Adenomiose: o que é, sintomas e tratamento
Doença uterina pode causar aumento de sangramento durante menstruação e requer tratamento
Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que uma em cada 10 mulheres no mundo pode ter adenomiose no período reprodutivo. A doença, que acomete as paredes do útero, é pouco conhecida, mas requer atenção, pois, sem tratamento, pode evoluir para outras enfermidades e prejudicar o bem-estar da mulher, especialmente durante o período menstrual.
Neste artigo, você vai ler:
“A adenomiose pode levar a anemia, devido ao aumento do sangramento menstrual, além da possibilidade de causar infertilidade, por alterar a estrutura do miométrio e a função do endométrio, ambas camadas do útero”, explica Thais Farias Koch, ginecologista do Hospital Nove de Julho.
A condição é mais comum em mulheres acima dos 30 anos e que já passaram por uma gravidez, mas pode também acometer pessoas mais jovens e que ainda não tiveram filhos.
A boa notícia é que o tratamento permite melhora dos sintomas e possibilidade de restabelecer a qualidade de vida da mulher. Além disso, pode retardar a evolução da doença.
Veja a seguir mais detalhes sobre o tema.
O que é adenomiose?
Antes de mais nada, você deveria conhecer as três camadas do útero: endométrio (camada mais interna), miométrio (camada muscular, intermediária) e serosa (camada mais externa).
A adenomiose é uma doença no miométrio. Ou seja, uma doença uterina definida pela presença de células e glândulas endometriais no miométrio.
Principais sintomas
- Dismenorreia: dor pélvica durante o período menstrual. Costuma aparecer no primeiro dia do ciclo;
- Dor pélvica crônica: caracterizada por uma sensação de dor;
- Sangramento menstrual aumentado;
- Dispareunia: dores que persistem durante ou depois da relação sexual. Podem se apresentar em forma de ardência ou ainda como uma cólica muito forte;
- Inchaço abdominal.
“Apesar de esses serem os sintomas mais comuns, cerca de 30% das pacientes com adenomiose podem não apresentar nenhum deles”, lembra a ginecologista.
Causas da adenomiose
Até o momento não se sabe ao certo a causa da adenomiose. No entanto, existem duas hipóteses.
A primeira é que procedimentos como cesariana e curetagem uterina, bem como múltiplos partos, promovem uma ruptura do limite entre a camada mais profunda do endométrio e o miométrio subjacente, em uma região chamada “zona juncional”, e isso predispõe ao desenvolvimento da adenomiose.
Já a segunda, envolve fatores genéticos que favorecem a diferenciação inadequada de tecido embrionário ou células tronco para tecido endometrial nessa região do miométrio.
Diagnóstico
O diagnóstico da adenomiose é feito por meio da avaliação da história e dos sintomas de cada pessoa.
Além disso, é feito um exame físico, auxiliado por outros de imagem como ultrassom transvaginal, ressonância magnética da pelve e histeroscopia.
“Cada exame tem um papel no diagnóstico. A ressonância magnética da pelve, por exemplo, é capaz de verificar onde se encontram alterações em uma região do útero chamada de ´zona juncional´, que é a transição do miométrio e o endométrio”, explica Thais.
Em alguns casos, a histeroscopia, exame ginecológico de imagem que permite visualizar o interior do útero e o canal endocervical (parte mais externa do útero, que se estende para dentro da vagina), também pode ajudar no diagnóstico.
Tratamentos
O tratamento definitivo da adenomiose é a histerectomia, cirurgia para a retirada do útero. Podendo ser ela:
Em alguns casos, pode ser feito retirada de focos isolados de adenomiose, cirurgia que preserva o útero, abordagem por histeroscopia, radiofrequência, ultrassom focalizado e embolização.
A cirurgia pode ser realizada por algumas técnicas, são elas:
Histerectomia Laparoscópica: neste modelo, geralmente, são feitos pequenos furos no abdome e na pelve, que possibilitam a entrada de uma câmera no umbigo para a visualização dos órgãos. Com ela, é possível identificar e realizar o tratamento de adenomiose.
Histerectomia Robótica: cirurgia realizada por um dispositivo computadorizado que tem pelo menos dois médicos cirurgiões, onde um fica no console e outro no campo cirúrgico. Seu objetivo é contribuir para que os médicos tenham melhor assistência no momento da cirurgia. Além disso, com a histerectomia robótica há menor chance de perda de sangue, melhor recuperação do paciente e alta do hospital mais precoce.
“Costumamos dar preferência às técnicas minimamente invasivas, como a robótica e a laparoscopia, pois ambas permitem uma recuperação mais rápida e com menos dor no pós-operatório”, lembra Thais.
Cirurgia convencional (laparotomia): trata-se de uma técnica cirúrgica usada desde a antiguidade, onde é realizada a abertura do abdômen para a visualização dos órgãos. É uma cirurgia mais agressiva e, portanto, requer mais tempo de internação do indivíduo.
Medicamentos: podem ser de uso hormonais ou não hormonais. Os hormonais incluem: pílulas anticoncepcionais, para a melhora dos sintomas que a adenomiose pode causar (dor pélvica, na menstruação, sangramento menstrual e/ou na relação sexual); DIU hormonal Mirena e implantes, ou não hormonais que são: analgésicos, anti-inflamatórios e anti-hemorrágicos.
Aliado a esses tratamentos, ainda podem ser realizados:
Fisioterapia pélvica: a técnica que atua na reabilitação das disfunções do assoalho pélvico. Tem papel fundamental na adenomiose, pois age nas estruturas que estão com poucos movimentos, liberando-as. O resultado é a diminuição das dores e inchaços abdominais.
Meditação e Yoga: ambas as práticas auxiliam tanto no controle dos sintomas quanto na evolução da doença.
Acupuntura: terapia feita com agulhas inseridas em pontos específicos do corpo.
Estilo de vida saudável: isso inclui uma alimentação anti-inflamatória, a prática de atividade física, sono regular, além do manejo do estresse.
No entanto, em muitos casos, é possível alcançar a melhora dos sintomas e qualidade de vida dos indivíduos mesmo sem cirurgia.
Veja a seguir as três perguntas mais buscadas pelos leitores e suas respostas.
Adenomiose é câncer?
Não. A adenomiose é uma doença benigna, não é câncer. Mas há estudos que apontam para o risco baixo/raro de desenvolvimento de câncer de miométrio e endométrio. De qualquer forma, ainda não se sabe todos os mecanismos que podem levar a isso.
A adenomiose pode afetar a gravidez?
Sim. Apesar de a maioria das mulheres com adenomiose não apresentarem problemas durante a gravidez, há um risco de diminuição da taxa de gestação, um aumento do risco de abortos, partos prematuros, rotura prematura de membranas (vazamento do líquido amniótico que envolve o feto em qualquer momento antes de o trabalho de parto ter começado), além de bebês pequenos para a idade gestacional.
Qual a diferença entre adenomiose e endometriose?
Ambas as doenças acometem o tecido endometrial, mas são diferentes. Na endometriose, por exemplo, o tecido endometrial se instala em órgãos como ovários, intestino e bexiga. Na adenomiose, por sua vez, o tecido endometrial cresce na parede do útero, no miométrio.
Fonte: Thais Farias Koch, ginecologista do Hospital Nove de Julho