Amamentação: entenda os benefícios para a mãe e o bebê
O aleitamento materno proporciona benefícios tanto para a mãe quanto para o bebê, mas são vários os obstáculos enfrentados
Neste artigo, você vai ler:
Quando falamos em amamentação, é comum que a primeira imagem que venha à cabeça seja a de uma mulher sentada em uma poltrona, sorrindo, enquanto o bebê mama tranquilamente em seu seio.
Essa cena realmente é possível, mas o aleitamento materno, muitas vezes, precisa de trabalho e tempo para que seja tão natural como essa imagem do nosso imaginário coletivo.
Isso porque o ato de amamentar também precisa ser aprendido – pela mãe e pelo bebê. Infelizmente, é bastante comum que se fale sobre os benefícios da amamentação e quase nada das dificuldades e desafios dessa fase. Mas, tocar neste assunto delicado também é importante para incentivar a amamentação, tão importante nos primeiros meses da criança.
Pensando nisso, a OMS (Organização Mundial da Saúde) criou a Campanha Agosto Dourado, que simboliza o apoio ao aleitamento materno.
A recomendação da entidade é que o início da amamentação ocorra na primeira hora após o nascimento (conhecida como golden hour) e seja exclusiva até o bebê completar seis meses. Após esse período, o aleitamento materno deve seguir até pelo menos o segundo ano de vida da criança.
“Muitas lactantes encontram dificuldades, falta de informação e não têm rede de apoio. E aquelas que não conseguem amamentar precisam ser acolhidas e ter a certeza de que seu bebê está sendo bem alimentado e se desenvolvendo”, destaca Juliana Sobral, pediatra da Maternidade Brasília.
A seguir, você confere detalhes sobre a importância da amamentação, principais desafios e como se preparar, além de conferir alguns depoimentos.
Benefícios da amamentação
Talvez um dos maiores benefícios da amamentação seja a proteção que ela oferece ao bebê. Isso porque o leite materno contém anticorpos que protegem a criança de vírus e bactérias.
Quando a mãe está resfriada, por exemplo, os anticorpos que ela produz também são enviados ao leite materno para proteger o bebê. Esse mecanismo é tão sensível que o corpo da mãe consegue “sentir” (por meio de receptores localizados na mama) quando o bebê precisa de um reforço de anticorpos e atender a demanda em pouco tempo.
Essa proteção já começa logo depois do parto, quando os seios produzem um líquido espesso e amarelado chamado colostro. Ele contém todos os nutrientes que o bebê precisa nessa fase e tem uma superdose de anticorpos.
Outro benefício importante para o desenvolvimento do bebê é o reforço do vínculo afetivo, fundamental para o crescimento físico e emocional da criança.
“A amamentação é um dos momentos mais importantes do período pós-natal, aumentando o laço afetivo e transmitindo segurança ao bebê, além de oferecer um alimento completo”, destaca Pedro Cavalcante, pediatra especializado pelo Instituto da Criança da USP (Universidade de São Paulo) e membro da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
Benefícios da amamentação para o bebê
- Maior conexão com a mãe;
- Melhora a digestão e reduz as cólicas;
- Contribui com o desenvolvimento cerebral;
- Reduz alergias e aumenta a imunidade;
- Fortalece a arcada dentária.
Benefícios da amamentação para a mãe
- Diminui o sangramento no pós-parto;
- Acelera a perda de peso;
- Reduz o risco de câncer de mama, ovário e endométrio;
- Protege contra doenças cardiovasculares;
- Diminui o risco de depressão.
Dificuldade na hora de amamentar é comum
Como falamos antes, amamentar tem benefícios, mas nem sempre é algo simples ou intuitivo. São diversas barreiras, emocionais e físicas, que precisam ser superadas.
Para as mães de primeira viagem, por exemplo, a dor é bastante comum no início, enquanto não se consegue fazer a pega correta no seio – diferente do que muitas pensam, o certo é que o bebê abocanhe toda a aréola e não apenas o mamilo.
Além disso, outros problemas de saúde exigem mais esforço e dedicação das mulheres e podem, eventualmente, inviabilizar a amamentação.
Para Rossiclei de Souza Pinheiro, pediatra e diretora do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), é fundamental que desde a gestação a mulher receba informações dos profissionais de saúde sobre a importância da amamentação e como realizar a pega correta.
“As dificuldades vão acontecer, mas é importante lembrar que amamentar é uma medida de saúde, que protege tanto a mãe quanto o filho. E, independentemente do tipo de parto, amamentar logo após o nascimento é um direito que deve ser respeitado. Na maternidade é o momento de sanar algumas dúvidas e checar se o bebê está conseguindo mamar”, expõe.
A seguir, veja algumas situações que atrapalham o aleitamento materno:
Leite empedrado
Nos primeiros dias de amamentação, pode surgir o ingurgitamento mamário – o famoso leite empedrado. Nesses casos, há excesso de leite nas mamas, o que causa dor e inchaço.
Algumas mulheres ficam com as mamas muito distendidas, provocando desconfortos, febre e mal-estar. É uma condição que dificulta a pega do bebê e a saída do leite da mama.
É importante buscar ajuda médica para aliviar os sintomas. Geralmente, são indicadas massagens e compressas locais para contribuir com a liberação do leite. Também é importante receber orientação para fazer a pega correta.
Fissuras
Conhecido popularmente como bico do seio rachado, as fissuras mamárias são um tipo de rachadura nos mamilos. Geralmente, acontece nas primeiras semanas do bebê devido a pega incorreta durante a amamentação.
É fundamental se consultar com o médico e evitar receitas caseiras que podem piorar o problema. Atualmente, há tratamento com laserterapia, indicado para ajudar na cicatrização.
Algumas medidas como tomar sol nos mamilos, passar o leite materno na região, usar o sutiã correto são recomendadas.
Mastite
Trata-se de uma inflamação da mama que pode vir acompanhada de infecção. Acontece quando bactérias penetram na pele na presença de uma rachadura perto ou ao redor do mamilo. É comum aparecer após uma obstrução dos dutos de leite, que o transportam das glândulas mamárias para o mamilo.
A mastite pode ocorrer por causa do aumento do intervalo entre as mamadas, desmame repentino, uso de bicos artificiais ou sutiãs inadequados. Os principais sintomas são inchaço, vermelhidão, sensibilidade ou uma sensação de calor na mama, endurecimento e até febre na lactante.
Por conta desses sintomas, muitas mulheres sentem dificuldade de seguir com a amamentação. O tratamento da mastite envolve o uso de antibióticos e pequenas intervenções cirúrgicas.
Importante: a mãe pode e deve continuar amamentando mesmo com o diagnóstico de mastite. A drenagem do leite, inclusive, ajuda a melhorar o quadro e não faz mal ao bebê.
Baixa produção de leite
Quem nunca ouviu que a mãe não tinha leite suficiente? A baixa produção de leite é um dos desafios encontrados por algumas mulheres.
No entanto, os especialistas reforçam que essa pode ser uma percepção da mãe relacionada à insegurança sobre sua capacidade de amamentar. Por isso, vale a pena checar com o pediatra antes de optar pela fórmula infantil.
Vale destacar que quanto mais a criança mamar, mais leite a mãe produzirá. Outras dicas importantes são: evitar o estresse neste período, dormir bem (dentro do possível), se alimentar adequadamente e evitar ouvir opiniões que aumentem a ansiedade e insegurança.
Mamilos invertidos
Algumas mulheres apresentam mamilos invertidos ou planos. No primeiro caso, o bico do seio fica para dentro da aréola; já nos mamilos planos a aréola e o bico ficam na mesma linha.
Geralmente, as mães conseguem amamentar, mas os bebês sentem mais dificuldades para encontrar a pega correta. É fundamental o apoio especializado para que a mãe consiga amamentar sem grandes dificuldades.
Candidíase mamária
Você sabia que a candidíase também afeta as mamas? O problema ocorre devido a uma infecção causada por um fungo, que costuma surgir em lugares quentes e úmidos.
Por isso, mulheres que usam conchas (ou protetores mamilares), não trocam o sutiã ou absorventes mamários quando vaza o leite, estão mais suscetíveis a ter a candidíase mamária.
Pode atingir só a pele do mamilo e da aréola ou o interior da mama. É fundamental buscar ajuda especializada e checar qual é o melhor tratamento. Geralmente, são indicados medicamentos antifúngicos e o uso de pomadas tanto para combater os fungos quanto para cicatrizar a região.
Como se preparar para a amamentação
A gestação é um momento único na vida de uma mulher. A partir do momento da descoberta da gravidez, muitas vezes, é preciso correr contra o tempo para dar conta de tantas mudanças, planos, dúvidas e medos.
“O melhor preparo para amamentar é ter informação de qualidade. A pega correta facilita o processo de amamentação. A futura mãe precisa entender que isso garante uma boa extração do leite e ele ganha peso corretamente. Enquanto isso não acontece, ela vai sentir desconfortos e até se machucar”, explica Cinthia Calsinski, enfermeira obstetra e consultora internacional de lactação.
Vale dizer ainda que não existe uma “fórmula mágica” para resolver todas as questões. O importante, então, é aprender mais sobre o tema e estar atenta ao próprio corpo e ao bebê, o que contribui bastante para sanar angústias e encontrar soluções que funcionem para ambos.
Nesse sentido, vale escolher a dedo quem será ouvido, pois é muito comum receber conselhos equivocados (mesmo que bem intencionados) e que aumentam a ansiedade e a insegurança da mãe.
A recomendação, então, é esclarecer as dúvidas apenas com os profissionais de saúde, como pediatras e até consultoras de amamentação.
“O início pode ser mais difícil mesmo. É o momento que a mãe está conhecendo o seu bebê. Com o tempo, amamentar se torna algo natural, as mães ganham mais segurança e ficam felizes quando se conectam com a criança”, complementa Calsinski.
E quando não é possível amamentar?
O aleitamento materno é considerado a melhor escolha para o bebê, mas nem sempre ele é possível de ser feito. Muitas vezes, é bastante frustrante para as mães que planejaram amamentar, mas por algum motivo maior, não conseguiram.
“Em alguns casos específicos, a mãe não produz leite, mas isso é extremamente incomum. Durante a consulta, é possível identificar o problema e solucioná-lo. Outras mães não podem amamentar por questões de saúde, uso de drogas, infecção pelo HIV ou estão realizando tratamento de câncer [radioterapia ou quimioterapia]”, completa Cavalcante.
Normalmente, a mãe nesse momento lida com a pressão da sociedade, com as suas próprias cobranças e até com a incompreensão da família, o que aumenta o estresse e o nervosismo.
Para a psicóloga perinatal Gabrielle Lucchese, descobrir-se mãe é um processo individual e contínuo, assim como amamentar um filho.
“Existe uma grande cobrança da sociedade e essas mulheres buscam a perfeição no cuidado com os bebês, mas isso causa sofrimento. É importante que as novas mães tenham uma rede de apoio para que se sintam acolhidas em suas escolhas e dificuldades”, completa.
Há ainda algumas técnicas usadas para facilitar a amamentação. É o caso da relactação, um método utilizado para restabelecer a lactação em mães com pouco leite ou que deixaram de amamentar. Geralmente, a criança recebe o leite por meio de uma sonda, mas suga pelo mamilo.
E os especialistas reforçam: as mães que não puderam ou não conseguiram amamentar não devem se sentir culpadas ou com a sensação de que falharam.
Nesses casos, a SBP recomenda que a fórmula infantil, ou seja, um tipo de leite artificial, seja utilizada sempre com a orientação do pediatra. Não é indicado substituir pelo leite de vaca, por exemplo, que pode prejudicar o desenvolvimento da criança.
Depoimentos sobre amamentação
“Não me senti confortável, pois achava que essa modificação corporal afetaria como veriam minha imagem. Mas já na gestação me encantei pela minha filha. E com o tempo fui me adaptando.
Consegui amamentar por dois meses. Depois, intercalei com a mamadeira, já que passei por momentos de estresse e minha produção de leite diminuiu. Valeu a pena! Sempre foi meu sonho ter uma família, ainda gerei minha filha e pude amamentá-la.
Guilherme Prates e cabeleireiro, profissional de estética, estudante de Ciência Política e pai da Moanah, 2 anos.
“Desde que meu filho nasceu, amamentar tem sido um processo exaustivo. Atualmente, ele mama de três em três horas, tiro o leite com a bombinha e complemento com a fórmula. Senti muita dificuldade para encontrar a pega correta e na hora da descida do leite tive bastante dor. Também estava me recuperando do parto cesariana.
E olha que durante a gestação me preparei bastante. Já me consultei com diversos especialistas, como odontopediatra, fonoaudiólogo e pediatra para melhorar as condições para o bebê mamar. E continua sendo muito difícil, não é algo natural.”
Maria Cecília Piccolo é assistente executiva e mãe de Eduardo, 1 mês.
“Confesso que quase não me preparei para a amamentação. Tive uma gravidez de alto risco e minha filha se desenvolveu pouco. Quando ela nasceu, não consegui amamentar. Foram diversas tentativas, pois o leite não descia. A saída foi entrar com a fórmula, mas ela sentia muita fome e chorava bastante. Eu me esforcei demais e foi horrível vê-la assim.
Tive várias consultoras de amamentação e vimos que a pega estava correta, mas eu tinha pouco leite. Também tentei técnicas caseiras e nada deu certo. Quando eu percebi que estava exausta emocionalmente, parei de tentar. Fui acolhida pelo pediatra e entendi que a fórmula deixaria a minha filha saudável e o fato de não amamentar não interferia na nossa relação.”
Maria Eduarda Schwab é jornalista e mãe de Virgínia, 2 anos.