A importância dos avós no desenvolvimento infantil
Presença deles na vida das crianças reduziria o risco de desenvolver problemas emocionais
Com a ampliação da atuação feminina – e das mães – no mercado de trabalho nas últimas décadas, um provérbio africano se tornou bastante popular. Ele diz: “é preciso uma aldeia para se educar uma criança.”
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E, com o aumento na expectativa de vida das pessoas, em muitos casos, os avós se tornaram parte fundamental dessa “aldeia” moderna nos cuidados com as crianças e até adolescentes, em especial nas famílias de pais divorciados ou pai/mãe solo.
Não à toa, eles ganharam até um dia especialmente dedicado a eles: o dia 26 de julho, quando é celebrado o Dia dos Avós. Mas a participação deles na vida dos netos não é apenas conveniente. Ela também traz benefícios e é importantíssima para a saúde mental de ambos.
É o que diz um estudo realizado pela universidade de Oxford, no Reino Unido. De acordo com o trabalho, os netos que têm uma relação ativa com seus avós tendem a ter menos problemas emocionais e comportamentais.
O estudo ainda apresentou uma curiosidade: enquanto as avós tendem a ter um comportamento mais maternal nos cuidados com os netos, os avôs ficam mais envolvidos com a realização de atividades e mentoria.
Em outro estudo, feito nos Estados Unidos, os pesquisadores constataram que o relacionamento entre avós e netos tornava ambos mais felizes e protegidos contra a depressão.
Para a pediatra Juliana Sobral, da Maternidade Brasília, a experiência que os avós acumularam por tantos anos ajuda a criar uma visão mais ponderada da vida e a transmitir segurança. “Isso contribui para dar mais estabilidade emocional aos netos”, afirma.
Os avós, aliás, também saem ganhando nessa relação e têm benefícios para a própria saúde, emocional e física. Uma pesquisa feita na Alemanha, por exemplo, indica que cuidar dos netos poderia aumentar a expectativa de vida dos avós.
Identidade e pertencimento
Quando falamos em avós cuidando dos netos, estamos falando daqueles indivíduos que têm um papel complementar nessa família – ou seja, estão ajudando os pais, que geralmente precisam sair para trabalhar, a cuidar das crianças nesses momentos de ausência.
Mas essa ajuda vai além da questão logística. Por serem de outra geração e terem vivido em outro tempo, os avós podem compartilhar com os netos as próprias memórias de um mundo que não existe mais, de como as coisas eram quando eles próprios ou os filhos deles eram crianças.
“Isso é fundamental para a formação individual da criança e do adolescente, uma questão de identidade mesmo, conhecer de onde veio e do grupo ao qual pertence”, explica a psiquiatra Danielle Admoni, especializada em infância e adolescência, preceptora na residência da Escola Paulista de Medicina na Unifesp.
Segundo ela, outra questão importante é a troca de conhecimento entre as duas gerações. “Enquanto os mais velhos podem ensinar a cozinhar ou outra atividade do tempo deles, por exemplo, as crianças podem mostrar como se joga videogame ou mexer no celular”, afirma ela, reforçando que essa troca é sempre muito produtiva para os dois lados.
Ajustando expectativas e estabelecendo limites
Embora essa relação tenha tantos aspectos positivos, é comum também que existam alguns atritos. Muitos pais reclamam, por exemplo, que os avós não dão limites aos netos e os deixam fazer tudo o que quiserem.
De fato, a história de que avó é “mãe com açúcar” não é nova. Mas é preciso ajustar as expectativas para então conversar sobre o papel de cada um, evitando assim que limites sejam ultrapassados.
“Os avós não têm a responsabilidade de educar as crianças, isso é papel dos pais”, afirma Admoni. “Por outro lado, alguns combinados entre pais e filhos também precisam ser respeitados pelos avós”, diz.
Por outro lado, é importante que os pais deixem as crianças aproveitarem os momentos de convivência com os avós sem impor as próprias regras na interação e no relacionamento.
No fim, uma boa e velha conversa é essencial para ajustar o papel de cada um na família, deixar claro o que cada um espera do outro e ajustar limites para evitar que alguma confusão acabe com uma relação familiar tão importante.