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    Fobia social pós-pandemia: o que é e como tratar

    Caracterizada pela incapacidade de se socializar, pode ser tratada com remédios e terapia

    Por Raquel RibeiroPublicado em 28/07/2022, às 12:34 - Atualizado em 25/05/2023, às 15:16
    fobia socialIlustração: Shutterstock

    Mais tempo em casa, perda de parentes e amigos para a Covid-19 e até mesmo o medo de ser infectado pela doença. A lista de danos que a pandemia do novo coronavírus trouxe para nossas vidas é longa, mas determinadas consequências perduram para algumas pessoas, mesmo após as medidas de flexibilização serem adotadas. Uma delas é a fobia social, também chamada de transtorno de ansiedade social.  

    Para se ter uma ideia, um levantamento feito pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) com 2.000 pessoas revelou que a pandemia afetou a saúde mental de 79% dos entrevistados. A fobia social representa 2% do público, seguida por: 16% com sintomas de ansiedade, 8% depressão e 3% síndrome do pânico.  

    A fobia social é caracterizada pela incapacidade do indivíduo de se socializar, por medo ou ansiedade exagerada, quando é exposto a alguma situação, uma vez que ele imagina estar sendo julgado ou avaliado negativamente pelo outro.   

    “Ocasiões como almoçar fora de casa, andar no shopping ou eventualmente numa situação que esse indivíduo queira ou tenha que perguntar que horas são para outra pessoa, por exemplo, ele não irá fazer. Ele sente medo, fica tenso, sua frio e por vezes tem até taquicardia”, explica Liliana Seger, psicóloga clínica pelo Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo). 

    +LEIA MAIS: Saiba tudo sobre ansiedade 

    A seguir, você confere quais os primeiros sinais e sintomas de quem sofre com o transtorno, bem como as formas de tratamento.  

    Sinais e sintomas 

    Uma pessoa que sofre de fobia social apresenta alguns sinais e sintomas perceptíveis. Alguns deles são:  

    • Sentir desconforto ao ser observado (a); 
    • Ter incômodo ao falar em público; 
    • Ser pessimista; 
    • Ter medo de pessoas com posições hierárquicas, ou seja, com nível superior a elas; 
    • Evitar falar com pessoas desconhecidas ou se expor; 
    • Não fazer o contato visual com outras pessoas; 
    • Evitar locais com alta circulação de pessoas; 
    • Transpirar, apresentar suor excessivo ou vermelhidão no rosto; 
    • Sentir medo de estar presente em eventos sociais. Ou seja, em aniversários, casamentos, formaturas, palestras, cursos, entre outros.

    “Quem tem fobia social acredita que as outras pessoas estão fazendo uma espécie de avaliação negativa sobre ela e isso gera sentimento de humilhação, rejeição, vergonha e ansiedade. No entanto, esse sentimento não é real, o que se sente nessas situações é desproporcional ao que está realmente acontecendo. A pessoa se isola e evita festas, pois o medo do julgamento alheio ou do que os outros podem pensar dela é maior”, explica Vitória Ferrari Bittencourt, psicóloga clínica e pós-graduada em neuropsicologia. 

    fobia social

    Marcelina Maria Meneses de Lima, 21, sentiu na pele alguns desses sintomas, pois, embora a timidez exagerada e a fobia social fizessem parte da sua rotina há mais tempo, foi após a pandemia que a situação piorou.  

    “Antes do isolamento social eu já não saia de casa porque já era difícil, justamente por achar que as pessoas estão sempre me observando ou que eu sou indesejada. Mas quando a quarentena chegou, os dias foram passando e ficar em casa não era mais só uma escolha, mas uma imposição, isso me afetou ainda mais. Foi aí que eu comecei a fazer terapia. Melhorei muito, mas ainda sinto dificuldades”. 

    E foi na terapia que a designer gráfica recebeu seu diagnóstico de ansiedade social. “A partir daí eu fui descobrindo o porquê, como eu poderia melhorar e identificar ocasiões que me fazem ser assim. Às vezes, tenho crise e passo um período sem querer ver ninguém. São períodos de altos e baixos”. 

    “É muito ruim me sentir assim. Fora os sintomas físicos. Por causa disso, tenho tendência ainda mais de me isolar, por medo do que vai ocorrer e como as pessoas vão reagir”, explica. 

    E para quem está passando pela mesma situação pós-pandemia, Marcelina faz questão de deixar um recado: “Se você não estiver se sentindo bem, procure ajuda, não precisa passar por tudo isso sozinho!”, finaliza. 

    Fobia social durante e depois da pandemia 

    Para quem sofre de fobia social, o isolamento social pode ter sido algo positivo e cômodo, visto que para esse público até interagir dentro de casa é difícil.  “Às vezes, dentro da própria casa, quando se tem visitas, o indivíduo se nega a sair de onde está (isolado dentro de um cômodo da casa) e tem problema até para cumprimentar as pessoas”, diz a psicóloga Liliana.  

    Mas por outro lado, o medo de fazer qualquer coisa se tornou ainda maior. Atitudes como receber uma compra de supermercado na porta de casa ou até colocar o lixo para fora tornaram-se atividades complexas pela fobia de ser infectado e/ou transmitir a doença para amigos ou parentes.  

    E não pense que são apenas os mais jovens vítimas da fobia social. Um estudo promovido pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), realizado com 67 idosos, analisou os sentimentos dos participantes em relação a três momentos (antes e durante a pandemia e a expectativa do pós-pandemia).  

    Em menos de um mês após o início da quarentena, 76,1% expressaram sentimentos negativos. Durante a pandemia, a qualidade de vida foi classificada como boa/muito boa em 43,3%, regular para 1,3%, e ruim/muito ruim para 25,4%.   

    A vida social foi o aspecto da qualidade mais afetado, sendo o período de quarentena frequentemente referido como “prisão”. Já em relação à expectativa após o término da pandemia, 73,1% consideraram boa ou muito boa; 13,4% regular; e outros 13,4% acreditam ser ruim ou muito ruim. 

    Por fazer parte do espectro do transtorno da ansiedade, a fobia social também é tratada por meio de medicamentos, sessões de psicoterapia e apoio familiar.   

    “Uma pessoa com fobia social geralmente não melhora sozinha. É muito difícil e, por isso, requer tratamento. A tendência é que cada vez mais isso piore, conforme a idade vai passando, pois, a pessoa vai adquirindo consciência de que ela tem uma questão que incomoda muito, que causa mal-estar, e então passa a adotar cada vez mais comportamentos evitativos”, ressalta Fernanda Ramallo, psiquiatra pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e perita judicial pelo TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro). 

    Medicamentos

    Em alguns casos é indicado o uso de antidepressivos para recuperar a serotonina, conhecido como o hormônio da felicidade, em outros pode ser necessário o uso de medicamentos para insônia (quando o indivíduo apresenta dificuldade para dormir) ou ainda calmantes que auxiliam os indivíduos na hora da crise.

    Psicoterapia

    a terapia cognitivo-comportamental mostra resultados satisfatórios quando a pessoa procura ajuda ao perceber os primeiros sintomas da fobia social. Tem como foco identificar padrões de comportamento, pensamento, crenças e hábitos, que por sua vez, estão na origem do problema em si. A partir daí, são aplicadas técnicas para que as percepções sejam vistas de forma positiva. 

    “Na prática clínica, a avaliação inicial é importante para compreender se há indicação de tratamento medicamentoso concomitantemente à terapia. Se sim, encaminhamos ao psiquiatra e o acompanhamento é multidisciplinar”, destaca a psicóloga Vitória. 

    Inclusive, atualmente existem psicoterapias específicas para fobia social em que a pessoa desenvolve suas percepções com jogos. “A pessoa vai treinando, por meio de vídeos, sua possibilidade de enfrentamento. É como se fosse o metaverso, lugar onde a realidade física e a virtual se associam, ou seja, ela vai conversando com o bonequinho, em ações básicas, como perguntar a hora, por exemplo, com o intuito de aumentar a interação social aos poucos, explica Liliana. 

    +LEIA MAIS: Como o metaverso pode revolucionar a medicina? 

    Vale ressaltar que o tratamento é individual e irá depender do histórico de cada pessoa. Sendo assim, somente um médico será capaz de realizar o diagnóstico e tratamento adequado. 

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