Malária: a infecção ainda é um risco à saúde pública
A doença afeta principalmente a região amazônica e pode ser grave se não tratada
A doença afeta principalmente a região amazônica e pode ser grave se não tratada
A malária segue como um grande desafio para o Brasil, que tem a meta ambiciosa de eliminar a transmissão no país até 2035. Mas o caminho é complexo. Em 2025, foram registados 25.473 casos em apenas três meses. E um dos maiores obstáculos é a falta de diagnóstico da doença.
Em algumas comunidades rurais da região, estima-se que uma em cada cinco pessoas possa estar infectada pelo parasita da malária sem apresentar qualquer sintoma, como febre ou dor de cabeça. E essas pessoas transmitem a doença, pois não têm o diagnóstico e, consequentemente, o medicamento para tratá-la.
Embora a maioria dos casos de malária esteja concentrada na região amazônica — que inclui os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins — o risco não fica limitado a essa área. Isso porque o mosquito transmissor da doença está presente em grande parte do território brasileiro, tornando importante estar atento e tomar precauções em diferentes regiões do país.
Com a facilidade das viagens, uma pessoa pode ser infectada durante uma visita à Amazônia ou a outro país com malária, como na África, e só apresentar os sintomas após retornar para casa, em uma cidade totalmente diferente. Vale lembrar que o início dos sintomas pode ocorrer até 30 dias após a viagem, o que torna importante estar atento a qualquer sinal de doença mesmo após o retorno.
Neste artigo, você vai ler:
Malária: o que é?
A malária é uma doença infecciosa, mas não é contagiosa. Isso significa que você não a contrai pelo contato direto com alguém doente. Ela é causada por protozoários do gênero plasmodium, transmitidos a partir da picada do mosquito Anopheles, popularmente chamado de mosquito-prego.
A doença é mais comum em regiões de clima tropical e subtropical, como é o caso de boa parte do Brasil. O quadro clínico típico envolve febre alta e calafrios. Se não for diagnosticada e tratada rapidamente, a malária pode se agravar, trazendo sérias complicações à saúde.
O que é o plasmódio (Plasmodium) da malária?
A malária é causada por um protozoário do gênero Plasmodium, que é um parasita intracelular obrigatório. Isso quer dizer que ele precisa invadir e se multiplicar dentro das células do hospedeiro para sobreviver e completar seu ciclo de vida. A transmissão para os seres humanos acontece através da picada da fêmea do mosquito Anopheles infectado.
Atualmente, existem cinco espécies de Plasmodium que podem infectar os seres humanos: P. vivax, P. falciparum, P. malariae, P. ovale e, mais recentemente, o P. knowlesi. No Brasil, as principais espécies responsáveis pela infecção humana são o P. falciparum e o P. vivax, sendo que este último é responsável por aproximadamente 80% dos casos de malária no país.
Como ocorre a transmissão da malária?
A forma clássica de transmissão é pela picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles. Popularmente, ele é conhecido como “mosquito-prego”. E, para que a transmissão aconteça, o mosquito precisa estar infectado com o plasmódio.
O ciclo é simples: o mosquito pica uma pessoa com malária e se contamina com o parasita. Depois, ao picar uma pessoa saudável, ele transmite o plasmódio, que entra na corrente sanguínea e começa a se multiplicar, primeiro no fígado e depois nas células vermelhas do sangue.
Um indivíduo infectado pode carregar o parasita por até 30 dias sem apresentar qualquer sintoma. Durante esse período, ele funciona como uma fonte silenciosa para a disseminação da doença. Se uma fêmea do mosquito-prego picar essa pessoa nesse intervalo, ela se contamina e passa a transmitir o protozoário para outras pessoas, mantendo o ciclo da malária ativo.
Além disso, existem formas mais raras de transmissão: por transfusão de sangue contaminado ou de mãe para o bebê durante a gravidez ou mesmo durante o parto.
Prevenção
A prevenção da malária passa necessariamente por evitar a picada do mosquito transmissor. As medidas de proteção individual são as mais importantes, principalmente para quem vive ou vai viajar para áreas de risco, como a região amazônica.
Sendo assim, as principais formas de se proteger são:
Usar mosquiteiros sobre a cama, de preferência impregnados com inseticidas.
Instalar telas de proteção em portas e janelas.
Vestir roupas de cor clara, com mangas compridas e calças, especialmente durante o entardecer e a noite, períodos de maior atividade do mosquito.
Aplicar repelentes de insetos na pele exposta.
Evitar locais próximos a beiras de rios, lagos ou áreas alagadas no final da tarde e durante a noite.
Usar ventiladores ou ar-condicionado.
Sintomas da malária
Os sintomas mais comuns da malária incluem febre alta, calafrios e suor intenso. Muitas pessoas também sentem dores de cabeça fortes e dores no corpo. Esses sinais geralmente aparecem em ciclos, repetindo-se a cada 48 ou 72 horas, dependendo da espécie do parasita envolvido.
A febre é um dos sinais de que o corpo está lutando contra a infecção. Ela é uma reação do sistema de defesa ao invasor, que neste caso é o Plasmodium se multiplicando no sangue.
Além dos sintomas clássicos, algumas pessoas podem sentir um cansaço e uma fraqueza fora do comum. Náuseas e vômitos também podem ocorrer. Em casos mais graves, a pele e os olhos podem ficar amarelados, um sinal de icterícia.
Riscos
A malária pode se tornar grave e até fatal se o tratamento não for iniciado rapidamente. A infecção pelo Plasmodium falciparum é a que apresenta o maior risco de complicações graves e potencialmente fatais, como anemia grave, acometimento pulmonar, falência dos rins e do fígado e malária cerebral. Por isso, ao primeiro sinal, a busca por ajuda médica deve ser imediata.
Alguns grupos de pessoas são mais vulneráveis e têm mais chance de desenvolver a forma grave da doença. São eles:
Gestantes.
Crianças com menos de 5 anos de idade.
Pessoas com o sistema imunológico enfraquecido por outras condições.
Indivíduos que nunca tiveram malária antes.
Exames que auxiliam no diagnóstico da malária
Para ter certeza de que uma pessoa está com malária, não basta apenas avaliar os sintomas. É fundamental identificar a presença do parasita Plasmodium no organismo, e isso é feito por meio de um exame de sangue.
O método mais utilizado no Brasil, considerado o “padrão-ouro” pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é o exame da gota espessa. Nesse procedimento, o profissional do laboratório coloca uma gota de sangue em uma lâmina de vidro, o que aumenta bastante as chances de detectar o parasita ao microscópio. Esse método é bastante eficaz e de baixo custo, mas depende de um especialista treinado e experiente para analisar corretamente a amostra.
Além do método clássico, hoje podemos utilizar diferentes técnicas:
Testes rápidos: funcionam de forma parecida com um teste de farmácia. Com uma pequena amostra de sangue, o dispositivo detecta substâncias que o parasita libera no corpo. A grande vantagem é ter o resultado em cerca de 20 minutos. A desvantagem é que, às vezes, eles podem não detectar infecções com uma quantidade muito baixa de parasitas.
Exame de PCR: é o teste de DNA da malária, a tecnologia mais sensível e precisa que existe. Ele consegue encontrar o material genético do parasita, mesmo em quantidades mínimas. É um exame excelente para confirmar a espécie exata do Plasmodium ou para tirar dúvidas em casos complexos. Por ser mais caro e demorado, costuma ser usado em situações mais específicas.
Formas de tratamento para a malária
O tratamento da malária é realizado com medicamentos chamados antimaláricos, e a sua escolha depende da espécie do Plasmodium, bem como da gravidade da doença. Por exemplo, na malária causada pelo Plasmodium vivax, é necessário um tratamento adicional para eliminar as formas do parasita que podem ficar “adormecidas” no fígado, podendo causar recaídas meses depois.
No Brasil, todos esses medicamentos são fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde. Assim que o diagnóstico laboratorial for confirmado, o tratamento deve começar imediatamente. É muito importante seguir todas as orientações do médico até o final, mesmo que os sintomas desapareçam antes do término do tratamento. Interromper a medicação precocemente pode levar a recaídas ou ao desenvolvimento de resistência do parasita aos medicamentos, dificultando o combate à doença.