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Existe um peso ideal?

Muita gente tem obsessão pela balança e vive em busca do “peso ideal”. Mas ele existe mesmo?

Por Sophie DeramPublicado em 22/08/2022, às 10:30 - Atualizado em 25/05/2023, às 14:54
Foto: Shutterstock

Antigamente calculava-se o peso ideal com uma fórmula simples que, para uma certa altura, fornecia um único peso.

Felizmente, esse conceito de peso ideal não é mais usado pelos profissionais de saúde atualizados. Por quê? Porque é óbvio que não existe um peso só para cada altura.

Há muitos tipos de corpos e cada pessoa é única. Precisamos respeitar a variabilidade e individualidade de cada um. Não faz sentido que todo mundo da mesma altura deva ter o mesmo peso.

Mais recentemente, o peso ideal passou a ser calculado pelo Índice de Massa Corporal, o conhecido IMC, que fornece faixas de peso para cada altura, permitindo maior flexibilidade. No entanto, essa fórmula também deve ser usada com cautela, como veremos mais adiante.

O IMC mede o peso de uma pessoa em relação à sua altura elevada ao quadrado por meio da seguinte fórmula: IMC = Peso ÷ Altura².

Esse cálculo fornece um número, analisado de acordo com as seguintes categorias adotadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS):

  • IMC inferior a 18,5 kg/m² significa baixo peso.
  • IMC entre 18,5 kg/m² e 24,9 kg/m² indica peso normal, é considerado o ideal.
  • IMC entre 25 kg/m² e 29,9 kg/m² aponta para o sobrepeso.
  • IMC acima de 30 kg/m² indica obesidade.

Provavelmente, você já foi a um médico, nutricionista ou outro profissional de saúde e ele calculou o seu IMC e definiu quantos quilos deveria ganhar ou perder para atingir o peso ideal ou aquele correspondente ao IMC normal.

O IMC é um método rápido e barato e até pode ser útil para medir tendências em grandes estudos populacionais, mas é preciso ter uma visão crítica quanto ao seu uso isolado e individual. Vamos entender melhor.

Peso ideal não determina saúde

Foto: Shutterstock

O peso ideal, calculado a partir do IMC, não determina saúde. Veja só, pessoas muito musculosas, como esportistas, podem ter um IMC alto, que indique excesso de peso ou obesidade, mas ter uma boa saúde.

Ao mesmo tempo, alguém com um IMC dentro da normalidade não necessariamente está saudável.

Esses exemplos são bons para mostrar a imprecisão do IMC. Mas não pense neles como exceções. Existem pessoas saudáveis de todos os tamanhos e formas. Qualquer um pode estar com o IMC acima do considerado ideal, e estar com saúde.

A definição da Saúde pela organização mundial da Saúde (OMS) é: um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”.

Saúde é bem-estar e não ausência de doença, também é importante reparar que não está mencionado a palavra “peso” na definição.

Existem muitos outros fatores no grande e complexo quebra-cabeça que determina nosso bem-estar. É por isso que a magreza não pode ser considerada sinônimo de saúde. Basta pensar nas diversas doenças que levam à perda de peso: depressão, câncer, hipertireoidismo, doenças infecciosas, etc.

Do mesmo modo, obesidade não deveria ser definida somente pelo peso, sendo necessários outros parâmetros, além do IMC, para avaliar e diagnosticar essa condição de saúde. É o que mostra o Canadian Adult Obesity Clinical Practice Guidelines, um guia canadense sobre tratamento da obesidade.

O mesmo guia mostra que reduções de 3% a 5% do peso corporal podem gerar benefícios à saúde. No entanto, esse percentual não necessariamente corresponde ao peso ideal do cálculo do IMC, e deve ser consequência de hábitos saudáveis.

Se realmente está em busca de uma vida mais saudável, o melhor é deixar de lado o número que aparece na balança e basear-se no conceito da OMS.

Em vez de peso ideal, busque um peso saudável. O peso em que você está com saúde.

Sem esquecer que o corpo de uma mesma pessoa muda ao longo da vida, pois constantemente sofre a influência de fatores biológicos (idade, altura, sexo), fisiológicos e mentais.

O peso saudável é um peso sustentável, possível de manter sem dietas restritivas ou outras práticas que agridem o corpo. Não deve ser visto como uma meta ou objetivo, mas resulta da adoção de comportamentos saudáveis.

Em resumo: é aquele peso que você tem quando está com saúde, bem-estar físico, mental e social, também em paz com a comida e com o corpo.  Que fique claro: ele é consequência da saúde e não o contrário.

4 dicas para ter um peso saudável

Já estamos de acordo que o peso ideal não existe, mas que é possível ter um peso saudável. Para ajudar você a encontrar o seu, trago aqui 4 dicas.

1. Aceite o seu corpo como ele é

Muitas pessoas pensam que aceitar o corpo é se acomodar. Estão enganadas. A aceitação é o primeiro passo para começar a cuidar de si e abrir a jornada da mudança.

Sabemos que não é uma tarefa fácil, pois diariamente sofremos pressão para emagrecer, ter um peso ideal e atingir um padrão de beleza geralmente irreal a qualquer custo de saúde.

Conteste esses padrões irreais e comece a se aceitar para conseguir a sua melhor versão e não tentar ser outra pessoa. Se isso ainda não for possível para você, procure uma relação de neutralidade com seu corpo.

Valorize mais o que ele permite fazer: dançar, cantar, trabalhar, viajar, conversar… e tente pensar menos somente na forma que ele tem.

Pode parecer contraditório, mas com essa atitude fica mais fácil cuidar-se, parar a luta contra si, mudar, adquirir novos hábitos e atingir um peso saudável por consequência, sem agredir o seu corpo e a sua mente.

2. Coma mais comida fresca e caseira

Alimentação saudável não tem nada a ver com sair cortando carboidratos, açúcares, gorduras, calorias. Na verdade, isso se chama terrorismo alimentar.

Deixe essas crenças de lado e tente comer mais comida fresca e caseira e reduzir o seu consumo de alimentos industrializados. Sem neuras! Esse pode ser um resumo da regra de ouro do nosso Guia Alimentar para a população brasileira: “Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados a alimentos ultraprocessados”.

3. Alimente-se de outras energias

Quem busca perder peso, geralmente acredita que precisa fechar a boca e malhar mais.

Mas, quanto à alimentação, o importante é comer melhor. Quanto a malhar, não precisa entrar numa academia se você não gosta. Mas que tal ser mais ativo? Isso inclui preferir as escadas ao elevador, fazer faxina, ir ao trabalho de bicicleta, bem como praticar algum exercício físico que proporcione prazer: caminhada, corrida, dança…. Experimente!

Além disso, tente encontrar as pessoas que gosta, tenha momentos de descanso, durma bem e organize uma rotina adequada para as suas atividades diárias.

4. Busque ajuda profissional

Por fim, se está nessa busca desenfreada por um peso ideal e se seu corpo e a comida têm sido fontes de sofrimento, considere primeiro fugir da mentalidade de dieta e da desinformação sensacionalista.

E considere buscar ajuda de profissionais especializados e com conhecimento sobre comportamento alimentar, que possam contribuir para a sua saúde física e mental.

Bon appétit!

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