Afta na boca: lesões são comuns, mas nem sempre inofensivas
Embora não seja contagiosa, a estomatite aftosa recorrente pode ser um sinal de deficiências nutricionais, estresse ou doenças sistêmicas.
A afta na boca é uma condição extremamente comum, com estudos indicando que a estomatite aftosa recorrente (seu nome técnico) pode afetar até 20% da população em algum momento da vida.
Neste artigo, você vai ler:
Essas pequenas úlceras, que surgem na mucosa bucal, são conhecidas pela dor e desconforto que causam. Na grande maioria dos casos, são lesões benignas que desaparecem sozinhas, mas, quando se tornam recorrentes, podem indicar desde uma queda na imunidade até a existência de condições de saúde que merecem investigação.
Afta na boca: o que é?
A afta na boca, cientificamente chamada de estomatite aftosa recorrente (EAR), é uma doença que afeta a cavidade oral e se manifesta como uma ou mais úlceras (feridas) dolorosas que aparecem nas áreas mais moles da boca, como a parte interna dos lábios e bochechas, a língua, o assoalho da boca e o palato mole.
Geralmente, as aftas são redondas ou ovaladas, e esbranquiçadas ou amareladas no centro, com uma auréola ou halo de cor avermelhada bem definida ao redor. Antes mesmo de a lesão ser visível, a pessoa pode sentir uma leve ardência ou queimação no local.
As aftas não são infecciosas e são classificadas da seguinte forma:
- Afta menor: é a forma mais comum, correspondendo a mais de 80% dos casos. As lesões são pequenas, com menos de 1 centímetro de diâmetro, e geralmente cicatrizam em uma a duas semanas sem deixar marcas.
- Afta maior: são menos frequentes e mais severas. As úlceras são maiores, mais profundas e podem levar de semanas a meses para cicatrizar, com a possibilidade de deixar cicatrizes.
- Afta herpetiforme: é a forma mais rara. O nome se dá pela semelhança com as lesões de herpes. São vários pequenos pontos (de 10 a 100) que podem se unir e formar uma grande úlcera. Apesar do nome, não tem nenhuma relação com o vírus herpes.
Principais causas para a afta na boca
Não há um único fator, e sim uma combinação de gatilhos e predisposições. A principal teoria é que o problema está ligado a um desequilíbrio no sistema imunológico. As principais causas associadas são:
- Pequenos machucados na boca: isso inclui mordidas acidentais na bochecha ou na língua, o atrito causado por aparelhos ortodônticos, próteses mal ajustadas ou até mesmo uma escovação dental mais agressiva.
- Períodos de grande estresse e ansiedade, cansaço e noites mal dormidas.
- Predisposição familiar: pessoas com pais que sofrem com aftas recorrentes têm uma chance muito maior de também desenvolverem o problema.
- Deficiências nutricionais como as de ferro, ácido fólico e, principalmente, algumas vitaminas do complexo B (como a B12).
- Alterações hormonais ligadas ao ciclo menstrual.
- Alimentos específicos, como os cítricos (abacaxi, limão, laranja), chocolate, café e nozes.
- Imunidade baixa, que pode ser causada por estresse, má alimentação e doenças que comprometem o sistema de defesa.
Em uma minoria dos casos, as aftas recorrentes podem ser um sintoma de doenças mais complexas, principalmente as que afetam o sistema digestivo, como a Doença de Crohn e a doença celíaca. Problemas no estômago e no intestino podem ter manifestações na boca.
Vale mencionar que, embora a úlcera gástrica seja uma lesão no estômago, ela compartilha com a afta a natureza de ser uma “ferida” em uma mucosa, mas suas causas e tratamentos são completamente diferentes.
Afta na boca é transmissível?
Não, a afta na boca não é uma doença contagiosa. Ela não é causada por um vírus ou bactéria que possa ser transmitido pelo beijo, pelo compartilhamento de talheres, copos ou qualquer outro tipo de contato. Trata-se de um processo inflamatório local, e não de uma infecção transmissível.
Formas de prevenir
Para prevenir a afta na boca é preciso evitar os gatilhos para a condição. Dessa forma, algumas medidas seriam indicadas:
- Escovar os dentes com calma e movimentos suaves, com uma escova de cerdas macias para evitar traumas na mucosa.
- Gerenciar o estresse e buscar uma boa qualidade de sono.
- Consumir alimentos ricos em vitaminas e minerais, como ferro, ácido fólico e B12. E, se perceber que certos alimentos desencadeiam as aftas, evite-os.
- Visitas regulares ao dentista para manter a saúde bucal em dia e fazer eventuais ajustes em próteses ou aparelhos que possam estar causando atrito.
Quando procurar por um médico?
Embora a afta comum não seja motivo de grande preocupação, a avaliação de um profissional (dentista ou médico) é importante em algumas situações específicas. Portanto, fique atento aos seguintes sinais de alerta:
- Se as lesões são muito grandes (com mais de 1 cm de diâmetro).
- Se as aftas demoram mais de três semanas para cicatrizar completamente.
- Se a dor é tão intensa que impede a alimentação ou a hidratação.
- Se os surtos são muito frequentes, acontecendo um atrás do outro.
- Se as aftas na boca vêm acompanhadas de outros sintomas, como febre, perda de peso, cansaço excessivo ou o aparecimento de lesões em outras partes do corpo (como na região genital).
Exames que auxiliam a identificar as causas para a afta na boca
O diagnóstico da afta na boca é, na maioria das vezes, clínico. Ou seja, o profissional de saúde consegue identificá-la apenas com base na aparência da lesão e nos relatos do paciente.
Mas, quando há suspeita de uma causa subjacente para as aftas recorrentes ou atípicas, alguns exames podem ser solicitados para investigação. Os mais comuns são exames de sangue, que podem verificar a presença de anemia ou deficiências nutricionais de ferro, vitamina B12 e ácido fólico.
Em casos mais raros ou quando a lesão não cicatriza e há dúvida diagnóstica, o médico ou dentista pode realizar uma biópsia, removendo um pequeno fragmento da lesão para análise em laboratório.
Como curar afta na boca
Não existe um remédio que “cure” a afta instantaneamente, pois ela tem um ciclo natural de cicatrização. O foco deve ser aliviar os sintomas, principalmente a dor, e acelerar o processo de recuperação. E os tratamentos tópicos são a principal alternativa.
Eles incluem o uso de pomadas, cremes ou géis com propriedades analgésicas, anti-inflamatórias ou que formam uma película protetora sobre a lesão. Medicamentos com corticoides em sua composição só devem ser usados sob prescrição médica.
Também é recomendado evitar alimentos ácidos, salgados ou muito condimentados que possam irritar a ferida, além de escovar os dentes de forma suave.
Em casos muito graves ou recorrentes, associados a doenças sistêmicas, o médico pode prescrever medicamentos de uso oral para controlar a inflamação e a resposta imune.
O mais importante: não tente se automedicar. Bochechos caseiros, como os com água e sal, não são consensuais e podem até irritar mais a lesão em algumas pessoas. O ideal é sempre buscar a orientação de um profissional.
Fonte: Dra. Laura Lopes – Endocrinologista