Estresse de fim de ano: dá para evitar?
Excesso de compromissos e confraternizações pode aumentar a ansiedade do período
Para muitas pessoas, dezembro é mês de festas, reencontros e muita celebração. Para outros, no entanto, é um mês em que se gasta muito dinheiro, o trânsito piora e ainda é preciso “sorrir e acenar” para pessoas com quem daríamos tudo para não dividir o mesmo ambiente.
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Amando ou odiando, inegavelmente, o fim do ano tem um aumento no volume de compromissos que acaba elevando também o nível de estresse das pessoas. Dados da ISMA-BR (International Stress Management Association), por exemplo, afirmam que o nível de estresse entre as pessoas aumenta, em média, 75% em dezembro.
Esse estresse pode estar por trás de um aumento nos casos de ataque cardíaco que ocorre justamente nessa época do ano. De acordo com a American Heart Association, o dia 25 de dezembro é o campeão no número de mortes por esse problemas cardíacos – seguido pelo dia 26 de dezembro e o dia 1 de janeiro, respectivamente.
O dado é corroborado por um estudo, publicado no periódico científico British Medical Journal, que mostrou um aumento de 37% nos ataques cardíacos durante o natal e 20% na virada do ano.
“É um período de euforia e festas, mas, muitas vezes, a sobrecarga de eventos e cobranças nos leva a sentir angústia e frustração, além de aumentar nos deixar mais ansiosos e cansados”, afirma o psiquiatra Rodrigo Martins Leite, coordenador dos Ambulatórios do IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Por que nos estressamos tanto no fim do ano?
Há algumas respostas para essa questão. Para começar, é uma época de muitas compras e confraternizações, o que aumenta a movimentação nos centros de comércio e no trânsito – “travando” a mobilidade de quem precisa sair de casa todos os dias.
A psicóloga e terapeuta familiar Marina Vasconcellos, especialista em psicodrama, de São Paulo, lembra ainda que é muito comum da cultura do brasileiro deixar tudo para a última hora – no caso, em dezembro.
“Deixamos para organizar as férias, queremos nos encontrar com quem não vimos o ano todo, comprar os presentes na última hora, enfim, muita coisa acontece nesse curto tempo”, explica.
Em muitos casos, há ainda aquela sensação de que é preciso terminar tudo até o dia 31 de dezembro para começar o ano “zerado”. “Queremos começar o novo ano com a vida resolvida, mas isso nunca é possível”, afirma a psicóloga Dorli Kamkhagi, de São Paulo.
Segundo ela, esse é um comportamento que acaba aumentando a pressão sobre nós mesmos – uma exigência que, por vezes, é excessiva. “É como se a gente não tivesse um ‘segundo turno’ para conseguir ajustar o que faltou, o que não é verdade, já que sempre há tempo”, avalia.
E os encontros sociais?
Esse é outro ponto que também gera estresse, afinal, há expectativas tanto em viver bons momentos como de ter que suportar uma eventual crise ou conflito com pessoas com quem não nos damos tão bem.
“É um momento em que mágoas, situações mal resolvidas do passado e sentimentos guardados estão à flor da pele”, acredita Leite. “E, infelizmente, nem sempre é possível passar por esse período sem acabar vivenciando situações que machucam”, diz.
Aqui, dá para encaixar aqueles almoços ou jantares com colegas de trabalho com quem a relação não é boa; ou a ceia/almoço de natal com pessoas da família com quem você interage pouco ou que não respeitam seus valores de vida.
O melhor, aqui, é relevar, ignorar quaisquer rusgas e evitar entrar em conflitos, por mais que isso seja difícil. “Não é o momento para discussões, ninguém vai mudar de ideia e nada será resolvido a essa altura do campeonato”, orienta Vasconcellos. “O encontro, quando acontece, é para celebrar, não para brigar”, afirma.
Dá para reduzir esse estresse?
A resposta, felizmente, é sim. O principal é reconhecer que temos limites e, por isso, nem sempre vai ser possível fechar o ano com tudo 100% resolvido – e tudo bem.
Para começar, é importante planejar e organizar as demandas antes de dezembro. Mas, se não deu, é hora de relaxar. “Faça o que for possível, eleja prioridades, ninguém precisa ir a todas as confraternizações”, acredita Vasconcellos.
“Reduzir o excesso de expectativas e manter um olhar mais tranquilo sobre essa época do ano é fundamental para se preservar”, afirma o psiquiatra do IPq, que lembra ainda do poder da gratidão neste momento.
“Acreditar que deu o melhor de si durante o ano e que recebeu o que foi possível é uma forma de se tranquilizar”, afirma.
Para Kamkhagi, essa humildade em aceitar nossas limitações e encarar a virada do ano como uma passagem, e não um fim, é uma forma de renovar as esperanças para o novo ano que irá se iniciar.
“O melhor é exercitar a serenidade para encarar esse momento como uma nova oportunidade para sermos melhores, realizar mais”, acredita.