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    AVC em jovens é mais perigoso? Nem sempre; entenda

    Segunda causa de mortes no Brasil, problema tem aumentado de incidência entre jovens

    Por Danielle SanchesPublicado em 11/10/2022, às 10:13 - Atualizado em 25/05/2023, às 16:04
    Imagem: Shutterstock

    Em julho deste ano, a atriz Emilia Clarke, conhecida por seus papéis na série “Game of Thrones” e no filme “Como Eu era Antes de Você”, revelou em entrevista que, após sofrer dois AVCs (acidente vascular cerebral), uma parte do cérebro “não existe mais”. 

    A atriz tinha apenas 22 anos quando teve o primeiro evento; o segundo ocorreu três anos depois e demorou mais tempo para que ela pudesse se recuperar. Ela já havia contado sua história anteriormente em um artigo

    Embora o AVC seja uma condição que acomete mais indivíduos acima dos 50 anos, o número de adultos jovens que enfrentam o problema está em tendência de crescimento. 

    De acordo com dados retirados da Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC Nacional) e consolidados pelo portal R7, o número de óbitos por AVC em 2019 no Brasil estava em 17,2%. Em 2021, ele chegou a 20%. 

    Mas qual a razão desse aumento? Um estudo publicado na revista Stroke, da Associação Americana do Coração, pode dar algumas pistas. 

    No texto, os especialistas afirmam que os fatores de risco para AVC, que antes eram mais frequentemente observados em idosos, agora estão se tornando mais comuns entre faixas etárias mais jovens. 

    Os fatores de risco são: 

    • Hipertensão;
    • Diabetes;
    • Colesterol alto;
    • Tabagismo;
    • Obesidade;
    • Sedentarismo;
    • Arritmias cardíacas;
    • Abuso de álcool, drogas e/ou alguns medicamentos.

    “Esses fatores vão, aos poucos, criando condições para que ocorram entupimentos arteriais, o que aumenta o risco de um deles ocorrer no cérebro”, afirma Thiago Taya, neurologista e neuroimunologista do Hospital Brasília, da Dasa. 

    Quais são os tipos de AVCs?

    Um AVC ocorre quando há a interrupção de fluxo sanguíneo para alguma região do cérebro. Com isso, as células nervosas – os neurônios – deixam de receber oxigênio e podem ser danificadas ou morrer. 

    Mas os AVCs podem ser de dois tipos: 

    • AVC do tipo hemorrágico

    Popularmente conhecido como “derrame”, ele ocorre quando há o rompimento de um vaso que leva sangue ao cérebro, provocando uma hemorragia. 

    • AVC do tipo isquêmico 

    É considerado o mais comum. Neste caso, um coágulo impede a passagem do sangue no vaso ou artéria, impedindo o fluxo para o órgão. 

    Quais são os sintomas do AVC? 

    A interrupção do fluxo de sangue no cérebro provoca sintomas que surgem de forma súbita – ou seja, a pessoa está bem e, de uma hora para outra, começa a se sentir mal. 

    Os sintomas clássicos são: 

    Arte: Andrea Petkevicius

    Nesses casos, os especialistas recomendam a busca imediata por atendimento médico, já que o socorro precoce aumenta as chances de sobrevivência e o prognóstico de recuperação tanto para jovens como para idosos. Os médicos costumam dizer que “tempo é cérebro”.

    AVC x aneurisma

    No caso de Emilia Clarke, a atriz revelou que o AVC veio seguido do diagnóstico de que teria dois aneurismas no cérebro. Inclusive, o segundo derrame ocorreu após um procedimento para controlar o problema (o que falhou). 

    De acordo com Marcele Schettini, neurologista do Hospital Santa Paula, em São Paulo, e especialista em cuidados com pacientes que sofreram AVC, o aneurisma é uma dilatação anormal de uma artéria (que pode ocorrer em qualquer parte do corpo, incluindo no cérebro). 

    “No entanto, quando ele se rompe num vaso do cérebro, ele provoca uma hemorragia, configurando o AVC hemorrágico”, explica. Foi o que aconteceu com a atriz britânica, que descobriu um segundo aneurisma enquanto ainda se recuperava do primeiro AVC. 

    Jovens têm mais risco?

    Uma das crenças mais comuns é de que um evento como o AVC tende a ser mais grave entre indivíduos jovens do que os mais velhos. E, embora um problema de saúde desse porte seja realmente perigoso e grave para qualquer um, existe um fundo de verdade nessa afirmação. 

    De acordo com Taya, isso ocorre em primeiro lugar porque os jovens têm menos circulação lateral, uma espécie de “atalho” que o corpo vai formando ao longo dos anos para melhorar a circulação de sangue no corpo. 

    “É como se o corpo fosse criando novos caminhos, novos vasos sanguíneos, para melhorar o fluxo de sangue em áreas vitais que podem estar comprometidas por entupimentos ou envelhecimento, por exemplo”, explica o especialista. 

    Com isso, na eventualidade de um AVC, um idoso teoricamente não teria o fluxo de sangue interrompido de forma total como ocorre com os jovens, que não possuem essa circulação lateral. “Com isso, a gravidade do quadro pode ser menor”, afirma o neurologista. 

    A segunda questão é que o cérebro dos idosos costuma ter um volume menor – o que é normal para a idade – e, por isso, tem mais espaço para comportar uma eventual hemorragia. 

    Mas tudo isso, claro, funciona na teoria. Na prática, não dá para dizer que em todos os casos são os jovens que correm mais risco. Na verdade, estamos tratando de uma doença potencialmente ameaçadora à vida em qualquer idade. 

    Tratamentos

    Schettini afirma que é muito importante saber que o AVC tem tratamento para a fase aguda, ou seja, naquele momento em que o fluxo está interrompido. 

    “Podemos usar medicamentos ou procedimentos para remover o coágulo e restabelecer o fluxo sanguíneo, no caso do AVC isquêmico”, afirma a neurologista. 

    Já nos casos de hemorragia, o atendimento inclui utilizar medicamentos para baixar a pressão arterial, se estiver alta, reduzindo o volume de sangue despejado. 

    Deve-se ainda monitorar a pressão craniana e, se o edema estiver muito intenso, pode-se fazer uma cirurgia para remover o sangue e tentar controlar o inchaço. 

    Nos dois casos, o atendimento precoce é fundamental. “Quanto mais cedo o paciente for atendido, mais beneficiado ele será por todos esses procedimentos”, afirma Schettini. 

    No caso de Emilia Clarke, o atendimento imediato permitiu que, mesmo sem “uma parte” do cérebro – que acabou lesionado pela falta de oxigenação –, ela voltasse a falar e atuar de forma praticamente normal após um período de reabilitação. 

    E, quando falamos em recuperação, é claro que um cérebro jovem tem mais chances de se recuperar do que outro com mais anos rodados. No entanto, o prognóstico é algo que pode variar de pessoa para pessoa. 

    “Depende de onde ocorreu a lesão, se é uma área muito importante como da fala, ou se é uma área menos utilizada pelo cérebro”, explica a especialista. “No entanto, todos podem se reabilitar”, afirma ela, que reforça que existem AVCs graves tanto em jovens como em idosos. 

    Dá para prevenir?

    Nem sempre, já que o AVC pode ser causado por inúmeras razões. No caso de um aneurisma, por exemplo, a pessoa só fica sabendo quando tem algum sintoma ou quando já está em quadro de derrame. 

    O médico reforça ainda que, no caso de AVC em pessoas jovens, é importante realizar mais exames para saber se existe uma causa genética ou doença por trás do problema. 

    “Doenças infecciosas, como a sífilis, e outras doenças envolvendo a coagulação do corpo são algumas causas do AVC em jovens que devem ser investigadas para confirmar ou não o diagnóstico”, alerta o especialista.  

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