A epidemia de doenças do coração pós-Covid-19
Infectados pela Covid-19 possuem risco aumentado de desenvolver doenças cardiovasculares
Por ser uma doença que atinge inicialmente as vias respiratórias, acreditava-se inicialmente que a Covid-19 afetava apenas as vias aéreas e o pulmão. Mas um estudo publicado no periódico Nature Medicine confirmou as suspeitas dos médicos de que essa é uma doença sistêmica, ou seja, afeta todo o corpo, inclusive os vasos sanguíneos e o coração.
Neste artigo, você vai ler:
O estudo identificou que a infecção causada pela Covid-19 aumenta em 50% o risco do desenvolvimento de doenças do coração. Apesar da gravidade das sequelas serem maiores em quem teve os quadros mais agudos, os riscos também existem para quem teve a doença nas formas mais leves, ou seja, aquelas que não foram internadas, e até mesmo em pessoas que não tinham doença cardíaca.
“A Covid-19 têm duas peculiaridades além da inflamação que fazem com que ela seja muito agressiva para o sistema cardiovascular. Ele pode gerar uma agressão na célula cardíaca direta, principalmente na sua fase aguda, causando miocardites, uma inflamação no músculo cardíaco. Além disso, a Covid-19 tem uma associação maior com tromboses, quando um coágulo se forma no sangue dificultando o fluxo de algum vaso sanguíneo”, afirma Eduardo Lima Gomes, cardiologista do Hospital Nove de Julho.
Dentre as complicações cardiovasculares que podem ser causadas pela Covid-19 estão:
Sintomas de complicações cardiovasculares da Covid-19
Muitas vezes, parte dos sintomas, como as tromboses e arritmias, não são sequer percebidos pela pessoa que está tendo complicações cardiovasculares pela Covid-19. “Por isso, é tão importante que a pessoa que teve a doença procure um cardiologista ou um clínico geral para fazer o diagnóstico dessas condições que por vezes não são reveladas por meio dos sintomas”, explica o cardiologista.
Os sintomas mais comuns das doenças do coração são:
“Ao apresentar algum destes sintomas da parte cardiológica ou até da covid-19, como falta de ar, dor de garganta, febre ou mal-estar, é necessário procurar um médico”, explica Nicolle Queiroz, cardiologista e professora de medicina da Uninove.
Idosos e as complicações cardiovasculares da Covid-19
Os idosos receberam uma atenção especial, especialmente no início da pandemia, pois a idade avançada, por si só, é um complicador em relação a qualquer doença. Pessoas idosas, muitas vezes, já possuem outros fatores de risco para doenças do coração, e a Covid-19 somada a esses fatores aumentam o risco.
“A probabilidade de um idoso ser hipertenso ou ter diabetes, por exemplo, é maior do que a de uma pessoa mais jovem. Por isso, a idade é um fator complicador, uma vez que esses indivíduos agregam mais fatores de risco para doenças do coração”, diz Gomes.
Crianças e as complicações cardiovasculares da Covid-19
Apesar da Covid-19 ser uma doença que, em geral, não causa tantas complicações nas crianças como nos adultos, os pequenos não estão livres destes problemas. Inclusive, uma condição inflamatória rara chamada de SIM-P (Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica) já foi identificada em crianças que tiveram Covid-19.
Essa síndrome afeta os vasos sanguíneos (veias e artérias) de crianças e adolescentes, causando uma série de sintomas como dor de cabeça, queda de pressão arterial, taquicardia, falta de ar, respiração acelerada, convulsões e confusão mental.
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Prevenção
A Covid-19 é um fator a mais no que diz respeito aos riscos de desenvolvimento de doenças do coração. Contudo, o estudo identificou que pessoas vacinadas possuem um menor risco em relação a algumas dessas complicações, como o de ter miocardites.
Por isso, a vacinação é o primeiro passo, mas ela não anula todas as outras formas de prevenção das doenças do coração, que são:
- Não fumar;
- Evitar o sedentarismo com a prática de exercícios físicos regulares;
- Controlar a pressão arterial;
- Ter uma alimentação saudável;
- Controlar o diabetes;
- Combater o colesterol elevado e a obesidade.
“A melhor forma para prevenir é você controlar os fatores de risco pessoal, ou seja, dormir e comer bem, evitar o contato com quem está com covid-19, e também fazer o controle da pressão arterial e de peso para evitar as doenças cardiovasculares. Acima de tudo, claro, tomar a vacina”, explica Nicolle.
Tratamento
A boa notícia é que as doenças cardiovasculares são tratáveis, seja AVC, infarto, embolia pulmonar, entre outros, e o tratamento adequado dessas condições reduz em até 5% a mortalidade por essas causas.
Sendo assim, o melhor caminho é procurar orientação médica o quanto antes para diminuir as possibilidades de sequelas e melhorar a qualidade de vida.
A recomendação final dos médicos é a de que todas as pessoas que tiveram Covid-19 devem procurar um médico. Seja para avaliar os danos pulmonares causados pela infecção, ou para verificar o risco futuro de eventos cardiovasculares e, assim, minimizar as chances de ocorrência dessas complicações.