Surto de hepatite em crianças: o que já sabemos?
Doença, descoberta na Escócia e Inglaterra, ainda não tem causa conhecida
Um tipo de hepatite aguda e ainda de origem desconhecida tem acometido crianças pequenas em ao menos 20 países e causado preocupação em pais de todo o mundo.
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Isso porque, além de ainda não sabermos qual o agente causador, a doença pode ter uma evolução grave em pelo menos 7% dos casos. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) afirmam que, até agora, pelo menos 10% dos pacientes precisaram de um transplante de fígado, e ao menos uma morte foi reportada até o momento.
A OMS afirma ainda que a inflamação tem acometido crianças entre 1 mês de vida a 16 anos; no entanto, a faixa que parece ser mais afetada varia entre 2 a 4 anos de idade. Até 24 de abril, havia mais de 200 casos reportados à organização.
De acordo com Alberto Chebabo, infectologista da Dasa e presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), algumas linhas de investigação acreditam que a síndrome pode ter relação com a infecção pelo adenovírus 41 – um subtipo que costuma provocar diarreia e sintomas respiratórios típicos de um resfriado, mas que nunca foi ligado a nenhum caso de hepatite.
“Por enquanto, ainda não temos resposta e, por isso, ainda não temos como falar em prevenção ou tratamento”, explica o especialista.
O que é hepatite?
A hepatite é uma inflamação no fígado que pode ser causada por agentes infecciosos (como os vírus da hepatite A, B, C, D e E, considerados os mais comuns) ou não infecciosos (como a hepatite medicamentosa).
Os principais sintomas da hepatite são:
- fezes esbranquiçadas;
- urina escura;
- icterícia (pele e olhos amarelados);
- dor abdominal;
- vômitos;
- diarreia;
- aumento nos níveis das enzimas hepáticas.
No caso da síndrome que vem acometendo as crianças, ainda não está claro se ela é provocada por algum agente infeccioso ou se é uma resposta do próprio organismo a infecções prévias.
A linha de investigação que analisa o adenovírus 41 se baseia em exames em que foram detectados a presença do vírus em algumas crianças acometidas pelo problema. No entanto, o patógeno não estava presente diretamente nas células do fígado.
“Isso quer dizer que muito provavelmente, se ele for o causador, deve existir uma combinação de fatores para causar o quadro”, afirma Chebabo. Uma hipótese seria de que crianças infectadas previamente pelo Sars-CoV-2 e que contraíram o adenovírus 41 teriam uma resposta imunológica exacerbada do organismo, gerando inflamação no fígado.
Outras hipóteses consideram ainda que as crianças acometidas estejam mais vulneráveis aos adenovírus e outros agentes infecciosos pelo tempo que passaram em quarentena durante a pandemia do novo coronavírus.
“Esse isolamento pode ter provocado uma imaturidade do sistema imunológico das crianças pequenas, justamente as mais acometidas pela doença, e que teriam desenvolvido mais defesas em situações normais”, diz o infectologista.
Surto de hepatite e vacina da covid: tem relação?
Não. Essa história surgiu pois algumas vacinas utilizam a plataforma de vetor viral para ativar as defesas do nosso corpo contra o Sars-CoV-2. E o vetor utilizado é justamente o adenovírus.
No entanto, além desse agente estar incapacitado de provocar infecções quando é utilizado nos imunizantes, “a faixa etária da maioria das crianças acometidas pela síndrome é justamente aquela que não vem recebendo a vacina”, afirma a infectopediatra Maria Isabel de Moraes Pinto, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e consultora em vacinas da Dasa.
O que fazer se a criança apresentar sintomas?
Sem dúvida, o mais assustador da situação é que, sem saber o agente causador, fica difícil falar em prevenção e tratamentos.
No entanto, a recomendação da OMS e dos médicos é de que, uma vez que a criança apresente quaisquer sintomas de hepatite, o pronto-atendimento seja procurado o mais rápido possível. Isso porque o médico precisa descartar outras causas de hepatite, como a dengue e até mesmo os outros vírus mais comuns causadores de hepatite – e que continuam a circular no Brasil.
Neste momento, a recomendação é que os pais mantenham-se atentos às crianças pequenas, observando o surgimento de qualquer sintoma; e ainda mantenham-se informados sobre as investigações da doença, que deve ter novos esclarecimentos em breve.
* colaborou nessa pauta a repórter Raquel Ribeiro.