Nervo vago e saúde mental: qual é a relação?
Estimulação adequada pode ajudar a tratar casos de depressão resistente a medicamentos
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), existem aproximadamente 280 milhões de pessoas com depressão no mundo, o que corresponde a cerca de 3,8% da população.
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E, embora já existam tratamentos bastante eficazes para acolher esses indivíduos, estima-se que entre 10% a 15% deles não tenham nenhuma resposta aos medicamentos comumente utilizados para tratar os sintomas da doença.
É a chamada resistente, refratária ou não responsiva, quando o paciente não apresenta nenhuma melhora com o uso de medicamentos ou apresenta uma melhora parcial dos sintomas.
Para essas pessoas, a possibilidade de novos tratamentos é um alento e uma esperança. E, nesse caminho, uma das áreas que vem recebendo atualizações importantes nos últimos anos são as terapias de eletroestimulação em regiões específicas do cérebro.
Uma dessas alternativas enfoca a estimulação do nervo vago, considerado o maior “nervo” do corpo humano.
O que é o nervo vago?
O nervo vago, na verdade, não é um, mas vários feixes de nervos que vão do cérebro – no tronco cerebral – até o abdômen, onde se ramificam para todos os órgãos.
Ele é o encarregado de enviar para o cérebro as informações sobre o que está acontecendo em todos os órgãos, incluindo aqueles com funções vitais, como pulmão e coração.
O nervo vago ainda é responsável por regular nosso paladar, a hora do descanso e até os batimentos cardíacos. Recentemente, também se descobriu que ele pode ajudar a modular o humor, melhorando a saúde mental.
A chave, então, seria encontrar a forma certa de estimular esse nervo. É aí que entra a eletroestimulação.
Nervo vago e a saúde mental
De acordo com a médica neurologista Aline de Moura Brasil Matos, do Hospital Santa Paula, estudos já demonstraram que estímulos específicos e controlados no nervo vago podem auxiliar no tratamento da depressão e ansiedade refratárias.
Em um dos trabalhos, que acompanhou pacientes com depressão severa e sem resposta a medicações por cinco anos, os cientistas concluíram que o tratamento feito com estimulação do nervo vago trouxe alívio para os sintomas.
Uma outra pesquisa também demonstrou que o uso de estimulação controlada teve um papel importante no tratamento de pacientes com transtorno pós-traumático.
“Ocorre que o nervo vago tem grande papel na regulação da noradrenalina, um neurotransmissor que aparece em desequilíbrio em várias doenças neuropsiquiátricas”, explica a médica.
“Além disso, as doenças psiquiátricas também implicam na produção inadequada de substâncias inflamatórias no corpo, que também são reguladas pelo nervo vago”, diz.
Por isso, a eletroestimulação dessa estrutura nervosa já é utilizada há anos com aparelhos específicos (inclusive autorizados pela Anvisa no Brasil) para beneficiar pacientes portadores de epilepsia, diabetes e doenças inflamatórias autoimunes, como doença de Crohn ou artrite reumatoide.
Nervo vago nas redes sociais
No último ano, o nervo vago ganhou popularidade nas redes sociais justamente por seu “apelo” para melhorar a ansiedade e a depressão – dois problemas que aumentaram de forma considerável durante a pandemia do novo coronavírus.
No TikTok, existem milhares de publicações com a hashtag #vagusnerve (“nervo vago”, em inglês) ensinando truques caseiros para aumentar o tônus ou estimular de forma caseira o nervo vago.
As dicas incluem mergulhar o rosto em água gelada e até alguns movimentos de massagem no pescoço e ouvidos, além de técnicas de respiração que poderiam despertar as terminações nervosas. Até mesmo óleos de massagem e sprays estão sendo comercializados para essa finalidade – só que sem nenhum embasamento científico.
Por isso, antes de sair testando qualquer truque milagroso encontrado na internet, a melhor recomendação é que a pessoa procure um especialista para entender se de fato essa opção é a melhor para ele – e então realizá-la de acordo com as orientações médicas.
“Seguindo os protocolos específicos e aparelhos aprovados pelas agências reguladoras, o estímulo ao nervo vago pode, sim, ajudar em casos específicos, quando os tratamentos de primeira linha não têm efeito”, afirma Matos.