Diabetes gestacional: causas, sintomas e riscos
O diabetes pode surgir a qualquer momento da gestação e é detectado por exames de sangue
A glicose é essencial para o organismo humano. Esse é um tipo de açúcar que se converte em energia, funcionando como combustível para o nosso corpo. Só que, se estiver em excesso no sangue, a glicose acaba virando um problema. E a principal causa da hiperglicemia é o diabetes.
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É comum ouvirmos falar sobre diabetes tipo 1 (quando o indivíduo não produz insulina em função de um problema autoimune) e diabetes tipo 2 (quando o paciente produz insulina, porém não consegue utilizá-la de forma eficaz). Mas há um terceiro tipo importante: o diabetes gestacional.
“Os estudos realizados nos últimos anos demonstram uma prevalência mundial de diabetes gestacional que varia de 1 a 37,7%, com uma média de 16,2%. As estimativas populacionais para o Brasil são um pouco maiores: aproximadamente 18%”, afirma a ginecologista Gabriela Pravatta Rezende, membro da Comissão de Ginecologia Endócrina da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
O diabetes gestacional é caracterizado pelo surgimento do diabetes durante a gestação. Nesse período, a mulher que antes não tinha resistência à insulina passa a apresentar o problema e fica com níveis elevados de açúcar na corrente sanguínea.
Isso quer dizer que a ação da insulina (hormônio responsável por tirar a glicose do sangue e ajudá-la a entrar na célula) fica prejudicada e o pâncreas não consegue produzir insulina o suficiente para dar conta do recado.
Essa condição pode aparecer em qualquer momento da gravidez. “Mas é mais frequente surgir a partir de 24 a 28 semanas de gestação”, afirma a endocrinologista Patricia Dualib, coordenadora do Departamento de Diabetes Gestacional da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes).
Causas do diabetes durante a gravidez
São muitas as mudanças que ocorrem no corpo de uma gestante para suprir as necessidades do bebê. Uma delas atinge os mecanismos de controle da glicemia – afinal, o embrião também precisa de glicose.
Para isso são produzidos vários hormônios, inclusive pela placenta, que diminuem a ação da insulina. O aumento desses hormônios se dá especialmente entre o sétimo e o oitavo mês, quando é mais comum o surgimento do diabetes gestacional.
Diante dessas alterações, o pâncreas começa a produzir mais insulina. No entanto, nem todas as mulheres atingem uma produção suficiente e, por isso, desenvolvem diabetes durante a gravidez.
“Não se sabe ainda todos os mecanismos que desencadeiam diabetes gestacional”, diz Roberta Frota Villas-Boas, endocrinologista do Hospital Nove de Julho. “Mas alguns fatores estão correlacionados com esta alteração, como excesso de peso antes e durante a gestação, sedentarismo, diagnóstico de pré-diabetes antes da gestação, parentes de primeiro grau com diabetes, diabetes gestacional em gravidez anterior e gestação em idade avançada”, complementa.
Sintomas de diabetes gestacional
No diabetes gestacional, os valores de glicemia não costumam ser altos a ponto de gerarem sintomas. “A grande maioria não tem sintoma nenhum, por isso a busca tem que ser ativa”, alerta Dualib.
Em alguns casos, porém, pode haver ganho excessivo de peso e aumento do apetite e do cansaço.
Diagnóstico
O diagnóstico do diabetes gestacional é baseado em dois exames de sangue: glicemia de jejum e teste oral de tolerância à glicose (TOTG).
O ideal é fazer o exame de glicemia de jejum antes das 20 semanas, de preferência no início da gestação. Resultados inferiores a 92 mg/dL são normais. Já valores entre 92 mg/dL e 126 mg/dL indicam diabetes gestacional. Geralmente, o diagnóstico é confirmado após uma segunda coleta de sangue.
“Na gestante, se a glicemia de jejum for superior a 126mg/dL deve-se repetir em outro dia e, caso se mantenha acima de 126, considera-se que esta pessoa já era diabética antes da gestação”, ressalta Villas-Boas. Nesse caso, o diagnóstico não é de diabetes gestacional.
Para as mulheres com valores menores que 92 mg/dL na glicemia de jejum, é recomendado o teste oral de tolerância à glicose como forma de rastreio entre as semanas 24 e 28.
O TOTG funciona assim: a gestante recebe uma sobrecarga de 75g de glicose, normalmente por meio de um suco adoçado. Depois de uma hora, se a glicemia estiver abaixo de 180 mg/dL e, após duas horas, abaixo de 153 mg/dL, os resultados são considerados normais. Se esses números estiverem, respectivamente, acima de 180 ou 153 mg/dL, é feito o diagnóstico de diabetes gestacional.
Riscos do diabetes gestacional
O diabetes gestacional aumenta o risco de os bebês terem complicações durante a gestação e após o parto, bem como de ficarem obesos e desenvolverem diabetes do tipo 2 no futuro. A mãe também apresenta um risco aumentado para diabetes após a gravidez.
“Todas as mulheres grávidas têm resistência insulínica”, reforça Dualib. “As que vão ter diabetes são aquelas cujo pâncreas não produziu insulina o suficiente para vencer essa barreira da resistência, o que já é um fator de risco para ter diabetes ao longo da vida”, esclarece a endocrinologista.
Por isso, mesmo depois da gestação é importante fazer exames de rotina, manter uma dieta balanceada e praticar atividades físicas com regularidade – essas são medidas que reduzem o risco de diabetes.
As possíveis complicações do diabetes gestacional atreladas ao bebê e o parto em si são:
“Em casos graves, pode haver óbito fetal ou logo após o parto. Mas estas complicações severas são mais raras”, observa Villas-Boas.
Tratamento de diabetes na gestação
Durante a gestação, é fundamental monitorar os índices glicêmicos. O ideal é que a glicemia em jejum se mantenha abaixo de 95 mg/dL. Uma hora após as refeições, 140 mg/dL. Duas horas depois, 120 mg/dL.
Para assegurar os valores desejados, o tratamento de diabetes gestacional passa pela realização de atividades físicas moderadas e pela alimentação adequada – com refeições fracionadas que contenham frutas, verduras, legumes e alimentos integrais.
“As recomendações nutricionais devem ser calculadas individualmente, considerando o IMC, a idade materna, as atividades físicas realizadas, o ganho de peso esperado, as condições socioeconômicas e as condições clínicas”, comenta Rezende.
Da mesma maneira, a orientação para atividades físicas deve ser individualizada. Não são todos os exercícios que podem ser praticados na gravidez e cada mulher tem suas próprias indicações e contraindicações quanto a modalidade, intensidade e frequência.
Se as adaptações no estilo de vida não forem suficientes para controlar a glicemia, então administra-se a insulina.