Dieta cetogênica: como funciona e para que serve
Rica em gordura e com baixo teor de carboidratos, a dieta cetogênica estimula o processo de cetose
Dieta. É bem difícil passar ileso pelo verão sem ouvir essa palavra. E variações dela não faltam: dieta detox, dieta do ovo, dieta low carb, dieta cetogênica e por aí vai. Aqui, o assunto hoje é dieta cetogênica.
Neste artigo, você vai ler:
Vale dizer, logo de início, que dietas não são para qualquer um – especialmente as restritivas, como a dieta cetogênica. Cada corpo é um corpo, com características e necessidades específicas.
Se feitas sem recomendação e acompanhamento especializado, as dietas podem trazer problemas para a sua saúde física e psicológica. Os impactos incluem mudanças no metabolismo, fraqueza e gatilhos para transtornos alimentares.
O que é dieta cetogênica?
A dieta cetogênica é um plano alimentar adotado para estimular a cetose, um processo metabólico que acontece no corpo quando os níveis de glicose (nossa principal fonte de energia) estão baixos.
Sem glicose suficiente, o organismo passa a produzir corpos cetônicos para utilizá-los como combustível. Essas substâncias vêm das células de gordura, que são destruídas e transformadas em corpos cetônicos pelo fígado.
Para ativar esse mecanismo, a dieta cetogênica propõe uma alimentação rica em gorduras e com baixo teor de carboidratos.
“A cetose fisiológica ocorre em situações de jejum, exercício físico, ausência de insulina circulante ou consumo de dietas restritas em carboidratos”, afirma a nutricionista Allana Nobre, mestranda pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) que pesquisa dieta cetogênica em períodos críticos de desenvolvimento.
Para se ter uma ideia, grande parte das pessoas costuma ingerir mais de 250 gramas de carboidrato por dia. Na dieta cetogênica, o consumo é bem limitado: menos de 50 gramas diárias.
“Porém, essa quantidade deve ser adequada de acordo com o estado de saúde de cada indivíduo, o período de duração da dieta e qual seu propósito”, ressalta Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).
Para quem é indicada a dieta cetogênica?
A dieta cetogênica é utilizada, tradicionalmente, para controlar convulsões de pacientes com epilepsia cujas crises não conseguem ser controladas por medicamentos.
“Esta dieta não é um tratamento alternativo, ela é considerada uma terapia médico-nutricional”, esclarece Laura Guilhoto, neurologista da Unidade de Pesquisa e Tratamento das Epilepsias da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
A dieta cetogênica também pode ser indicada para doenças raras, como a deficiência de GLUT-1, e está sendo estudada para aplicação em outras condições médicas, como casos de diabetes tipo 2, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares e distúrbios neurológicos.
Reconhece-se ainda que, se feita corretamente, a dieta cetogênica pode acarretar uma rápida perda de peso. No entanto, as evidências disponíveis são de curto prazo e não demonstram a eficácia e a segurança desse método por períodos mais longos, conforme aponta a Harvard Health Publishing, divisão educativa da Universidade Harvard.
“Apesar de os benefícios da dieta cetogênica serem amplamente relatados na literatura, a sua conformidade a longo prazo é um fator limitante”, constata Nobre. “Vários estudos teóricos e experimentais destacam que todos os desfechos positivos na perda de peso e na melhora de parâmetros metabólicos podem ser vistos por no máximo 6-12 meses”, acrescenta a nutricionista.
Cardápio da dieta cetogênica
Na dieta cetogênica, cerca de 60% a 80% das calorias vêm de gorduras, 20% de proteínas e 10% de carboidratos. Para que seja mantido um equilíbrio saudável entre esses grupos alimentares, é preciso contar com uma orientação individualizada.
“Há vários tipos de dieta cetogênica, nos quais diferentes proporções de gorduras são utilizadas em relação aos demais nutrientes, proteínas e carboidratos”, diz Guilhoto. “As formas clássicas utilizam cardápios formulados por nutricionistas especializados, sendo necessária a pesagem de alimentos para manter quantidades fixas de gorduras, proteínas e carboidratos ao longo do dia”, complementa a neurologista.
E embora seja uma alimentação rica em gordura, não estamos falando de qualquer tipo de lipídio. ”Deve haver um maior consumo de alimentos ricos em gorduras mono e poliinsaturadas e diminuição de alimentos ricos em gordura saturada, hidrogenada e colesterol”, detalha Nobre.
Isso porque os alimentos desse segundo grupo – ao qual pertencem carnes muito gordas, margarina e banha de porco, por exemplo – podem trazer prejuízos à saúde quando consumidos em excesso. A sua ingestão exagerada está associada a quadros como obesidade, hipertensão e diabetes.
Veja, abaixo, alguns exemplos de alimentos que são privilegiados e de alimentos que são limitados na dieta cetogênica.
- Alimentos privilegiados: sementes, abacate, azeitona, castanhas, amêndoas, coco, nozes, azeite de oliva, óleo de girassol
- Alimentos limitados: massas, pães, cereais, tubérculos, raízes
É fundamental reforçar que a dieta cetogênica deve ser personalizada, uma vez que pode oferecer riscos à saúde. “Nunca se deve seguir os vários cardápios que estão disponíveis na internet”, alerta Filho. E é só o acompanhamento profissional que pode garantir a suplementação de vitaminas e minerais se necessário.
Além disso, existe um período de adaptação do organismo à dieta cetogênica. Ele pode durar alguns dias ou semanas, gerando cansaço, dor de cabeça, alterações de humor e mau hálito.
Riscos da dieta cetogênica
A dieta cetogênica é restritiva e diminui o consumo não só de carboidratos, mas também de vegetais e frutas – fontes importantes de fibras, antioxidantes e outros nutrientes. Por isso, há o risco de constipação e de desnutrição (principalmente quanto a vitaminas e minerais).
Mais um ponto de atenção é a própria cetose. Se houver uma concentração muito alta de corpos cetônicos no organismo, pode haver risco de desenvolvimento de uma condição chamada cetoacidose, especialmente em pacientes com diabetes mellitus. Na cetoacidose, o sangue fica muito ácido, pode ocorrer desidratação e, em casos mais graves, morte.
E por privilegiar o consumo de gorduras, a dieta cetogênica pode agravar problemas que atingem o fígado, órgão responsável por ajudar no metabolismo de lipídios.
Outros riscos atrelados à dieta cetogênica são: pressão baixa, pedra nos rins, transtornos alimentares e maior suscetibilidade a doenças cardiovasculares.
Quem não deve fazer a dieta cetogênica?
Por causa dos riscos ligados à dieta cetogênica e da mudança brusca na distribuição de carboidratos, proteínas e gorduras, geralmente esse tipo de alimentação não é recomendado para:
Não custa nada reforçar: mesmo que você não esteja nos grupos citados acima, é importante buscar um profissional especializado para entender se a dieta cetogênica é realmente adequada para o seu perfil e o seu objetivo.
Caso sua intenção seja emagrecer, tenha em mente que restringir radicalmente a alimentação não vai resolver a sua vida, especialmente se pensamos no médio e longo prazo. “É notadamente comprovado que dietas muito restritivas (seja em calorias ou em carboidratos e gorduras) não são eficazes no emagrecimento”, comenta Nobre.
Como já dissemos, seguir cardápios genéricos da internet também não é uma boa. “Observa-se muito, na mídia, a denominação ‘dieta cetogênica’ para diversos fins, mas especialmente para perda de peso. Deve-se salientar que, da forma como a maioria dessas dietas são planejadas, elas não são consideradas cetogênicas, mas apenas com menor teor de carboidratos”, destaca Guilhoto.
E quando falamos de dietas, o correto é que elas sejam pensadas individualmente para não causar prejuízos ao metabolismo e à saúde de maneira geral.
Isso é feito com base em fatores como peso, idade, IMC (índice de massa corporal), composição corporal, condição socioeconômica, condição clínica e preferências de cada um. “Só um especialista poderá avaliar potenciais benefícios, segurança e riscos para a saúde em qualquer dieta”, afirma Filho.