Questões emocionais podem causar alergia?
Fatores psicológicos não podem causar reações alérgicas. Mas conseguem desencadeá-las ou agravá-las
Proteger nosso organismo não é uma tarefa fácil. A lógica por trás é tão complexa que, às vezes, acaba até acontecendo uma confusão: nosso sistema imunológico identifica algo que normalmente é inofensivo e desencadeia uma reação exagerada contra esse elemento. É assim que as alergias funcionam.
Neste artigo, você vai ler:
“Elas são sensibilidades aumentadas”, explica Regis de Albuquerque, médico alergologista da Clínica AMO. “O paciente com alergia reage de uma forma mais acentuada do que seria esperado para determinados agentes.”
Existem vários tipos de alergia, cada uma com seus processos específicos e concentrados em diferentes locais do organismo – como nariz, pulmões e pele.
As manifestações são diversas: espirro, nariz entupido, coceira no céu da boca, falta de ar, manchas no corpo, inchaço na pálpebra, queda de pressão… E a intensidade também varia, de sintomas mais leves aos mais graves.
Agora, deixa eu perguntar: você já ouviu a expressão “alergia emocional”? Ela é bastante utilizada por pessoas que se referem a reações alérgicas que aparentemente têm causa emocional. Só que, na verdade, esse termo não corresponde a nenhum diagnóstico médico.
“Não existe alergia emocional nem psicológica”, afirma Luis Felipe Ensina, médico especialista em Alergia e Imunologia Clínica e coordenador do Departamento Científico de Urticária da ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia). “A alergia é uma reação do sistema imunológico contra alguma coisa”, reforça.
Ela pode ser causada por um alimento, uma medicação, uma proteína presente no corpo de um cachorro ou gato, um ácaro que fica na poeira. Mas não por emoções.
Então, qual a relação entre emoções e alergias?
“O que se sabe muito bem e se vê na prática clínica é que fatores emocionais e psicológicos agravam alergias que já existem – como também agravam outras doenças”, diz Ensina.
Situações de estresse ou dificuldade emocional são capazes de piorar quadros de asma, dermatite atópica e urticária, por exemplo.
A medicina não entende, porém, por que exatamente isso ocorre. Os estudos ainda estão em andamento, e uma das hipóteses é de que existe uma comunicação entre os sistemas imunológico, neurológico e endócrino.
Fato é que questões emocionais podem, sim, agravar reações alérgicas. E, mais do que isso, podem desencadeá-las pela primeira vez.
Como controlar uma alergia ligada a questões emocionais?
O tratamento de uma alergia não passa só pelos sintomas, mas também pelo controle dos gatilhos – que podem ser vários: o próprio alérgeno (a substância que o sistema imunológico tenta combater), exercícios físicos, uso de medicamentos…
“É preciso avaliar onde o indivíduo vive e onde ele está inserido em termos econômicos, sociais e emocionais”, observa Albuquerque. “Se houver um gatilho emocional importante atuando e você só colocar medicações antialérgicas, pode ser que o paciente não melhore”, complementa.
E aí surge outro ponto: como identificar se os fatores psicológicos são os mais determinantes para aquela pessoa?
“É preciso tomar cuidado para não confundir com o inverso: a cronicidade de doenças alérgicas pode levar a alterações psíquicas”, alerta Ensina. “É comum ver pessoas com alergias de pele desenvolvendo quadros de ansiedade e depressão por causa da doença, o que piora o quadro clínico.”
O caminho, portanto, é conversar com o paciente, analisar a história clínica, elencar todos os possíveis elementos que podem contribuir para o agravamento da alergia e entender se ele viveu algo muito marcante do ponto de vista emocional.
Então, quando a carga emocional parece ser, de fato, bem significativa, o alergologista pode indicar um tratamento com psicólogo ou psiquiatra para melhor controle da alergia.