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Solidão aumenta chances de doenças do coração

Risco também é aumentado para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 e câncer

Por Raquel RibeiroPublicado em 05/12/2022, às 09:32 - Atualizado em 25/05/2023, às 15:32
Foto: Shutterstock

Estar só, sentir-se desamparado ou ter medo de ficar sozinho. Quase todo mundo já vivenciou esses sentimentos em algum momento da vida. E muitos de nós não damos o devido valor a eles, deixando para ampliar o convívio social em algum momento no futuro…

Neste artigo, você vai ler:

Pois sabia que a solidão pode trazer uma série de malefícios para a nossa saúde mental  e física, aumentando a chance de doenças cardíacas e reduzindo a expectativa de vida.

A conclusão é da Associação Americana do Coração publicada no Journal of the American Heart Association. A análise feita pela instituição mostrou que o isolamento social está associado a um aumento de cerca de 30% no risco de ataque do coração (infarto) ou AVC (acidente vascular cerebral).

E apesar de ser um risco aumentado, especialmente para os idosos, uma vez que é geralmente nesta fase da vida que ocorre a viuvez e também a aposentadoria, os mais jovens também podem ser afetados, inclusive por conta do isolamento social causado pela Covid-19.

“O estilo de vida de quem é solitário também contribui com esse risco, uma vez que pessoas solitárias tendem a ser mais sedentárias, além de comerem mais comidas processadas e serem mais estressadas, o que consequentemente eleva o cortisol que, desregulado, provoca um efeito ruim no nosso sistema cardiovascular”, explica Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).

E não para por aí. Apesar de não haver comprovação absoluta de causa e feito, estudos já demonstram que a solidão pode favorecer o surgimento de condições como:

  • Pressão alta;
  • Estresse e ansiedade;
  • Depressão;
  • Insônia ou dificuldade para dormir;
  • Dor nos músculos e articulações:
  • Obesidade;
  • Alteração de açúcar no sangue: estudo realizado durante mais de 20 anos mostrou que o diabetes tipo 2 aumentou drasticamente nas duas últimas décadas, tendo a solidão como fator de risco para a doença. A pesquisa mostrou que as pessoas que se sentem solitárias têm duas vezes mais chances de desenvolver diabetes.
  • Predisposição ao desenvolvimento de câncer: em outro estudo realizado acompanhando 2.570 homens por até 44 anos mostrou que a solidão é um fator de risco para a mortalidade por câncer. Outro estudo sugeriu que as mulheres solitárias têm um risco aumentado para os cânceres de mama, pulmão e colorretal. 

O que é a solidão?

O dicionário diz que solidão é “o estado de quem se acha ou se sente desacompanhado ou só”. Por isso, faz sentido dizer que a solidão não é necessariamente sobre estar só, mas sim sobre se sentir só. É um sentimento que surge ao não ser compreendido ou aceito. Logo, é possível estar cercado de pessoas e ainda assim se sentir solitário.

Como combater a solidão?

Mas o que fazer então? A verdade é que existem alguns caminhos a seguir. Listamos a partir de agora alguns passos que podem te ajudar a lidar com a solidão:

1) Reconheça a situação em que se encontra

O primeiro passo é reconhecer que você tem uma questão a ser resolvida. Essa primeira fase de reconhecimento é importante porque a nossa mente tem a tendência de ficar em negação, fugindo da realidade quando uma situação muito desfavorável e desconfortável de encarar. 

2) Elimine (ou ao menos reduza) a culpa

A culpa, em excesso, impede que a gente tenha um olhar mais acolhedor para uma determinada situação e um julgamento menos duro com nós mesmos.

E isso vale até para aquele culpa que bate por estarmos tristes. “Vale lembrar que a ausência de problemas financeiros ou físicos não impedem que uma pessoa se sinta só. Por isso, é importante não se culpar em sentir-se vazio ou abandonado, mesmo que outras áreas da vida estejam estáveis”, explica Luiz Gonzaga Leite, coordenador do departamento de Psicologia do Hospital Santa Paula e doutor em Psicologia Clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)

Olhar para a situação com racionalidade é fundamental. Fazer questionamentos é importante e pode ajudar a ter maior clareza sobre a situação. Já a culpa, só estimula a tristeza e a autodepreciação. 

Por isso, o ideal é afastar a culpa e focar na resolução do problema de forma mais prática e, dentro do possível, menos emocional.

3) Se coloque em primeiro lugar

Isso significa respeitar os próprios sentimentos e desejos. Inclusive, não levar para o lado pessoal tudo que escuta. Afinal, nem sempre seus familiares ou amigos irão apoiar suas decisões. 

Entender o que realmente importa para você e colocar-se como prioridade e tenha ao seu redor pessoas que respeitam as suas escolhas independentemente de serem diferentes das delas. 

Pratique o autocuidado, reflita sobre quais são suas metas e como pretende alcançá-las. Acima de tudo, confie em si mesmo e tenha em mente que as suas ações estão direcionando você para o seu bem-estar.

“A pessoa mais solitária, geralmente, se preocupa menos com a própria alimentação e saúde, pois ela não encontra motivos para isso e não tem uma pessoa para estimular os hábitos saudáveis”. conta Danielle.

4) Faça mais daquilo que gosta

Qual foi a última vez que você fez algo que lhe deu prazer? Fazer coisas que nos dão satisfação aumentam o nosso “hormônio da felicidade”, a serotonina, regulando nosso humor, apetite, sensibilidade e funções cognitivas, como a memória e a linguagem.

Por isso, ao tomar essa atitude e decidir fazer algo pelo seu bem-estar, diminui as chances de você se abater nos momentos em que se sentir sozinho. Algumas dicas são:

5) Divirta-se sozinho

Acredite: é possível se sentir solitário mesmo estando cercado de pessoas. Por isso, não deixe de aproveitar a sua própria companhia. Faça coisas novas e libertadoras longe do julgamento alheio.

Desfrutar da própria companhia, além de uma excelente ferramenta de autoconhecimento, é também uma expressão de autocuidado. Por isso, não deixe de fazer coisas novas que tenham significado para você. Assim, poderá encontrar muita felicidade na própria companhia.  

6) Tenha um animal de estimação

A companhia de animais de estimação é uma excelente forma de combater a solidão. Isso porque, os animais, especialmente os cachorros, tendem a desempenhar uma excelente função de facilitador da afetividade, pois são fontes inesgotáveis de afeto e amor.

O simples ato de fazer carinho em um animal é capaz de diminuir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse.

Além disso, eles podem estimular ações que aumentam o bem-estar de modo geral, como no caso dos passeios com os cães que, além da atividade física de caminhar, pode promover a interação com outras pessoas que encontrar pelo caminho.

7) Busque ajuda profissional

Foto: Shutterstock

Procurar a ajuda de um psicólogo e/ou psiquiatra, por exemplo, poderá te auxiliar a compreender melhor a situação, com um olhar externo e profissional.

“Nessas horas é importante lembrar que somos seres sociáveis e que precisamos de pessoas no nosso convívio. Ao se perceber muito sozinho é necessário procurar ajuda profissional que ajude a entender o que está acontecendo do ponto de vista social”, explica Danielle.

A ajuda psicológica é de grande valia em diversas situações. No caso da solidão, o profissional é capaz de ajudar a pessoa a preencher o vazio causado por esse sentimento. De modo que a pessoa que se sente solitária possa encontrar a felicidade internamente, sem depender de fatores externos que estão fora do seu controle.

Na terapia, o indivíduo pode identificar fatores que causam o sentimento da solidão, mas que possam não estar tão visíveis e, assim, encontrando e trabalhando na raiz do problema é possível mudar pensamentos negativos.

“É imprescindível procurar um apoio profissional se a solidão causa sintomas físicos. Inclusive, caso esteja relacionada a outros sintomas como tristeza, alteração do apetite ou sono. Isso porque pode estar associada a outras condições de saúde, como a depressão, por exemplo”, afirma Gonzaga.

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