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A qualidade de vida durante o tratamento de câncer

Exercícios, boa alimentação, apoio psicológico e avanços na tecnologia ajudam pacientes oncológicos

Por Tiemi OsatoPublicado em 06/09/2022, às 19:11 - Atualizado em 25/05/2023, às 15:19
Foto: Shutterstock

Um dos grandes objetivos dos oncologistas é aumentar o tempo de vida dos pacientes. Em termos técnicos, isso é chamado de sobrevida global. Nos últimos anos, um outro parâmetro tem entrado no radar dos médicos: a qualidade de vida.

Essa é a expressão que se refere ao bem-estar e à capacidade de um indivíduo de cumprir suas atividades do cotidiano, sem que elas se tornem extenuantes ou desconfortáveis. Isso inclui diversas dimensões da vida de alguém, como a física, a psicológica e a social.

“Além daqueles dados mais clássicos dos quais os médicos sempre vão atrás, como sobrevida e taxa de resposta, agora, a qualidade de vida tem que pesar muito nas decisões”, afirma o oncologista Tiago Kenji, diretor-técnico do Instituto de Oncologia do Hospital Santa Paula (IOSP). “Isso tem sido cada vez mais debatido e os estudos a respeito do assunto estão aumentando”, complementa.

Inclusive, um artigo publicado no The Lancet Oncology em 2019, liderado pela Organização Europeia de Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC), mostra que, junto com a idade da pessoa e o estágio do tumor, a percepção do paciente quanto à qualidade de vida também é um fator importante para entender o prognóstico.

Em pesquisas, a qualidade de vida costuma ser avaliada por questionários que podem ter até 50 perguntas. Já na prática médica do dia a dia, isso geralmente é mensurado de forma menos detalhada.

“Nós avaliamos de maneira global: registramos o que o paciente está sentindo e tentamos corrigir eventuais sintomas, mas sempre atentos à qualidade de vida”, diz a oncologista Anelisa Coutinho, diretora de Relações Institucionais da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

Nesse sentido, as medicações são grandes aliadas na manutenção da qualidade de vida. Há fármacos específicos para amenizar possíveis efeitos adversos de tratamentos oncológicos, como náusea, diarreia e prisão de ventre, por exemplo.

E, além dos medicamentos, existe uma série de outros recursos que ajudam os pacientes oncológicos a terem uma melhor qualidade de vida:

Prática de atividades físicas

Foto: Shutterstock

Exercitar-se com frequência é bom para a saúde de todo mundo. No caso de pessoas com câncer, também é benéfico – mas é fundamental consultar o médico e checar a intensidade ideal para cada paciente, já que não são todos os estágios e tipos de tumor ou fases do tratamento que combinam com atividades físicas.

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Ressalvas à parte, sabemos que manter-se ativo é bom para o coração e para os pulmões. “A atividade física melhora o funcionamento de sistemas do corpo que são necessários para um bom tratamento e uma boa recuperação”, comenta Coutinho.

Em outras palavras, o organismo fica fortalecido como um todo e melhor preparado para o tratamento.

A atividade física pode ainda melhorar a imunidade, diminuir os níveis de insulina – consequentemente reduzindo alguns fatores que estimulam o crescimento tumoral – e contribuir para o bom humor.

“Existem trabalhos que mostram que o exercício melhora a tolerância à quimioterapia, traz melhor qualidade de vida e até um desfecho clínico mais valorizado por médicos, como grande sobrevida e redução dos efeitos colaterais”, complementa Kenji.

Alimentação saudável

Foto: Shutterstock

Contar com orientação nutricional individualizada durante o tratamento oncológico é bem importante. Assim como as atividades físicas, uma alimentação adequada pode deixar o corpo melhor preparado para receber as medicações necessárias e fortalecer o sistema imunológico.

“Há evidências de que a alimentação ocidental é ruim do ponto de vista oncológico”, ressalta Kenji. “Uma dieta com frituras, alimentos processados e rica em gorduras é pró-câncer e pode dificultar a tolerância ao tratamento.”

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Quanto mais natural a alimentação, melhor. Em vez de alimentos fritos, é preferível optar pelos cozidos e grelhados – e não exagerar no consumo de carne vermelha. Também vale a pena ter sempre como base uma diversidade de legumes e frutas, evitando enlatados, defumados e conservas. E o básico: não esquecer de ingerir bastante água.

“Isso tudo interfere tanto diretamente, diminuindo a produção de substâncias que possam ser tóxicas, como indiretamente, contribuindo para o equilíbrio em geral e melhorando a imunidade e o bem-estar dos indivíduos”, explica Coutinho.

Acompanhamento psicológico

Cuidar das dimensões físicas do corpo, como acabamos de ver, é essencial. O cuidado psicológico, porém, não pode ficar esquecido.

“A esfera emocional também pode ficar  comprometida durante o tratamento, uma vez que, na doença, a pessoa está exposta a uma situação nova e diferente, com ansiedade, medos e expectativas”, constata Coutinho.

Por isso, contar com suporte psicológico é um dos pilares do tratamento oncológico. A conversa com um profissional especializado é o momento ideal para a pessoa dizer tudo que quiser sobre essa fase da vida e encontrar um acolhimento qualificado.

“Um paciente emocionalmente bem vai se engajar mais e ter uma melhor adesão ao tratamento”, afirma Adriana Fernandes, psicóloga especialista em oncologia do Centro de Infusão do Hospital Nove de Julho. “Ele vai seguir com mais afinco todas as orientações médicas e vai ter até mais força para o autocuidado”, acrescenta.

+LEIA MAIS: O cuidado emocional no tratamento do câncer

O apoio psicológico também pode ajudar na reconstrução da autoestima e da autonomia do indivíduo. “É a autonomia de poder escolher o que quer fazer com a sua vida. Um paciente que tem autonomia tem voz de escolha, as pessoas não podem decidir por ele”, diz Fernandes.

Avanços tecnológicos

Da telemedicina a descobertas de drogas mais eficazes, a tecnologia tem contribuído em peso para aprimorar os tratamentos oncológicos.

O teleatendimento, por mais simples que possa parecer, tem um impacto significativo na rotina dos pacientes na medida em que oferece praticidade.

“A telemedicina poupa muitas vindas ao consultório e acelera a resolução de casos”, comenta Kenji. “Às vezes, o paciente faz tudo quase sem sair de casa. Em um ambiente estressante como a cidade de São Paulo, isso pode melhorar a qualidade de vida.”

E se o assunto é personalização do tratamento, a tecnologia demonstra um potencial ainda maior. É por meio dela que os pesquisadores estão conseguindo entender melhor os vários tipos e subtipos de câncer, identificando as mutações que “comandam” certos tumores.

+LEIA MAIS: É possível usar a tecnologia a nosso favor?

Um exemplo: o câncer de pulmão EGFR mutado (que corresponde a cerca de 10% dos casos) hoje tem tratamento. É uma droga via oral que pode ser tomada em casa, não gera queda de cabelo, não diminui as defesas do corpo, não requer consultas tão constantes e tem uma eficácia maior que a da quimioterapia.

Embora esse tratamento só sirva para uma pequena parcela das pessoas com câncer de pulmão, é um grande avanço que beneficia muito os pacientes desse subgrupo com a mutação no gene EGFR.

A boa notícia é que a oncologia toda segue nessa direção.  “Os cânceres de pulmão e de mama estão mais à frente, mas é assim que estamos caminhando em todos os cenários: personalizar o tratamento para aumentar a eficácia e reduzir os efeitos colaterais”, finaliza Kenji.

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