ao nascer. 

    Já os prematuros tardios, aqueles com idade entre 34 e 36 semanas, serão avaliados caso a caso quanto à necessidade ou não de internação na UTI. Todos eles devem ser acompanhados posteriormente por um pediatra que tenha essa visão de cuidados especiais com os prematuros, no caso, um neonatologista.

    Como reduzir as chances de ter um parto prematuro?

    Para reduzir as causas identificáveis de parto prematuro, é importante seguir todos os cuidados e realizar um pré-natal adequado e de qualidade, com avaliações clínicas, laboratoriais e ultrassonográficas. Além disso, que se tenha um tratamento eficaz e rápido quando necessário.

    Dessa forma, os fatores que levam à prematuridade podem ser prevenidos ou minimizados.

    Quais as principais condições de saúde que costumam afetar a vida de um prematuro?

    Existem algumas condições que a prematuridade pode  trazer para a vida do bebê como:

    • Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor: relacionados à possíveis hemorragias cranianas ou asfixia perinatal, sendo indicado a todos eles que façam Estimulação Precoce, um conjunto de ações que estimulam o bebê a ter experiências sensoriais e motoras. Esse trabalho é feito com uma equipe multidisciplinar como fisioterapeuta, fonoaudióloga e terapeuta ocupacional.
    • Problemas na visão e audição: como retinopatia da prematuridade, que é uma doença causada por conta da retina imatura dos prematuros, que pode levar a cegueira ou a graves sequelas visuais.. Podem ocorrer sequelas na audição e até surdez.
    • Doença metabólica óssea: condição que deixa os ossos dos prematuros mais frágeis por falta de cálcio e fósforo, associada a múltiplos fatores.
    • Broncodisplasia pulmonar: distúrbio pulmonar crônico causado pelo uso prolongado de um ventilador mecânico.
    • Anemia: é possível que seja causada pela perda de sangue do bebê durante o parto ou após diversos exames de laboratório. Nesse sentido, quando um prematuro fica com baixa hemoglobina no sangue, a medula óssea não consegue produzir novos glóbulos vermelhos de forma suficiente, causando assim a anemia.
    • Infecções na primeira infância: são mais susceptíveis devido à imaturidade do sistema imunológico.

    O que é amniorrexe prematura? Pode ocorrer apenas em nascimentos prematuros?

    A amniorrexe prematura é o rompimento da bolsa antes do início do trabalho de parto. “Pode ocorrer o que chamamos de pré-termo, ou seja, antes de 37 semanas de gestação, ou a termo, quando acontece após esse período”, explica Inajara Marinho, neonatologia da Maternidade Brasília. 

    O que é o deslocamento prematuro da placenta?

    É o que acontece quando há o descolamento placentário antes do nascimento do bebê. Em outras palavras, ocorre quando a placenta se desprende da parede do útero antes do parto. 

    “Trata-se de uma complicação grave da gestação, podendo levar mãe e bebê à óbito devido a sangramento excessivo e privação de oxigênio. Esses casos devem ser prontamente atendidos”, ressalta Inajara. 

    Quais são as características de um bebê prematuro?

    As características de um bebê prematuro irão depender de sua idade gestacional, além de outros fatores clínicos. De qualquer forma, costumam ter como características:

    • Cabeça proporcionalmente maior que o corpo;
    • Pouco cabelo;
    • Orelhas finas e moles;
    • Pele mais fina, brilhante, rosada e com veias visíveis, com pouco tecido gorduroso e, portanto, com aspecto de magros;
    • Apresentam mais dificuldade em manter o calor no corpo que os bebês a termo;
    • Atividade corporal limitada;
    • Poucos reflexos de sucção e deglutição (sugar e deglutir).
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