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Cardiopatia congênita: o que é e como tratar

Diagnóstico precoce de alterações na estrutura do coração aumenta a qualidade de vida de cardiopatas

Por Raquel RibeiroPublicado em 11/08/2022, às 11:38 - Atualizado em 25/05/2023, às 14:51
Foto: Shutterstock

Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que cerca de 130 milhões de crianças têm algum tipo de cardiopatia congênita, condição que é responsável por ser a terceira maior causa de morte infantil no mundo. Consiste na anormalidade do sistema cardiocirculatório, responsável por transportar o sangue por todo o nosso corpo.

Só no Brasil, estima-se que cerca de 29 mil crianças nasçam por ano com cardiopatia congênita, sendo que 6% delas acabam morrendo antes de completar o primeiro ano de vida. Por isso, o diagnóstico precoce pode ser crucial, tanto para definir o tratamento ideal e salvar a vida, quanto para garantir a qualidade dela ao longo dos anos.

O que é cardiopatia congênita?

As cardiopatias congênitas são defeitos na formação e/ou função do coração que surgem ainda na vida intrauterina. Ou seja, nas primeiras oito semanas de gestação, quando o coração do bebê ainda está sendo formado.

No entanto, nos casos menos graves, a condição pode ser diagnosticada quando a criança estiver maior ou quando a pessoa já está na fase adulta.

“Essas alterações têm um amplo espectro e podem ir desde defeitos mínimos, que raramente causam sintomas ou o diagnóstico vem apenas na fase adulta, até aqueles extremamente complexos que necessitam de intervenção nas primeiras horas de vida”, explica Marcela Devido, cardiologista do Hospital Nove de Julho.

Tipos de cardiopatias congênitas

Arte: Andrea Petkevicius

Sintomas da cardiopatia congênita

Os sintomas são variados e irão depender do grau de acometimento da doença. Em alguns casos, a cardiopatia pode ser totalmente assintomática, ou seja, não apresentar os sintomas ou até ser descoberta em uma eventualidade, durante a idade adulta. Veja os principais divididos por faixa etária.

Recém-nascidos e bebês:

  • Respiração rápida ou dispneia (falta de ar);
  • Cianose – Coloração azulada ou acinzentada da pele, unhas ou lábios;
  • Cansaço entre as mamadas;
  • Suor excessivo na cabeça ao mamar;
  • Irritação;
  • Pouco apetite e baixo peso.

Crianças ou adultos:

  • Menor tolerância aos esforços do que crianças da mesma idade;
  • Tontura;
  • Fadiga;
  • Coração acelerado e boca roxa após esforços;
  • Infecções respiratórias frequentes.

“O esforço do bebê para mamar e o baixo ganho de peso podem ser um sinal de cardiopatia congênita. Os sinais em crianças mais velhas podem incluir falta de ar ao fazer esforço físico, como engatinhar, andar ou correr. Nesses casos, um pediatra também pode ouvir um batimento cardíaco ou um som cardíaco anormal chamado sopro durante um check-up. A maioria desses murmúrios são na verdade inocentes, mas é importante verificá-los”, destaca Célia Maria Camelo Silva, chefe do setor de Cardiologia Pediátrica da Universidade Federal de São Paulo.

Causas

A causa é multifatorial, podendo envolver tanto fatores genéticos, quanto ambientais.

“Muitas vezes, ocorrem por razões desconhecidas durante o desenvolvimento do feto, ou seja, ao acaso.  Elas não são necessariamente hereditárias, embora o histórico familiar aumente o risco. Por exemplo, quando um dos pais, irmãos ou parente próximo têm cardiopatia congênita, o risco de gerar um bebê com defeito cardíaco é maior do que o da população em geral”, explica Célia.

Contudo, alguns fatores podem aumentar o risco de cardiopatias congênitas como:

  • Doenças maternas: diabetes mellitus, seja o do tipo II ou o gestacional; Lúpus eritematoso sistêmico e rubéola; cardiopatias em gestações anteriores;
  •  Gestação gemelar e fertilização in-vitro;
  • Obesidade;
  • Uso de medicamentos: principalmente durante a gestação como antidepressivos e anticonvulsivantes;
  • Fatores ambientais ou de estilo de vida: como o hábito de fumar, consumir altas doses de álcool, além do uso de drogas ilícitas;
  • Síndromes genéticas: algumas delas têm, como é o caso da síndrome de Down, um maior risco de ter associado cardiopatia congênita. Quase metade das crianças com Down apresentam cardiopatia congênita.

Diagnóstico

O diagnóstico da cardiopatia congênita pode ocorrer ainda durante a fase intra-útero, antes mesmo do nascimento do bebê, por meio de ultrassom cardíaco (ecocardiograma) realizado no segundo trimestre da gestação. Mas, na maioria dos casos, as alterações são detectadas pelo pediatra após o nascimento.

O diagnóstico precoce de anormalidades ajuda inclusive no momento do parto, já que a criança pode precisar de cirurgia, antecipando as condições ideais com uma equipe especializada desde o começo.

Outra medida, ainda no nascimento, que tem o intuito de diagnosticar precocemente a cardiopatia é o “teste do  coraçãozinho”. É realizado com oximetria de pulso para estimar a quantidade de oxigênio no sangue, nos membros superiores e inferiores entre 24h e 48h após o nascimento.

Nos casos em que o teste apresente suspeita de cardiopatia, além de um eletrocardiograma e uma radiografia de tórax, a criança deve realizar um ecocardiograma, que é capaz de diagnosticar a maioria das formas de cardiopatias congênitas. Em algumas condições, quando as dúvidas quanto a anatomia e função do coração persistem, pode ser indicado uma ressonância magnética ou angiotomografia do coração para averiguar alterações nos vasos sanguíneos.

A cardiopatia congênita também pode ser diagnosticada na fase adulta, seja após a suspeita que surge a partir dos sintomas ou por meio da realização de exames de rotina.

Tratamento

Foto: Shutterstock

O tratamento irá depender do grau de acometimento da doença e dos sintomas. Em alguns casos, a cardiopatia pode evoluir para cura espontânea. Em outros, o defeito pode não representar nenhum dano à sua saúde.

Já os casos mais graves, podem necessitar de cirurgia ou cateterismo cardíaco intervencionista. Isto pode ser de coração aberto ou um tipo de cirurgia menos invasiva.

“É cada vez maior o número de procedimentos terapêuticos em cardiopatias congênitas passíveis de serem realizados por exemplo, com cateterismo, exame invasivo que aperfeiçoa o diagnóstico, uma vez que ele pode identificar uma série de outras doenças que outros exames não conseguem. Isso é muito bom, pois não raro os pacientes que necessitam passar por duas, três, às vezes, até quatro cirurgias ao longo da vida. Agora, com o avanço das técnicas de cateterismo algumas cirurgias podem ser evitadas”, lembra Marcela.

Além disso, o uso de medicamentos e a possibilidade de transplante não estão descartadas.

“Algumas condições podem necessitar de usar medicamentos. Os procedimentos podem ser de coração aberto ou um tipo de cirurgia menos invasiva. Nos casos em que os reparos não são uma opção, um transplante de coração pode ser necessário”, finaliza Célia.

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