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    Câncer de ovário e mutações genéticas

    Testagem genética faz parte da linha de cuidado da paciente com câncer de ovário

    Fonte: Dra. Mariana ScarantiMédica oncologista especialista em tumores ginecológicosPublicado em 16/11/2022, às 18:13 - Atualizado em 26/07/2023, às 16:32
    Foto: Shutterstock

    O câncer de ovário não é o câncer ginecológico mais comum, porém está associado a maior taxa de mortalidade em comparação com outros tumores ginecológicos. A maioria das pacientes com câncer de ovário são diagnosticadas em estadios mais avançados, com acometimento de um tecido chamado peritônio, membrana que reveste os órgãos abdominais.

    Não existe estratégia eficaz de rastreamento para este câncer, como existe para o câncer de mama com a mamografia, ou o câncer de colo uterino com o Papanicolau. Os principais sintomas da doença avançada são aumento do volume abdominal e sensação de empachamento e são eles que motivam a paciente a buscar ajuda médica.

    Algumas síndromes genéticas estão associadas a um aumento do risco de desenvolvimento deste câncer, como mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, por exemplo. 

    BRCA1 e BRCA2: São genes que codificam proteínas envolvidas no reparo do DNA. Os genes estão localizados nos cromossomos. Quando estes genes têm alguma mutação, a proteína codificada não funciona bem e isto está associado a um maior risco de câncer.

    Hoje sabemos que até 20% das pacientes diagnosticadas com câncer de ovário têm mutações em BRCA1/2. Essas mutações podem ser classificadas como germinativas, ou seja, que são passadas de geração em geração e podem ser encontradas nos testes genéticos do sangue ou da saliva; ou somáticas, que são mutações detectadas somente no tecido tumoral e não tem relação com hereditariedade.

    Sabe-se que o risco de uma mulher da população geral, ou seja, sem mutações dos genes, desenvolver um câncer de ovário ao longo da vida é de 1.2%, ao passo que para mulheres com mutações em BRCA1/2 estes números são de 39 a 44% e 11 a 17% respectivamente.

    Nos dias de hoje, toda paciente com câncer epitelial de ovário deve ser testada para pesquisa de mutação em BRCA1/ e 2. Se encontrada a mutação germinativa, ou seja, aquela que é passada de geração em geração, devemos realizar teste genéticos nos demais familiares, uma vez que medidas preventivas podem ser implementadas para aqueles portadores da mutação. As mutações nestes genes estão relacionadas a um maior risco de câncer de mama, próstata, ovário e pâncreas. 

    Em 2013, a atriz Angelina Jolie expôs na mídia que era portadora de mutação em BRCA1. A atriz realizou o teste após sua mãe ter recebido o diagnóstico de câncer de mama relacionado a mutação em BRCA1. O assunto ganhou destaque quando ela revelou que passou por uma cirurgia redutora de risco com a retirada preventiva das mamas.

    Quando encontramos um mutação em BRCA1/ e 2 em uma paciente, nós discutimos a mastectomia redutora de risco e estratégias individualizadas de rastreamento com mamografias e ressonâncias de mama, se a paciente não optar pela cirurgia. 

    Como não existe exame para rastreamento de câncer de ovário, orientamos essas pacientes a serem submetidas a retirada de tubas uterinas e ovários depois de terem filhos, em geral entre 35-40 anos. Atualmente, em oncologia, a avaliação oncogenética é parte do cuidado integral do paciente oncológico e também da sua família.

    A avaliação oncogenética vai além das estratégias redutoras de risco para pacientes e familiares. Há também implicações terapêuticas. Pacientes com câncer de ovário e mutação em BRCA1/2 são candidatas ao tratamento com inibidores da PARP, que bloqueiam uma proteína envolvida no reparo do DNA. Esses inibidores revolucionaram os desfechos de tratamento para paciente com câncer de ovário portadoras destas mutações.

    Se você tem histórico pessoal ou familiar de câncer de mama e ovário, converse com seu médico. A testagem genética está disponível no Brasil e tem cobertura pelo convênio para todas  as pacientes com câncer de ovário epitelial e para pacientes com câncer de mama de subgrupos específicos como pacientes jovens.

    Fonte: National Cancer Institute

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