Vidas que mudaram durante a pandemia
Leia o relato de três pessoas que mudaram suas trajetórias pessoais e profissionais
“Sou professora do ensino infantil e, durante a pandemia, com as escolas fechadas, decidi começar a contar histórias pelo meu perfil no Instagram. Era uma forma de passar aos alunos e outras crianças alguma alegria enquanto vivíamos aqueles dias fechados em casa. A partir daí, alguns pais de alunos me chamaram para fazer recreação para grupos pequenos de crianças. Passei a usar minha formação de pedagoga para criar atividades lúdicas e tardes de recreação. Logo, comecei a receber pedidos de aulas particulares e até de pessoas de outros países. Também passaram a me chamar para realizar as recreações em festas infantis. O que era para ser temporário virou definitivo: deixei a escola no ano passado e decidi investir nas aulas particulares e online e também na minha empresa de recreação para festas infantis. Nesse sentido, a pandemia, para mim, foi um divisor de águas que me impulsionou a ter uma nova carreira.” – Karina Marchini, professora e proprietária da empresa Vem BrinKá
“Tenho 36 anos, sou publicitário, morava no centro de São Paulo em um apartamento pequeno quando a pandemia começou. Até então, eu vivia uma rotina cosmopolita, um estilo de vida bem movimentado. Com os dias de isolamento se transformando em meses, comecei a me sentir sufocado em casa, com barulhos de obras, sem vida social. Passei a fazer terapia e meditar para me entender melhor e esse mundo em que estávamos vivendo. Foi quando surgiu uma oportunidade de mudar para Garopaba, cidade litorânea de Santa Catarina. Já tinha amigos por lá e, em poucas semanas, desembarquei com meu cachorro, o Caqui, e minha geladeira em uma cabana na beira da praia. Meu trabalho é 100% remoto e eu continuo tendo um expediente de oito, às vezes dez horas; mas vivo uma vida mais saudável, faço caminhadas na praia todos os dias, tento respirar e ver como a vida ainda pode ser linda. Tenho noção que tudo isso foi possível pelos privilégios que eu tenho, mas acredito que, dentro das circunstâncias, consegui aproveitar as oportunidades que eu tive para explorar novos horizontes.” – Sérgio Ávila, publicitário
“Trabalhei na linha de frente da pandemia no Hospital das Clínicas de São Paulo atendendo grávidas contaminadas pelo vírus. Eu, como obstetra, acostumada a trazer bebês para a vida, sofri muito lidando com a morte. Uma das histórias mais marcantes que vivi foi fazer o parto de uma bebê em plena UTI, já que o estado da mãe não permitia que ela saísse daquele quarto. Foi muito marcante para mim e toda a equipe envolvida, era um domingo de Páscoa. Elas foram as primeiras e ficaram bem, mas vieram outras. Algumas não sobreviveram [se emociona ao falar]. Lembro de uma mãe de gêmeos, grávida, que precisava ser intubada e pediu para conversar com os filhos. Aquilo mexeu demais comigo, fiquei pensando: para quem eu ligaria? Graças a Deus, ela e o bebê ficaram bem. A experiência toda foi muito marcante, senti que tive coragem de encarar o desafio quando a vida me chamou. Me sinto mais forte hoje, pessoal e profissionalmente.” – Renata Lopes, médica obstetra especializada em gestação de risco