Encefalite: o tratamento precoce pode evitar sequelas graves
Sintomas da encefalite podem ser confundidos com gripe; mas o quadro requer internação imediata

A encefalite é uma inflamação no cérebro, considerada uma emergência médica. Em muitos casos, é causada por uma infecção viral — principalmente pelo herpes simples tipo 1. Em outros, as próprias células de defesa do corpo atacam o cérebro por engano (encefalite autoimune).
Sem diagnóstico e tratamento adequados, a inflamação pode evoluir para complicações graves ou até mesmo para o óbito.
Neste artigo, você vai ler:
Encefalite: o que é?
É uma inflamação do parênquima cerebral (tecido do cérebro), que interfere diretamente nas funções neurológicas. O inchaço cerebral pode gerar desde sintomas leves até complicações graves.
Ela não deve ser confundida com meningite. A meningite é inflamação das meninges (membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal). Ambas podem ocorrer juntas, quadro chamado meningoencefalite.
Vale mencionar que a encefalite costuma ser uma condição aguda ou subaguda, evoluindo em dias a poucas semanas. Mas algumas variantes, como encefalites autoimunes ou paraneoplásicas, podem ter curso mais prolongado.
Tipos de encefalite infecciosa
A maioria dos casos de encefalite é infecciosa. Ou seja: acontece quando um agente externo – um invasor – consegue chegar até o sistema nervoso central. Lá, ele provoca a inflamação no cérebro. E os tipos de encefalite infecciosa variam conforme o agente causador.
Encefalite viral
É a forma mais comum. O agente clássico é o herpes simplex tipo 1 (HSV-1), que pode invadir o cérebro e causar um quadro grave, especialmente em adultos. O herpes simplex tipo 2 (HSV-2) está mais associado a encefalite neonatal.
Outros vírus também podem causar encefalite, embora seja menos frequente. São eles:
- Arbovírus (transmitidos por mosquitos), como os da dengue, Zika e chikungunya. Nesses casos a encefalite é rara, podendo ocorrer mais como complicação pós-infecciosa.
- Vírus da raiva.
- Varicela-zóster (responsável pela catapora e herpes-zóster).
Encefalite bacteriana
É menos comum e geralmente aparece como complicação de uma meningite bacteriana. Isso porque as bactérias podem se espalhar das meninges para o tecido cerebral.
A doença de Lyme, transmitida por carrapatos, pode raramente causar encefalite, mas geralmente afeta os nervos e as meninges.
Já a neurossífilis (infecção pelo Treponema pallidum, causador da sífilis) também pode, em fases avançadas, levar a uma meningoencefalite sifilítica, embora seja incomum.
Encefalite fúngica
Esta forma de encefalite é muito rara e afeta principalmente pessoas imunossuprimidas, como pacientes com HIV/AIDS, câncer ou que fizeram transplantes.
Um exemplo de causa é o fungo Cryptococcus. No entanto, é mais comum que este fungo cause meningite criptocócica, e menos comum que ele cause a encefalite em si.
Encefalite parasitária
A encefalite causada por parasitas também é rara. Pode ser causada por protozoários, como o Toxoplasma gondii (toxoplasmose), que pode ser reativado em imunossuprimidos.
Vale mencionar que a malária cerebral (Plasmodium falciparum) não é tecnicamente uma encefalite, mas sim uma encefalopatia grave, que pode se parecer com ela.
Tipos de encefalite autoimune
Na encefalite autoimune, não há um invasor externo atacando o cérebro. Em vez de combaterem infecções, as células de defesa atacam células saudáveis do cérebro.
Encefalite autoimune por anticorpos antirreceptores
Neste tipo, o sistema imune produz anticorpos contra receptores dos neurônios. Um exemplo conhecido é a encefalite anti-receptor NMDA. Esses receptores são fundamentais para memória e comportamento. Quando atacados, o paciente pode apresentar sintomas psiquiátricos e neurológicos graves.
Encefalite pós-infecciosa
Esta forma surge dias ou semanas após infecções como sarampo ou catapora. O sistema imunológico, mesmo após eliminar o vírus, continua ativado e passa a atacar a mielina (capa protetora dos neurônios).
Encefalite paraneoplásica
Neste tipo está relacionado à presença de um tumor. O sistema imunológico tenta combater as células tumorais, mas, por semelhança, ataca também o cérebro. Muitas vezes, a encefalite é a primeira manifestação clínica antes mesmo do diagnóstico do câncer.
Causas
As causas mais comuns de encefalite são:
- Vírus: herpes simplex tipo 1 (o principal), VZV, arbovírus, sarampo, caxumba, rubéola.
- Reações autoimunes.
- Bactérias, incluindo neurossífilis.
- Fungos e parasitas (mais raros).
Em muitos casos, mesmo após investigação, a causa permanece indefinida.
Prevenção
Para prevenir a encefalite é preciso mante as vacinas em dia:
- Vacina sarampo, caxumba, rubéola, varicela.
- Vacina herpes zóster: recomendada a partir de 50 anos, ela reduz significativamente o risco de reativação do vírus varicela-zóster, mas não elimina totalmente.
- Vacina antirrábica, em situações de risco.
Além disso, é importante adotar medidas como o uso de repelente, o controle de água parada e uma boa higiene das mãos.
Sintomas de encefalite
No início, o quadro pode se parecer com o de uma gripe, com sintomas como febre, dor de cabeça, dores musculares e cansaço. Mas os sintomas neurológicos graves podem surgir rapidamente. São eles:
- Confusão mental, desorientação.
- Alterações de comportamento.
- Convulsões.
- Fraqueza ou dormência em partes do corpo.
- Alterações de fala ou audição.
- Redução do nível de consciência ou coma.
Qual médico procurar?
Ao apresentar sintomas suspeitos de encefalite, procure um serviço de emergência imediatamente. O neurologista deve avaliar os danos neurológicos. Já o infectologista investiga agentes infecciosos.
Exames que auxiliam no diagnóstico da encefalite
Depois da avaliação clínica dos sintomas, o médico solicita uma série de exames. Na punção lombar, uma amostra do líquido cefalorraquidiano (líquor) é retirada para análise. Ele é fundamental para o diagnóstico.
Já os de sangue, como o hemograma, avaliam sinais de infecção. E ainda podem ser solicitados:
- Ressonância magnética: mostra áreas de inflamação ou inchaço.
- Tomografia: útil em emergências, ajuda a descartar tumores ou AVC.
- Eletroencefalograma: pode mostrar alterações compatíveis com encefalite, especialmente em casos de convulsão.
Formas de tratamento para a encefalite
O tratamento sempre ocorre no hospital, muitas vezes em UTI. Deve começar mesmo antes da causa estar confirmada, conforme a principal suspeita:
- Encefalite viral por HSV (vírus do herpes simples) ou VZV (vírus varicela-zóster): o paciente recebe aciclovir endovenoso imediatamente.
- Outros vírus: não há antivirais específicos; o tratamento é de suporte.
- Encefalite autoimune: são indicados corticoides, imunoglobulina ou plasmaférese.
- Encefalite bacteriana: o tratamento é com antibióticos.
- Encefalite fúngica: é tratada com antifúngicos.
Além disso, todos os pacientes recebem os chamados cuidados de suporte. E eles incluem controle da febre, hidratação, medicamentos para controlar convulsões e monitoramento da pressão dentro do crânio.