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    Surto de meningite em SP: o que você precisa saber

    Doença causada por bactéria pode deixar sequelas graves; vacinação é a melhor prevenção

    Por Danielle SanchesPublicado em 03/10/2022, às 15:20 - Atualizado em 25/05/2023, às 15:53
    Imagem: Shutterstock

    A cidade de São Paulo tem registrado um aumento de casos de meningite bacteriana (também chamada de meningite meningocócica) nas últimas semanas. É o terceiro surto desde o início do ano, somando mais de 50 casos em três bairros da zona leste do município. 

    Neste último, uma mulher de 42 anos morreu e entre os doentes está um bebê de dois meses. Mas, afinal, já era esperado o aumento da doença nessa época do ano – final do inverno e início da primavera, em que existem mesmo diversos patógenos que estão em circulação? 

    De acordo com Ligia Pierrotti, infectologista da Dasa e médica do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), não. 

    “O aumento na ocorrência dos casos está diretamente ligado à queda na cobertura vacinal”, alerta. De acordo com o DataSUS, a cobertura vacinal contra a meningite tipo C, a mais comum e prevalente no Brasil, está em 52% no âmbito nacional e apenas 42,5% na cidade de São Paulo. 

    Para se ter uma ideia, em 2015, esse número era de 98%. “O ideal para termos uma proteção efetiva é justamente estarmos acima dos 90% de cobertura, idealmente, acima dos 95%”, afirma a infectopediatra Maria Isabel de Moraes Pinto, consultora em vacinas da Dasa e professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). 

    + Saiba mais: Por que as vacinas salvam vidas?

    Continue a leitura para entender mais sobre a doença e as formas de prevenção. 

    O que é meningite?

    Meningite é a inflamação das meninges, membranas que recobrem o nosso cérebro e têm a função de proteger o órgão contra impactos, além de favorecer a circulação do líquor. 

    O líquor, por sua vez, é um líquido que ajuda a “limpar” o sistema nervoso de substâncias tóxicas e dos restos de processos que acontecem no nosso organismo. 

    Existem dois tipos de meningite: 

    • Viral: quando é causada por um vírus. Influenza, enterovírus, Epstein-Barr (causador da mononucleose) e até o novo coronavírus são agentes que podem provocar esse quadro, considerado mais leve e de evolução branda. 
    • Bacteriana: é considerada a versão mais grave da doença e é provocada por bactérias. As meningites bacterianas podem ser provocadas pelos sorotipos A, B, C (que é a mais prevalente hoje), W e Y. Pneumococos (bactérias causadoras de pneumonia) também podem provocar a doença. 

    A principal forma de transmissão é pela via respiratória (gotículas) que são enviadas no ar enquanto falamos, tossimos etc.

    Quais os principais sintomas de meningite meningocócica?

    Os sintomas mais comuns da meningite meningocócica são: 

    • Dor de cabeça que não passa nem com analgésicos;
    • Febre;
    • Rigidez na nuca (não consegue encostar o queixo no peito);
    • Náuseas e/ou vômitos;
    • Intolerância à luz;
    • Manchas avermelhadas ou arroxeadas na pele (nem sempre presentes).

    Em bebês e crianças pequenas, os sintomas inicialmente podem ser bastante inespecíficos, como irritabilidade, febre, vômitos e inapetência, além de prostração. 

    Como é feito o diagnóstico?

    Apenas um médico especialista está apto a realizar o exame diagnóstico, que inicialmente é clínico – ou seja, é realizado com base apenas na observação dos sintomas e do paciente. 

    Um dos testes realizados no consultório é justamente colocar o queixo do paciente no peito. Se ele apresentar dificuldades e a nuca estiver rígida, a suspeita da doença é maior. 

    A partir daí, é possível pedir um exame de líquor, em que uma punção é feita na região lombar para retirar um pouco do líquido espinhal para analisar suas células. Quando a meningite está instalada, há alteração nessa composição. 

    No caso da meningite bacteriana, a evolução dos sintomas costuma ser rápida, em questão de horas. “Por isso, é fundamental a busca por ajuda médica a partir do início dos sintomas suspeitos, já que o quadro clínico pode piorar em questão de horas”, alerta Pierrotti.

    Qual o tratamento para a meningite meningocócica? 

    O tratamento para a meningite meningocócica é realizado com o uso de antibióticos aplicados no hospital. Há ainda o uso de medicamentos para aliviar sintomas como febre e dores.

    O paciente também deve ficar isolado pois a doença é considerada altamente transmissível. 

    É importante dizer que, em casos graves, a meningite meningocócica pode provocar sequelas graves como perda da visão, sequelas neurológicas e até amputação de membros do corpo (a vascularização dessas regiões fica prejudicada, provocando a morte dos tecidos) – além de levar à morte

    É possível prevenir a meningite meningocócica?

    Sim. A melhor forma de prevenção é a vacinação, especialmente em crianças pequenas – que são um dos grupos mais vulneráveis e que podem apresentar complicações mais graves, especialmente as de até um ano – e os imunossuprimidos. 

    De acordo com Maria Isabel Pinto, a vacina contra o meningococo tipo C, mais prevalente atualmente e causador dos surtos atuais na capital paulista, está disponível na rede pública e faz parte do calendário nacional de vacinação. 

    “A vacina é aplicada em crianças aos 3 e 5 meses e depois um reforço aos 12 meses”, explica a especialista. 

    Entre os 11 e 14 anos, o SUS também aplica um reforço, dessa vez com a vacina ACWY (que previne contra os quatro sorotipos da doença). 

    + Saiba mais: Veja quais vacinas tomar até um ano de vida

    Já na rede privada de saúde, a vacina ACWY é aplicada desde o início do esquema vacinal. A aplicação é feita aos 3 e 5 meses, com reforços aos 12 meses e aos 5 anos, além de outro reforço no início da adolescência. 

    Na rede particular também é possível receber a vacina contra a meningite tipo B, que, de acordo com a SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), deve ser aplicada aos 3, 5 e 7 meses de vida; e depois um reforço entre os 12 e 15 meses.

    A infectopediatra reforça que as vacinas são seguras e devem ser aplicadas em todos os que estão aptos a recebê-las. “Elas estão disponíveis e são muito importantes para impedir o avanço de doenças potencialmente fatais”, afirma.

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    Por que vacinar adolescentes contra a meningite é importante?

    Vacinar os adolescentes é uma estratégia fundamental para barrar o avanço da doença – e que, infelizmente, poucos pais sabem. 

    “A bactéria costuma colonizar a garganta desses indivíduos e muitos são assintomáticos”, afirma Pierrotti. 

    “Como eles têm práticas sociais específicas, como estarem sempre juntos e com bastante contato físico, a chance de proliferação da bactéria é grande”, explica. 

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