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    Anorexia Nervosa: o que é, causas e tratamento

    Mais comum entre as mulheres, distúrbio traz uma série de prejuízos à saúde

    Por Raquel RibeiroPublicado em 20/09/2022, às 13:34 - Atualizado em 20/09/2022, às 16:10
    anorexiaFoto: Shutterstock

    Os transtornos alimentares cresceram entre os jovens durante o isolamento social. Foi o que indicou um estudo publicado na revista Pediatrics, que mostrou que o número de casos mais que dobrou nos 12 primeiros meses da pandemia em comparação aos últimos três anos antes da Covid-19.

    O estudo ainda revelou que as mulheres são as mais afetadas pelo problema. Isso acontece por conta de questões culturais e sociais, onde elas são mais pressionadas a seguirem padrões estéticos atrelados à magreza. Inclusive, as pressões profissionais que ocorrem em algumas áreas, como entre modelos e bailarinas, podem exercer marcante influência no desencadeamento do quadro.

    Dentre os principais transtornos alimentares está a anorexia nervosa que costuma iniciar-se justamente na puberdade. Para se ter uma ideia, segundo dados da Associação Americana de Psiquiatria, a prevalência de anorexia varia de cerca de 0,3 a 3,7% em jovens do sexo feminino. Um problema que muitas vezes começa com um período de dieta e desejo excessivo de emagrecer o máximo possível ao ponto de fazer com que a própria pessoa não se enxergue magra mesmo que esteja.

    “Conseguimos ver que a anorexia é bastante comum na adolescência e em mulheres. E isso tem muito a ver com os caracteres sexuais secundários, ou seja, aquele período em que a mulher vai ganhando corpo. É como se fosse uma rejeição por ser adulta, de não querer amadurecer”, explica. Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, preceptora na residência da Escola Paulista de Medicina Unifesp e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).

    A seguir, você confere mais detalhes sobre o assunto. Acompanhe!

    O que é anorexia nervosa?

    Anorexia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por três critérios: 

    1. Restrição calórica levando a um peso significativamente baixo;
    2. Medo intenso de engordar, ou comportamento que dificulta o ganho de peso, mesmo este estando muito baixo;
    3. Perturbação sobre como a forma corporal é vivenciada, influência excessiva do peso corporal na sua autocrítica, ou ausência do reconhecimento da gravidade causada pelo baixo peso atual.

    É importante explicar que existem dois tipos de anorexia, tendo elas reações diferentes de cada pessoa que sofre com o distúrbio, são elas:

    • Compulsão alimentar purgativa: o indivíduo pode ter a compulsão alimentar e, em seguida, um comportamento purgativo compensatório. Isto é: vomitar, fazer o uso de laxantes e diuréticos. Recebe também o nome de anorexia nervosa do tipo bulímico.
    • Nervosa restritiva: neste caso, as pessoas têm autocontrole, ou seja, não se permitem comer em excesso, em hipótese nenhuma. 

    “O mesmo indivíduo pode apresentar os dois tipos de anorexia, e isso variar ao longo do tempo”, comenta Marcelo Italiano Peixoto, psiquiatra da Clínica Ame.C, especialista em Emergências Clínicas pela UFCG (Universidade Federal de Campina Grande).

    Causas

    As causas da anorexia são multifatoriais, ou seja, dependem de vários motivos, podendo ter como base fatores biológicos, psíquicos e sociais.

    “É um transtorno complexo e que pode variar para cada pessoa afetada. Muitas vezes, o que levou determinado indivíduo a apresentar anorexia permanece obscuro, não se sabendo explicar como o transtorno se desenvolveu, mesmo após vários anos de diagnóstico”, diz Peixoto.

    Outro fator para a sua causa pode estar ligado à obesidade, uma vez que o medo de engordar é uma das causas das mulheres transitarem entre a anorexia e a bulimia, transtorno alimentar marcado por compulsão, seguido de métodos para evitar o ganho de peso. 

    “Acabam levando muito a sério a frase de que “o negócio é fechar a boca” e param, literalmente, de comer, mesmo tendo um prato de comida à sua frente”, explica Arthur Kaufman, psiquiatra e professor doutor do Departamento de Psiquiatria da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e docente da ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia).

    Sinais e sintomas da anorexia

    anorexiaFoto: Shutterstock

    Entre os principais sinais e sintomas, podemos citar: 

    • Magreza acentuada; 
    • Preocupação ou medo exagerado com o ganho de peso: dessa forma, a pessoa não aceita ter um peso que condiz com sua altura, levando-se a um peso 15% abaixo do esperado;
    • Dismorfismo corporal: em que o indivíduo se enxerga com mais gordura corporal do que realmente possui; 
    • Vômitos após refeições; 
    • Exercícios físicos excessivos; 
    • Episódios de compulsão alimentar seguidos de métodos purgativos;
    • Queixas clínicas: fadiga; insônia; tontura; desmaios; queda e afinamento de cabelos; intolerância ao frio; desidratação; ausência de menstruação por pelo menos três meses seguidos; constipação e ritmo cardíaco irregular.

    “Ainda existem alguns sintomas que frequentemente passam despercebidos, como pular refeições com muita frequência ou quando a pessoa se recusa a comer em público; passar muito tempo em frente ao espelho, tentando observar ‘defeitos’ na aparência; além da vontade de se isolar socialmente, ter queda de libido e irritabilidade”, lembra Peixoto.

    Diferença entre anorexia e bulimia

    A principal diferença é que pessoas com bulimia não têm níveis de gordura baixos visíveis, como geralmente acontece com indivíduos com anorexia. 

    No entanto, quem tem bulimia pode apresentar quadro semelhante à anorexia, como a compulsão alimentar com purgação. “Ou seja, eles também são capazes de comer muito e depois procurar métodos purgativos, como vômitos, enemas (procedimento usado para lavagem intestinal), uso de diuréticos e laxantes”, explica Peixoto. 

    Além disso, é possível que os pacientes afetados utilizem métodos para evitar ganho de peso, semelhante a quem tem anorexia do tipo restritivo, como praticar exercícios físicos intensos e fazer jejum

    Como é feito o diagnóstico?

    anorexiaFoto: Shutterstock

    O diagnóstico da anorexia nervosa pode ser feito por meio de uma consulta médica e exames mental, físico e laboratoriais. Saiba um pouco mais sobre cada um deles:

    Consulta médica: nela, é feita a anamnese, processo em que a partir de suas perguntas o psiquiatra obtém informações faladas pelos paciente e seus acompanhantes. 

    Exame mental: a partir dele, o psiquiatra consegue observar diversos aspectos do indivíduo, que tem como objetivo identificar suas emoções, por meio de sua aparência física e também pelo modo que fala. No final, entre outras informações, tenta compreender o estado mental atual da pessoa. 

    Exame físico: semelhante a outras especialidades médicas, o médico verifica os sinais vitais da pessoa, como frequência cardíaca e pressão arterial. Além disso, é analisado o estado nutricional e outros parâmetros, incluindo peso, estado da pele e dos cabelos. 

    Exames laboratoriais: são necessários para verificar possíveis doenças clínicas associadas, assim como para determinar o risco de complicações, já que a magreza acentuada pode causar diversas complicações.

    Contudo, é importante ressaltar que o diagnóstico é individual, a depender de cada indivíduo. No entanto, alguns sinais podem ser identificados desde o início. 

    “Visivelmente, o paciente vai emagrecendo. Mostra também interesse exagerado pelas dietas e regimes. Começa a evitar compromissos sociais, onde provavelmente terá que comer. A família costuma relatar a resistência à alimentação. Por isso, são necessários exames, sobretudo para acompanhar o quadro clínico decorrente da alimentação pobre em nutrientes”, conclui Kaufman.

    Tratamento

    anorexiaFoto: Shutterstock

    O tratamento da anorexia é interdisciplinar, ou seja, conta com mais de uma especialidade para cuidar do paciente como um todo.

    O nutrólogo ou nutricionista, por exemplo, cuidará da parte clínica e alimentar, podendo receitar uma dieta balanceada com a reintrodução de alimentos gradativos.

    Já o profissional de educação física será capaz de adequar as atividades deste indivíduo, uma vez que é comum o exagero da ginástica, com a finalidade de emagrecer. 

    O psiquiatra, por sua vez, pode atuar com o tratamento medicamentoso. Normalmente, são utilizados antidepressivos que podem ajudar a diminuir sintomas depressivos, compulsivos e de ansiedade.

    Em relação à saúde mental, que inclui o acompanhamento com psicólogos, por meio da psicoterapia individual, tratamento entre o especialista e paciente, faz-se necessário devido ao isolamento social. Isso porque a pessoa com anorexia passa a evitar contatos sociais que geralmente são realizados em bares, restaurantes ou festas.  

    Prejuízos além da aparência física

    Como já dissemos, a anorexia pode ser notada pela aparência física, ou seja, quando uma pessoa está com a magreza acentuada. No entanto, seus prejuízos podem ser notados em outras áreas da vida. 

    Na parte social, pode causar o isolamento e irritabilidade, dificultando a formação de bons relacionamentos. Pode facilitar ainda o surgimento de outros transtornos mentais como ansiedade e depressão

    No corpo, as complicações podem aparecer com: 

    • Anemia
    • Diarreia ou constipação
    • Doença no fígado
    • Hipoglicemia: quando acontece uma diminuição dos níveis de açúcar no sangue. Tal fato pode ocasionar desmaios, perda de densidade dos ossos, entre outras complicações.
    • Morte súbita cardíaca

    Como ajudar alguém com anorexia?

    Em primeiro lugar, também é importante saber o que não falar para alguém que está lidando com o problema. A pessoa que tem anorexia não se vê da mesma forma que você a enxerga. Porém, dizer que ela já está muito magra ou coisas do tipo, não irá surtir efeito.

    Tentar lidar com a situação sozinho também não é uma boa opção. Como já dissemos, os motivos que podem levar uma pessoa a ter o transtorno são inúmeros. Logo, isso precisa ser avaliado por profissionais. Portanto, incentive que esta pessoa inicie um acompanhamento com a área de psiquiatria, nutrição e endocrinologia.

    Ressaltando que será imprescindível realizar uma avaliação individual e multidisciplinar em que cada especialista pedirá exames específicos para identificar o quadro clínico da pessoa. A partir das análises, realizará os tratamentos adequados. 

    Contudo, dependendo da gravidade do quadro, em que a magreza acentuada está causando riscos à vida, por exemplo, será preciso a internação hospitalar.

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