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    Gastrite: inflamação exige atenção médica e mudança de hábitos

    Aquele incômodo persistente na boca do estômago, muitas vezes acompanhado de má digestão, pode ser um indício do problema

    Por Samantha CerquetaniPublicado em 22/05/2025, às 14:12 - Atualizado em 22/05/2025, às 14:12

    Bastante comum, a gastrite é uma inflamação que acontece na mucosa, aquela camada que reveste o nosso estômago por dentro. Essa inflamação pode ter diversas causas e se manifestar de várias. Por isso, se você sentir que algo não vai bem com a sua digestão, vale consultar um médico gastroenterologista em busca de um diagnóstico correto e um tratamento bem direcionado.

    Gastrite: o que é?

    Gastrite é uma inflamação do estômago ou, mais precisamente, da sua camada interna. Pense na parede interna do seu estômago como uma espécie de “escudo protetor”. Ela protege o órgão da acidez do suco gástrico, essencial para a digestão dos alimentos. Na gastrite, essa mucosa gástrica fica inflamada.

    Essa inflamação pode surgir de repente e durar pouco tempo, sendo chamada de gastrite aguda. Ou pode se desenvolver aos poucos e persistir por meses ou até anos, caracterizando a gastrite crônica – e que, em alguns casos, pode levar a complicações mais sérias se não for tratada adequadamente, como úlceras ou até mesmo, em situações mais raras e de longa data, aumentar o risco de câncer de estômago.

    A gastrite também pode ser classificada de acordo com a parte do estômago afetada. Por exemplo, quando a inflamação atinge todo o órgão, ela pode ser chamada de pangastrite.

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    Principais causas para a gastrite

    As causas da gastrite são variadas e uma das principais é a infecção pela bactéria Helicobacter pylori, ou simplesmente H. Pylori. Essa bactéria consegue sobreviver no ambiente ácido do estômago e, ao se instalar na mucosa, pode causar uma inflamação crônica. Essa infecção é bastante comum e, em muitos casos, pode não apresentar sintomas por um longo período.

    Outras causas frequentes de gastrite são:

    Uso prolongado ou em altas doses de medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (aines): remédios como o ácido acetilsalicílico, ibuprofeno e diclofenaco podem agredir a mucosa do estômago, diminuindo suas defesas naturais contra o ácido gástrica.

    Consumo excessivo de bebidas alcoólicas, já que o álcool irrita diretamente a parede do estômago.

    Tabagismo, que pode contribuir para o desenvolvimento da gastrite e dificultar a cicatrização da mucosa gástrica.

    O estresse biológico e físico: situações como cirurgias de grande porte, traumatismos graves, queimaduras extensas ou infecções generalizadas podem levar a um tipo de gastrite conhecida como gastrite por estresse. E, embora o estresse do dia a dia não seja uma causa direta, ele pode piorar os sintomas em quem já tem a condição ou predisposição.

    Além disso, existem causas menos comuns, como doenças autoimunes, onde o próprio sistema imunológico do corpo ataca as células do estômago (gastrite autoimune) e refluxo biliar (quando a bile, produzida no fígado, volta para o estômago).

    A idade avançada também pode ser um fator, pois a mucosa gástrica tende a se tornar mais fina com o envelhecimento, tornando-a mais suscetível a danos.

    É possível prevenir a gastrite?

    Sim, é possível adotar medidas para prevenir o surgimento da gastrite ou, pelo menos, reduzir o risco de desenvolvê-la. Isso porque muitas das causas estão relacionadas ao nosso estilo de vida e hábitos. Então, podemos:

    Cuidar da alimentação. Evitar o consumo excessivo de alimentos muito gordurosos, frituras, condimentos fortes (pimenta, catchup, mostarda), café em excesso, refrigerantes e bebidas alcoólicas pode ajudar a proteger a mucosa do estômago.

    Evitar o jejum prolongado, já que o suco gástrico no estômago vazio pode irritar a mucosa.

    Mastigar bem os alimentos e comer com calma, o que facilita a digestão e diminui o trabalho do estômago.

    Evitar o uso indiscriminado de anti-inflamatórios. Só utilize esses remédios sob orientação médica e pelo menor tempo necessário. Se precisar usar por um período mais longo, converse com seu médico sobre como proteger o estômago.

    Controlar o estresse. Embora o estresse cotidiano não cause gastrite diretamente, ele pode agravar os sintomas e diminuir as defesas do organismo. Praticar atividades físicas, fazer terapia, meditar ou ter hobbies pode ajudar nesse sentido.

    Parar de fumar, já que o cigarro prejudica a mucosa do estômago e dificulta a cicatrização.

    Quanto à bactéria H. Pylori, a prevenção da infecção está ligada a boas práticas de higiene, como lavar bem as mãos antes das refeições e após usar o banheiro, além de consumir água tratada e alimentos bem cozidos e higienizados.

    Sintomas de gastrite

    Os sintomas da gastrite podem variar bastante, e há inclusive quem não sinta absolutamente nada, especialmente nos casos de gastrite crônica. Mas, quando eles aparecem, o mais clássico e frequentemente relatado é a dor na parte superior do abdômen, popularmente conhecida como “dor na boca do estômago”

    Essa dor pode ser descrita como uma queimação, pontada ou sensação de aperto, e pode piorar com a ingestão de certos alimentos ou quando o estômago está vazio.

    A azia, aquela sensação de queimação do estômago em direção à garganta, também é um sintoma comum, embora possa estar presente em outras condições como o refluxo gastroesofágico.

    Náuseas e vômitos também podem ocorrer, sendo que o vômito pode conter alimentos não digeridos, muco ou, em casos mais graves de gastrite erosiva (quando há feridas na mucosa), traços de sangue ou uma coloração escura, semelhante à borra de café.

    Outros sinais que podem indicar gastrite são:

    Sensação de estômago cheio ou empachamento, mesmo após comer pouco;

    Perda de apetite;

    Arrotos frequentes (eructação);

    Indigestão ou má digestão (dispepsia);

    Inchaço abdominal;

    Em casos de gastrite erosiva com sangramento, podem surgir sintomas como fezes escuras e com odor forte (melena) ou, em sangramentos mais intensos, palidez, fraqueza e tontura, sinais de anemia.

    É fundamental estar atento a esses sinais e procurar ajuda médica, pois a automedicação pode mascarar os sintomas e atrasar um diagnóstico correto, piorando o quadro.

    Qual médico procurar?

    Se você está enfrentando sintomas que sugerem gastrite, como dor abdominal persistente, queimação, náuseas ou outros desconfortos gástricos, o médico mais indicado para fazer o diagnóstico e orientar o tratamento é o gastroenterologista. Ele tem profundo conhecimento sobre as doenças do sistema digestório.

    Exames indicados

    Para confirmar o diagnóstico de gastrite e investigar suas causas, o médico pode solicitar alguns exames, embora o tratamento chamado empírico (aquele feito sem a identificação direta do agente causador por um exame complementar) seja frequentemente adequado. Portanto, a história clínica é fundamental para o diagnóstico da causa da gastrite.

    O principal e mais conclusivo exame complementar é a endoscopia digestiva alta. No exame, um tubo fino e flexível com uma câmera na ponta (endoscópio) é introduzido pela boca do paciente e avança pelo esôfago até o estômago e o duodeno (a primeira parte do intestino delgado).

    Esse procedimento permite visualizar a mucosa gástrica, identificar sinais de inflamação, erosões, úlceras ou outras alterações. Nele, o médico geralmente realiza biópsias: retira pequenos fragmentos da mucosa do estômago para análise em laboratório e, assim, confirmar a inflamação, determinar o tipo e a gravidade da gastrite e, eventualmente, detectar a presença da bactéria H. Pylori.

    No caso de H. Pylori, existem ainda outros testes para detectá-la, como o teste respiratório com ureia marcada, exames de sangue (sorologia) para verificar a presença de anticorpos contra a bactéria, ou o teste para detecção de antígenos nas fezes.

    Em alguns casos, exames de sangue podem ser solicitados para verificar se há anemia (que pode ser causada por sangramento gástrico crônico) ou para investigar causas autoimunes de gastrite.

    Tratamentos para a gastrite

    O tratamento da gastrite visa aliviar os sintomas, tratar a causa subjacente da inflamação e prevenir complicações. E a abordagem varia conforme a causa, a gravidade e o tipo de gastrite (aguda ou crônica). Mas uma medida é comum e fundamental: mudanças nos hábitos de vida e na alimentação. E isso inclui:

    Evitar alimentos e bebidas que irritam o estômago, como frituras, gorduras, condimentos picantes, café, chocolate, bebidas alcoólicas e refrigerantes.

    Não fumar.

    Fazer refeições menores e mais frequentes, evitando longos períodos de jejum.

    Mastigar bem os alimentos.

    Controlar o estresse.

    Evitar deitar-se logo após as refeições.

    Em relação aos medicamentos, o médico pode prescrever diferentes classes, dependendo da necessidade. Mas aqueles que reduzem a produção de ácido são a base do tratamento medicamentoso.

    Falamos aqui de inibidores da bomba de prótons (IBPs), como omeprazol, pantoprazol, lansoprazol, esomeprazol; de bloqueadores dos receptores h2, como a ranitidina (atualmente com uso restrito em alguns locais) e a famotidina.

    Também podem ser indicados os antiácidos – que neutralizam o ácido do estômago e proporcionam alívio rápido dos sintomas – e protetores da mucosa gástrica, que formam uma camada protetora sobre a mucosa do estômago, ajudando na cicatrização.

    Se a causa da gastrite for a infecção pela bactéria H. Pylori, o tratamento passa pelo uso de antibióticos combinados com um inibidor da bomba de prótons por um período determinado para erradicar a bactéria. Depois que o tratamento termina, o médico pode solicitar exames para confirmar se a bactéria foi eliminada.

    Agora se a gastrite for causada pelo uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), o médico pode recomendar a suspensão ou substituição do medicamento, se possível, ou a prescrição de um protetor gástrico para ser usado concomitantemente.

    Em gastrites autoimunes, o tratamento pode envolver a suplementação de vitamina b12, caso haja deficiência.

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    Fonte: Dra. Laura Lopes – Endocrinologista

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