Autismo: entenda como a condição afeta a comunicação e o comportamento
Geralmente manifestado na infância, o Transtorno do Espectro do Autismo apresenta diversos sintomas e níveis
O autismo – conhecido cientificamente como Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) – tem ganhado cada vez mais visibilidade. Hoje, cerca de 2,4 milhões de brasileiros estão no espectro, ou seja, 1,2% da população. E a prevalência é maior em meninos e na faixa etária de 5 a 9 anos.
Neste artigo, você vai ler:
Dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, conforme o relatório publicado em abril de 2025, apontam que 1 em cada 31 crianças de 8 anos nos Estados Unidos está no espectro do autismo. Esta é a maior prevalência já registrada na série histórica do CDC, correspondendo a mais de 3% da população estudada.
Esses números são um indício de maior acesso à informação sobre tema, de uma maior procura por ajuda médica, de critérios diagnósticos mais amplos, da sensibilização das famílias e sociedade a respeito do tema. Mas também de que o tema vem sendo mais estudado pelos profissionais da saúde e de que temos melhores ferramentas para diagnóstico.
Autismo: o que é?
Autismo, conhecido formalmente como Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), é uma condição do neurodesenvolvimento que impacta principalmente como a pessoa se comunica, se comporta, interage com os outros e vivencia o mundo ao seu redor. Nota-se padrões comportamentais repetitivos, podendo variar amplamente em termos de características e níveis de suporte necessários.
Geralmente identificado na infância, o autismo acompanha o indivíduo por toda a vida. Ele se apresenta de várias formas, com diferentes níveis de necessidade de ajuda, intensidade e combinações de características em cada pessoa. Essa diversidade é o que define o “espectro”. Cada pessoa com TEA é única em suas potencialidades e necessidades.
Por que o autismo passou a ser conhecido como transtorno do espectro do autismo?
A mudança na nomenclatura de “autismo” para “Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)” aconteceu oficialmente em 2013. E foi motivada pela necessidade de refletir a ampla diversidade de sintomas, gravidade e níveis de suporte que a condição pode apresentar.
O termo “espectro” enfatiza justamente essa variabilidade, reconhecendo que o autismo não é uma condição única e linear, mas um conjunto de características que se manifestam de maneira individualizada em cada pessoa.
Antes, diferentes diagnósticos como autismo clássico, Síndrome de Asperger e Transtorno Invasivo do Desenvolvimento Sem Outra Especificação eram usados. Com a adoção do termo TEA, essas condições foram unificadas sob um mesmo “guarda-chuva diagnóstico”. E isso permitiu uma compreensão mais abrangente e integrada.
Níveis de Suporte no Autismo
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é classificado em diferentes níveis de necessidade de suporte. Essa classificação considera as dificuldades na comunicação social, a presença de comportamentos restritos e repetitivos e a presença de comorbidades como a deficiência intelectual.
Nível 1
Pessoas autistas no nível 1 de suporte precisam de algum apoio, mas a necessidade é baixa. Enfrentam desafios na interação social e na comunicação.
Podem ter dificuldades para interpretar sinais sociais, adaptar-se a mudanças e organizar suas rotinas, o que impacta sua autonomia em comparação com o esperado para sua faixa etária.
O mascaramento de seus sinais e sintomas não é incomum, o que pode levar a dificuldades no acesso aos cuidados de que precisam e ao atraso no diagnóstico.
Nível 2
Neste nível, há um déficit mais acentuado na comunicação social verbal e não verbal, mesmo com suportes. A dificuldade em começar ou manter interações sociais e os comportamentos repetitivos são mais frequentes.
Pessoas nesse nível tendem a apresentar interesses muito restritos, comportamentos repetitivos mais evidentes e maior necessidade de autorregulação, com dificuldade em controlar essas manifestações em contextos sociais. Precisam de suporte substancial.
Nível 3
O autismo de Nível 3 é caracterizado por necessidades de suporte muito substanciais, especialmente em comunicação, autorregulação e comportamento.
Pessoas nesse nível geralmente não conseguem mascarar suas características e enfrentam grandes desafios para lidar com mudanças, interagir socialmente e realizar atividades cotidianas.
A comunicação pode ser extremamente limitada, sendo comum a necessidade de recursos de comunicação aumentativa e alternativa (CAA). As interações, quando ocorrem, tendem a ser restritas e pouco compreendidas, o que pode aumentar a vulnerabilidade a exclusão, negligência e abuso.
Vale mencionar que essa classificação é uma ferramenta para orientar as intervenções e o planejamento de suportes, e não uma forma de rotular ou limitar o potencial de uma pessoa.
Possíveis causas para o autismo
As causas do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) ainda são objeto de muitas pesquisas, mas sabemos que a condição depende da interação entre fatores genéticos e ambientais que afetam o desenvolvimento cerebral.
Fatores genéticos parecem ter uma influência significativa, sendo o TEA considerado uma condição com forte herdabilidade. A Síndrome do X Frágil, por exemplo, é uma condição genética conhecida que pode estar associada ao autismo.
Vale mencionar que alterações em diversos genes, e não apenas um, podem contribuir para o desenvolvimento do TEA.
Além da genética, também se estuda a hipótese de que fatores ambientais durante a gestação possam desempenhar um papel. Embora não haja uma causa única identificada, alguns estudos apontam para o nascimento pré-termo, o baixo peso ao nascer, a idade dos pais, a possível influência de complicações durante a gravidez ou o parto, além de infecções na mãe e exposição a certas substâncias, como possíveis fatores com influência causal.
É preciso esclarecer que é falsa a teoria de que vacinas causam autismo. Não há qualquer evidência científica que sustente essa afirmação. Manter o calendário nacional em dia é fundamental para todos, dos recém-nascidos aos idosos.
Importante mencionar que fatores como a mudança e ampliação do conceito e definições diagnósticas para o TEA e o aumento da capacitação de profissionais para um diagnóstico mais preciso são condições que contribuem para o aumento no número de diagnósticos.
Sinais de autismo
Os sinais do Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem variar muito de pessoa para pessoa e costumam se manifestar nos primeiros anos de vida, geralmente antes dos três anos de idade.
Pais e cuidadores devem estar atentos aos marcos do desenvolvimento e a comportamentos que podem indicar a necessidade de uma avaliação profissional. Alguns dos sinais mais comuns são:
Dificuldades na comunicação e interação social
- Pouco ou nenhum contato visual.
- Dificuldade em reconhecer e compreender expressões faciais e emoções em outras pessoas.
- Atraso na fala ou ausência de desenvolvimento da linguagem verbal.
- Uso literal da linguagem, com dificuldade em entender ironias, metáforas ou nuances sociais.
- Dificuldade em iniciar, manter ou entender relacionamentos sociais.
- Preferência por brincar sozinho ou dificuldade em compartilhar interesses e brincadeiras com outras crianças.
- Dificuldade em participar de conversas ou em seguir o fluxo de uma interação social.
Padrões de comportamento restritos e repetitivos
- Movimentos corporais repetitivos, como balançar o corpo, as mãos (flapping) ou girar objetos.
- Interesses intensos e focados em temas específicos, às vezes de forma obsessiva.
- Apego excessivo a rotinas e rituais, com grande desconforto diante de mudanças.
- Sensibilidade sensorial atípica: pode haver hipersensibilidade (reação exagerada) ou hipossensibilidade (baixa reação) a sons, luzes, texturas, cheiros ou sabores.
- Brincar de forma repetitiva ou pouco usual com brinquedos. Por exemplo: enfileirar objetos em vez de usá-los para o fim a que se destinam.
É preciso esclarecer que a presença de um ou alguns desses sinais isoladamente não confirma o diagnóstico de autismo. Mas, se você observar um conjunto dessas características ou tiver preocupações sobre o desenvolvimento de uma criança, busque a orientação de um profissional de saúde.
Autismo em adultos: por que o diagnóstico pode demorar?
O diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) em adultos pode demorar por uma série de razões. Historicamente, o conhecimento sobre o autismo era mais focado na infância. Muitos adultos que hoje recebem um diagnóstico tardio de TEA podem, na verdade, não ter tido acesso a uma avaliação adequada quando mais jovens.
Conheça a seguir alguns fatores que contribuem para o diagnóstico tardio.
Mascaramento (Camouflaging)
Muitos adultos com TEA, especialmente aqueles com habilidades cognitivas e de linguagem preservadas (anteriormente classificado como Síndrome de Asperger, por exemplo), aprendem a “mascarar” suas dificuldades sociais.
Pessoas com estas características podem observar e imitar comportamentos sociais, mesmo que isso exija um grande esforço cognitivo e emocional. Podem fazer isso para se encaixar ou evitar serem percebidos como “diferentes”. Esse mascaramento pode dificultar a identificação dos sinais de autismo.
Conscientização recente
A compreensão pública e médica sobre a amplitude do espectro autista, incluindo manifestações mais sutis, é relativamente recente.
E isso significa que muitos profissionais de saúde podem não ter sido treinados para reconhecer o TEA em adultos. Ou podem confundir suas características com outras condições, como transtornos de ansiedade, depressão ou transtorno de personalidade.
Autoconhecimento e busca por respostas
Muitas vezes, os próprios adultos, ao lerem sobre o autismo ou se identificarem com as experiências de outras pessoas, podem começar a suspeitar sobre a hipótese de TEA.
Eles podem ter passado a vida se sentindo “diferentes” ou lutando com desafios sociais e sensoriais sem entender a causa.
Diagnósticos anteriores incorretos
Alguns adultos podem ter recebido outros diagnósticos ao longo da vida, sem obter explicações completas sobre suas dificuldades.
Heterogeneidade do espectro
Como o autismo se manifesta de várias formas, os sinais em adultos podem não ser tão óbvios quanto os que são tipicamente associados ao autismo infantil.
O aumento no número de diagnósticos em adultos não significa necessariamente uma “epidemia” ou “moda”, mas reflete uma mudança conceitual e na amplitude dos sinais relacionados, associado a um maior acesso à informação, à melhor compreensão sobre o TEA por parte dos profissionais, além de uma maior disposição das pessoas em buscar respostas para suas vivências.
Como é feito o diagnóstico de autismo?
O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é essencialmente clínico. Não existem, até o momento, exames de sangue específicos ou exames de imagem cerebrais que possam, por si só, confirmar a condição.
O processo diagnóstico é abrangente e, em geral, passa pela observação clínica e pela conversa.
- Observação clínica: profissionais especializados observam o comportamento da pessoa em diferentes contextos., com atenção especial às habilidades de comunicação, interação social e à presença de comportamentos restritivos e repetitivos.
- Entrevistas com pais ou responsáveis (no caso de crianças): para coletar informações sobre o histórico de desenvolvimento da criança desde os primeiros anos de vida. São investigados marcos do desenvolvimento motor, da linguagem, socialização e quaisquer comportamentos atípicos observados.
- Entrevista com o próprio indivíduo (no caso de adolescentes e adultos): Quando possível, o próprio indivíduo é estimulado a falar sobre suas experiências, desafios, interesses e percepções.
Além disso, várias escalas e questionários padronizados podem ser utilizados como ferramentas de apoio. Eles ajudam a rastrear e quantificar comportamentos e características associados ao TEA.
Idealmente, o diagnóstico é feito por uma equipe multidisciplinar, que pode incluir médicos (como pediatras, neurologistas ou psiquiatras), psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros.
O diagnóstico precoce é fundamental. Ele permite que intervenções e suportes adequados sejam feitos o mais cedo possível. E isso pode impactar de forma muito positiva no desenvolvimento e na qualidade de vida destas pessoas.
Qual profissional procurar?
Ao suspeitar de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), especialmente em crianças, o primeiro profissional a ser consultado é o pediatra. Ele pode fazer uma triagem inicial, avaliar os marcos do desenvolvimento e, se preciso, encaminhar para especialistas.
Mas, se a ideia for aprofundar o diagnóstico e até fazer um acompanhamento, vários especialistas podem estar envolvidos. Entre eles, o neurologista pediátrico (neuropediatra) ou neurologista.
Este médico é especializado em distúrbios do sistema nervoso, incluindo o desenvolvimento neurológico. Ele pode ajudar a descartar outras condições e a investigar possíveis comorbidades.
O psiquiatra também pode diagnosticar o TEA, além de identificar e tratar possíveis comorbidades presentes (como ansiedade, depressão, TDAH, entre outras) e que são frequentemente associadas ao autismo. Também pode prescrever medicações para o controle destas comorbidades, quando necessário.
Em relação à equipe multiprofissional voltada ao diagnóstico e às terapias em TEA, também contamos com diversas especialidades essenciais.
O psicólogo também pode compor com os médicos na avaliação diagnóstica, aplicando protocolos, e realizando observações comportamentais. Também atua nas intervenções terapêuticas, oferecendo suporte para o desenvolvimento de habilidades sociais, comunicativas e emocionais.
Os fonoaudiólogos atuam principalmente nas questões relacionadas à linguagem e comunicação. Os terapeutas ocupacionais, especialmente nas habilidades motoras finas, aspectos sensoriais e no treino dirigido às atividades básicas e instrumentais de vida diária.
Podemos também contar com psicopedagogos, nas questões relacionadas à aprendizagem e adaptações escolares e com fisioterapeutas, no trabalho direcionado ao fortalecimento e ganhos em habilidades motoras.
O importante é buscar profissionais com experiência e conhecimento específico sobre o Transtorno do Espectro do Autismo.
Convivendo com o autismo
Conviver com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), seja você a pessoa com TEA, seja através de um familiar ou amigo, é uma jornada que envolve aprendizado, adaptações e, acima de tudo, compreensão e aceitação.
O TEA se manifesta de maneiras únicas em cada pessoa, e o ambiente ao redor afeta diretamente a intensidade dos desafios e a qualidade de vida.
É fundamental buscar informação de qualidade e construir uma rede de apoio. O envolvimento familiar no processo terapêutico é essencial, e o suporte de outros pais que vivenciam realidades semelhantes pode ser muito valioso.
Para as pessoas com TEA, o autoconhecimento e a compreensão de suas próprias características e necessidades são passos importantes. Ter acesso a estratégias para lidar com desafios sensoriais, de comunicação e interação social faz muita diferença.
Além disso, toda a sociedade deve ser esforçar para criar ambientes mais acolhedores e inclusivos, que respeitem a neurodiversidade e valorizem as potencialidades de cada um, reduzindo barreiras e possibilitando potencialidades
Clínica TEA Dasa
Nas Clínicas Dasa para Terapias Especiais em TEA, contamos, em um mesmo local, com equipes multidisciplinares especializadas e capacitadas para atuar desde o processo diagnóstico até o desenvolvimento das terapias necessárias. Isso garante o cuidado qualificado e a excelência na experiência para crianças e adolescentes com TEA e para seus familiares.
Nossas equipes são compostas por médicos neuropediatras e psiquiatras da infância e adolescência, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicomotricistas, psicopedagogos, nutricionistas e enfermeiros.
Contamos com clínicas em SP e no RJ. Para dúvidas e agendamentos, é só entrar em contato com a Central de Agendamento Dasa: 0800 591 3823 ou (11) 94199-2630 (Whatsapp).
Fonte: Dra. Fabiane Minozzo – Gerente de Saúde Mental e Autismo na Dasa
Coautoria: Dra. Maria Claudia Nunes S. Pereira – Coordenadora de Práticas Assistenciais