Estenose aórtica: conheça este problema de coração que progride com a idade

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Entenda por que a válvula aórtica pode endurecer e como um novo tratamento menos invasivo está mudando o cenário da doença 

O seu coração bombeia sangue para todo o corpo, sem pausas. Mas, às vezes, uma de suas peças pode apresentar um defeito. Na estenose aórtica, por exemplo, a válvula aórtica se torna mais rígida e estreita – e isso dificulta a passagem do sangue, forçando o coração a trabalhar mais. 

Com o tempo, esse esforço extra do músculo cardíaco pode levar a sintomas e complicações sérias. Isso não acontece de uma hora para outra: o processo é gradual e contínuo e geralmente, inicia-se aos 60 ou 70 anos. E estima-se que 5% das pessoas com mais de 75 anos tenham a condição hoje.

Estenose aórtica: o que é? 

A estenose aórtica é o estreitamento da válvula aórtica, uma das estruturas do coração que se abre e fecha para direcionar o fluxo de sangue oxigenado para o resto do corpo. 

Esse estreitamento acontece devido a um processo de degeneração e calcificação que torna a válvula mais dura e com menos mobilidade. Com a passagem mais apertada, o músculo cardíaco é obrigado a fazer um esforço extra para bombear o sangue. Com o tempo, isso pode sobrecarregar o coração e levar a um quadro de insuficiência cardíaca. 

Função da válvula aórtica 

A válvula aórtica controla a saída de sangue do coração para a aorta, que é a maior e principal artéria do nosso corpo. A sua função é garantir que o sangue rico em oxigênio, uma vez bombeado, siga seu caminho para nutrir todos os órgãos e tecidos, sem voltar para trás. 

A cada batida do coração, os folhetos da válvula se abrem para dar passagem ao sangue. Em seguida, eles se fecham de forma precisa e imediata. Esse mecanismo impede o refluxo de sangue para o coração. É esse trabalho que garante a eficiência da nossa circulação sanguínea. 

O que causa a estenose aórtica? 

A causa mais comum da estenose aórtica em pessoas com mais de 70 anos é a degeneração que acontece com o envelhecimento. Trata-se de um processo de desgaste natural. Com o tempo, depósitos de cálcio se acumulam na válvula, fazendo com que ela endureça e perca mobilidade.

Já nas pessoas com menos de 70 anos, a causa mais frequente é uma cardiopatia congênita, um defeito presente desde o nascimento. E o problema mais comum é a válvula aórtica bicúspide: em vez dos três folhetos normais, a pessoa nasce com uma válvula de apenas dois. Essa condição pode não dar sinais por décadas, mas aumenta o risco de um estreitamento precoce. 

Sintomas de estenose aórtica 

Os sintomas da estenose aórtica geralmente aparecem em fases mais avançadas da doença. A chamada “tríade clássica” de sintomas inclui dor no peito (angina), desmaios ou tonturas (síncope) e falta de ar (dispneia). Esses sinais indicam que o coração já está com dificuldade para suprir as necessidades do corpo. 

Mas outros sinais que merecem atenção são: 

• Cansaço fácil e progressivo, mesmo para realizar atividades simples. 

• Palpitações, que é a sensação de batimentos cardíacos irregulares ou acelerados. 

• Dificuldade para se exercitar como antes. 

Vale mencionar que a doença pode ser assintomática por muito tempo. E o diagnóstico pode acontecer durante um exame de rotina. 

Quando procurar por um médico? 

Procure ajuda médica ao notar qualquer um dos sintomas clássicos da doença. Dor no peito, falta de ar e episódios de tontura ou desmaio são sinais de alerta importantes. Mesmo que pareçam leves, eles podem indicar que a estenose aórtica já atingiu um grau importante. 

Se o seu cardiologista, durante uma consulta de rotina, auscultar um sopro cardíaco, ele pedirá exames para investigar. O sopro é um som diferente que pode ser o primeiro indício de um problema na válvula.  

Como é feito o diagnóstico? 

O diagnóstico começa na consulta. No exame físico, com um estetoscópio, o médico vai auscultar seu coração e a presença de um sopro cardíaco seria o principal indício. Esse som indica que o sangue está passando por um local mais estreito de forma turbulenta. 

Para confirmar o diagnóstico e, principalmente, avaliar a gravidade do problema, o exame mais importante é o ecocardiograma. Trata-se de uma ultrassonografia do coração, indolor e que não usa radiação. 

O exame mostra em tempo real as estruturas cardíacas, permitindo ao médico ver a válvula, medir o grau de estreitamento e avaliar o impacto no músculo do coração. 

Mas outros exames podem ser necessários para complementar a avaliação. O eletrocardiograma (ECG), por exemplo, registra a atividade elétrica do coração e pode detectar sobrecarga do ventrículo esquerdo. 

Já o cateterismo cardíaco, exame mais invasivo, costuma ser usado em casos específicos para medir a pressão dentro do coração e visibilizar as artérias coronárias.

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Tratamentos para a estenose aórtica 

Para pacientes que não apresentam sintomas, o tratamento consiste em acompanhamento médico regular. No entanto, quando a estenose aórtica é grave e causa sintomas, a troca da válvula doente é o tratamento de escolha.

Não existem remédios capazes de reverter o estreitamento da válvula. Mas os medicamentos podem ser usados para controlar sintomas ou tratar outras doenças associadas, como a pressão alta.

As duas principais abordagens para a troca da válvula são a cirurgia tradicional e um procedimento menos invasivo. A decisão sobre qual método usar é individualizada e discutida entre a equipe médica e o paciente. 

• Cirurgia de troca valvar aórtica (SAVR): é a cirurgia de peito aberto. O cirurgião remove a válvula calcificada e a substitui por uma prótese, que pode ser biológica ou mecânica. É um procedimento muito eficaz e consolidado. 

• Implante de válvula aórtica transcateter (TAVI): procedimento mais moderno e menos invasivo. Uma nova válvula é levada ao coração por um cateter, inserido por uma artéria (geralmente na virilha). A TAVI foi desenvolvida inicialmente para pacientes de alto risco cirúrgico, mas hoje sua indicação se expandiu. 

No Brasil, a TAVI foi regulamentada pelo Ministério da Saúde em 2024 para ser realizada no SUS. Essa decisão, publicada pelo Conass, é um marco para a saúde pública, ampliando o acesso a essa tecnologia.  

Recomendações para o dia a dia 

Ao receber o diagnóstico de estenose aórtica é importante saber como agir. E algumas recomendações seriam importantes: 

• Não abandone o acompanhamento médico regular para monitorar a evolução da doença. 

• Esteja sempre atento a qualquer novo sintoma ou piora dos sinais existentes, como cansaço e falta de ar, e comunique o seu médico imediatamente. 

• Converse abertamente com o seu cardiologista sobre todas as opções de tratamento, tirando todas as suas dúvidas sobre riscos e benefícios. 

• Entenda que um diagnóstico de estenose aórtica não é uma sentença. Com os tratamentos atuais, é possível ter uma vida longa e saudável. 

É preciso cuidar da saúde do coração como um todo. Embora a estenose afete a válvula, a aorta em si pode ter outros problemas, como a dissecção de aorta, um rasgo em sua parede que é uma emergência médica. Isso reforça a importância de um acompanhamento cardiovascular completo.