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Por que alimentos ultraprocessados fazem mal?

Novas pesquisas reforçam malefícios de ingerir excesso de produtos industrializados

Por Danielle SanchesPublicado em 16/12/2022, às 16:50 - Atualizado em 28/07/2023, às 09:52
Imagem: Shutterstock

“Desembalar menos e descascar mais”. Esse lema sagrado de tantos médicos e nutricionistas significa que, para manter a saúde, é mais importante comer alimentos frescos e naturais do que encher a despensa com produtos industrializados e ultraprocessados. 

Mas o que seriam alimentos ultraprocessados? O termo foi cunhado por Carlos Augusto Monteiro, médico e professor titular do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), e engloba alimentos feitos com matéria-prima barata (como farinha, açúcar e óleo) e aditivos químicos para dar mais cor, sabor e textura, criando um alimento mais “saboroso” e palatável. 

“São produtos que passaram por um maior processamento industrial e têm alta concentração de açúcares, gorduras, substâncias sintéticas e conservantes”, afirma Érica Oliveira, nutricionista do Hospital Nove de Julho, em São Paulo. 

O problema é que, por serem altamente palatáveis, é fácil consumir esses alimentos aos montes. Salgadinhos, macarrão instantâneo, embutidos e bolachas são hoje produtos com uma variedade incrível disponível em qualquer supermercado. 

Mas mesmo uma pequena quantidade já pode fazer a diferença, afirma Oliveira. “Por isso, recomendamos evitar qualquer consumo”, explica a especialista. 

O que alimentos ultraprocessados podem causar? 

Existem inúmeros estudos ligando o alto consumo de alimentos ultraprocessados a diversos problemas de saúde: muitos tipos de câncer (em especial, os do trato gastrointestinal e o de mama), obesidade, diabetes, hipertensão, declínio cognitivo, síndrome metabólica e por aí vai. 

Recentemente, dois estudos reforçaram os dados sobre os malefícios desse tipo de alimento na dieta humana. Ambos foram publicados no periódico BMJ, um dos mais respeitados no universo da saúde pública. 

A primeira pesquisa analisou mais de 24 mil adultos na Itália e mostrou que, entre os que tinham o hábito de consumir alimentos ultraprocessados em grandes quantidades, havia um risco aumentado para morte precoce e, em especial, de morte por problemas cardíacos. 

Já o segundo estudo, que contou com a participação de pesquisadores brasileiros, acompanhou mais de 200 mil trabalhadores da saúde americanos durante quatro anos e descobriu que os homens que consumiam muita comida ultraprocessada tinham 29% mais risco de desenvolver câncer colorretal do que os homens com consumo baixo desses produtos. 

Os estudos foram acompanhados de um editorial assinado por Monteiro e Geoffrey Cannon, pesquisadores que acompanharam os dois estudos. Nele, os especialistas reforçam que as “novas formulações” apresentadas pela indústria – como a substituição de aditivos e outros ingredientes – não são suficientes para resolver o problema. 

A solução, então, seria investir em ações de política de saúde pública, incluindo aí guias alimentares para a população, para incentivar o consumo de alimentos naturais e comida caseira em detrimento dos ultraprocessados. 

Nesse sentido, o Ministério da Saúde oferece o Guia Alimentar para a População Brasileira, que apresenta os princípios básicos de uma alimentação saudável levando em conta a cultura brasileira e a disponibilidade de alimentos por aqui. 

Por que alimentos ultraprocessados causam problemas?

Porque a grande quantidade de açúcar, gordura e outros ingredientes e aditivos químicos é muito alta, ultrapassando o limite do que o nosso corpo consegue processar. 

No caso das gorduras e do sódio, por exemplo, o alto consumo de ultraprocessados leva ao maior risco de desenvolver obesidade e hipertensão – dois problemas que estão altamente ligados aos eventos cardiovasculares, como infarto e AVC (acidente vascular cerebral). 

Além disso, alguns conservantes e corantes também estão ligados ao surgimento de câncer colorretal. Isso se dá porque essas substâncias provocam uma inflamação nas células intestinais, o que pode estimular o crescimento desordenado de novas células. 

“Esses alimentos também prejudicam a microbiota intestinal, já que a baixa presença de fibras estimula o crescimento de bactérias ruins”, afirma Oliveira. 

Uma coisa que dificulta tudo é que, por serem hiperpalatáveis (ou seja, com um sabor muito, muito gostoso), é fácil consumir esses alimentos em grandes quantidades e geralmente mais de uma variedade ao mesmo tempo. 

Assim, a quantidade de gorduras, sódio, açúcar e outros aditivos químicos ingeridas no dia também extrapola e muito os níveis considerados saudáveis. 

No caso dos doces, por exemplo, a alta palatabilidade ainda ativa nosso sistema de recompensa no cérebro, “ensinando” que merecemos algo tão gostoso quanto aquele alimento – que tem um sabor artificial – que ocorre quando “merecemos” ou quando estamos estressados e precisamos de um conforto.  

Imagem: Shutterstock

O que pode ser feito?

Como falamos no início do texto: desembalar menos e descascar mais. Ou seja, substituir na alimentação os ultraprocessados e incluir mais frutas, legumes, hortaliças, carnes magras, leite e ovos, por exemplo. 

Mas não precisa ser radical. “É possível também incluir alguns alimentos menos processados também, garantindo assim uma alimentação rica e balanceada em vitaminas e nutrientes”, afirma Oliveira. 

Vale, ainda, virar adepto da boa e velha marmita, preparando as refeições em casa, com temperos caseiros e menos sal, para não ter que apelar ao delivery quando a fome bater. 

 

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