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    Reinfecção por covid aumenta risco de complicações

    Novo estudo traz evidências de que pegar a doença não confere proteção para o futuro

    Por Danielle SanchesPublicado em 08/12/2022, às 16:28 - Atualizado em 25/05/2023, às 15:06
    Imagem: Shutterstock

    Logo que o novo coronavírus surgiu, não faltaram pessoas dizendo que a doença provocada por ele seria apenas uma gripe leve e que bastava se infectar uma vez para ficar imune e protegido no futuro. 

    Quase 6,7 milhões de mortes no mundo depois (e ainda contando, já que a pandemia está longe de terminar), podemos dizer que essa teoria não é verdadeira. Não apenas isso: recentemente, um estudo mostrou que as reinfecções pelo Sars-CoV-2 ainda aumentam o risco para novas complicações. 

    O que diz o estudo?

    Publicado pela revista científica Nature, o estudo foi realizado por pesquisadores da Veterans Research and Education Foundation em St. Louis, no Missouri, Estados Unidos. 

    Eles avaliaram informações sobre a saúde de mais de cinco mil veteranos de guerra que estavam na base de dados do instituto e que haviam se reinfectado uma ou mais vezes pelo novo coronavírus. 

    O resultado foi que, a cada reinfecção, aumentava o risco para hospitalização, desenvolvimento de sequelas e de morte entre eles – um risco que poderia persistir por até seis meses após a recuperação. 

    De acordo com os pesquisadores, ao comparar quem teve covid apenas uma vez com quem se reinfectou, o segundo grupo apresentou mais casos de problemas cardíacos e pulmonares, diabetes e disfunções neurológicas, entre tantas outras questões que o Sars-CoV-2 é mestre em criar no nosso corpo. 

    Outro ponto de preocupação é que esse dado foi observado mesmo em quem havia se imunizado com as doses da vacina – embora, claro, a incidência de problemas graves tenha sido maior em pessoas não imunizadas. 

    O que isso quer dizer?

    O estudo causou alarme tanto entre público leigo como médicos, mas é importante dizer que ele contém alguns vieses importantes. Um deles, por exemplo, é o de que foi feito com pessoas (na maioria, homens brancos) mais velhas, o que por si só já é um fator de risco para complicações em qualquer infecção (especialmente respiratória). 

    Outra questão é que o estudo foi feito com pessoas infectadas durante a onda causada pela variante delta seguida pela reinfecção com ômicron. A delta é conhecida por ser mais agressiva e atacar especialmente as vias aéreas inferiores (traquéia, brônquios, pulmões), o que, por si só, também já é mais um fator de risco para causar complicações. 

    No entanto, se pensarmos na nossa realidade hoje, a variante que que domina as infecções no mundo é a ômicron e suas subvariantes. A ômicron, já sabemos, tem como característica atacar especialmente as aéreas superiores (nariz, faringe e laringe), provocando menos complicações. 

    “A dinâmica da doença e dos casos graves têm relação com a variante que está circulando”, afirma o virologista José Eduardo Levi, superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento de Novos Produtos da Dasa Genômica e responsável pelo projeto de vigilância genômica da rede. 

    “Por isso, é de se pensar se os resultados poderiam ser aplicados ao cenário que vivemos hoje, mas não temos estudos sobre isso ainda”, avalia. 

    Outra questão importante é sobre o uso da palavra “acumulativo” em algumas interpretações do estudo. Para Levi, é uma visão equivocada. 

    “Não é como se a pessoa, a cada infecção, fosse acumulando danos”, explica. “O que aumenta a cada infecção é o risco de complicação e morte. Ou seja, a única forma de estar livre é não se infectar nunca”, afirma. 

    Essa também é a opinião do infectologista Alberto Chebabo, presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). “A covid pode causar complicações, mas não quer dizer que, a cada infecção, o indivíduo terá obrigatoriamente uma sequela, acumulando problemas”, afirma. 

    “O que ocorre é que, a cada reinfecção, aumenta-se o risco para desenvolver complicações, já que é uma doença grave que vai fragilizar o organismo especialmente de pessoas vulneráveis, como idosos e portadores de comorbidades”, diz. 

    No entanto, ele lembra que a somatória de várias infecções, sejam elas causadas pelo novo coronavírus ou não, têm um peso importante no organismo. “Isso vale para os quadros de influenza, por exemplo”, diz. 

    Então o estudo não está correto?

    Não é bem assim. Como dissemos no começo do texto, o que o estudo traz são evidências importantes de que se infectar pelo novo coronavírus não confere nenhum tipo de proteção contra eventuais novas infecções

    Mais que isso, a cada nova infecção, aumenta-se o risco para desenvolver casos graves e até de morte. “O quadro permanece sendo patogênico, ele não se torna mais leve”, afirma Levi. 

    Resumo da história: a única forma de reduzir os riscos para desenvolver complicações para a doença é não se reinfectar. “Para isso, a melhor forma e com menos impactos na vida das pessoas é completar o esquema vacinal e manter-se atualizado sempre que uma nova dose for disponibilizada”, reforça Chebabo. 

    Além disso, pessoas no grupo de risco para complicações, como idosos, imunodeprimidos e portadores de comorbidades, devem sempre usar máscara ao frequentar locais com muitas pessoas e álcool em gel, aumentando o nível de cuidado para evitar a doença. 

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