Bullying: quais as consequências e como combater?
Atitudes agressivas e antissociais resultam em sofrimento psíquico intenso para as vítimas
De acordo com a Unesco, cerca de um terço dos adolescentes em todo o mundo já passaram por situações de bullying. No Brasil, dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que 40,3% dos estudantes do 9º ano já experimentaram alguma situação de abuso físico ou psicológico caracterizado como bullying.
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O comportamento agressivo e repetitivo contra um determinado indivíduo pode, em casos extremos, levar à tragédias que infelizmente já conhecemos bem, como o suicídio em adolescentes ou até atos de violência contra a coletividade, como os tiroteios em massa.
Mas como podemos impedir essas situações extremas? De acordo com Marcely Quirino, psicóloga do Complexo Hospitalar de Niterói, no Rio de Janeiro, é justamente isso o que diversos estudos vêm tentando responder.
“O bullying é um fenômeno relativamente recente, complexo, com muitas facetas, que vem sendo investigado de forma profunda para ser melhor compreendido dentro da sociedade”, explica a especialista.
Mas, afinal, o que é o bullying?
O bullying é um comportamento agressivo de um indivíduo direcionado a outro considerado “inferior”. Essa agressividade pode ser física (por meio de agressões físicas), psicológica (por meio de xingamentos, intimidações etc.) e ainda indireta (isolando a vítima, impedindo que ela se relacione com outros do seu grupo social).
De acordo com Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, da Infância e Adolescência, preceptora na residência da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), é importante ressaltar que a principal característica do bullying é a constância dos assédios.
“Não é apenas um episódio desagradável, um desentendimento pontual. É alguém que se sente em uma posição de superioridade por ser maior fisicamente, ou mais inteligente, por exemplo, e passa a perseguir de forma crônica outro indivíduo considerado inferior”, explica.
O bullying é uma prática que costuma ocorrer nas escolas entre crianças e adolescentes. Por isso, essa é a fase em que os pais devem estar mais atentos às mudanças de comportamento que possam indicar sofrimento nos filhos.
Quais as consequências do bullying?
A criança ou adolescente que sofre bullying costuma ter um perfil mais retraído, introspectivo e de não confrontar quando está em uma situação de conflito. Mas é importante dizer: não há nada de errado nisso! É apenas o perfil do indivíduo.
Como resultado do bullying, essa pessoa passa a ter algumas mudanças de comportamento como: maior retração que o normal, insegurança, baixa autoestima, recusa em ir para a escola, dificuldades de aprendizado e baixo rendimento escolar.
“Em casos mais graves, podemos ter o surgimento de quadros depressivos, ansiosos e estresse pós-traumático”, alerta Admoni. “Infelizmente, é um problema que também pode levar ao suicídio se não for tratado”, lamenta a psiquiatra.
O que fazer quando meu filho sofre bullying?
Ao notar que a prática de bullying está causando sofrimento na criança ou no adolescente, os pais podem e devem ir até a escola conversar com a direção para que o problema seja resolvido. E também devem buscar ajuda médica especializada.
“Trabalhar essa questão tão logo seja possível reduz o risco de que um transtorno mental se instale na criança ou no adolescente”, afirma Admoni.
Outro ponto importante é manter-se aberto ao diálogo com os filhos, deixando que eles falem sobre o problema sem expressar julgamentos ou dizer o que eles deveriam ou não ter feito para resolver a situação.
“Ter em casa um espaço de fala seguro é fundamental para que o adolescente se sinta confiante em dizer o que está sentindo e o que tem acontecido com ele”, afirma Quirino.
E quando meu filho é o praticante de bullying?
Ouvir que o filho ou a filha está sendo perseguido na escola não é nada agradável. Mas o que dizer dos pais que descobrem que o filho, ao contrário, é o agressor?
Nesses casos, também a ajuda especializada é importante para tentar entender o que está levando esse indivíduo a perseguir e maltratar outra pessoa no seu ambiente social.
“Geralmente, o agressor tem um perfil com ausência de medo, mais agressivo e dificuldade em lidar com regras”, explica Marcely.
“Os pais devem, sim, procurar ajuda especializada pois muitas vezes não têm ferramentas para lidar com esse tipo de comportamento, que pode ou não ser desencadeado por algum transtorno”, avalia a psicóloga.
No entanto, longe de apenas acusar e punir, o contexto de quem pratica bullying também deve ser compreendido. “Quem ataca o outro dessa forma pode ser muito inseguro, sofrer violência em casa e até ser ou ter sido vítima de bullying também”, explica Admoni.
“Não é normal nem aceitável diminuir outras crianças e adolescentes. Por isso, deve-se, sim, investigar o que pode estar acontecendo para ajudar esse indivíduo também”, diz a psiquiatra.