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    Vício em celular eleva risco de suicídio em jovens

    Uso em excesso também está ligado à baixa autoestima e depressão em adolescentes

    Por Danielle SanchesPublicado em 11/10/2022, às 08:01 - Atualizado em 25/05/2023, às 16:04
    Imagem: Shutterstock

    Para qualquer lugar que se olhe, é difícil não enxergar alguém com o telefone celular na mão. Não é surpresa: afinal, de acordo com dados da consultoria IDC, a venda desses aparelhos no Brasil teve um aumento de 3,1% no segundo trimestre de 2022 – totalizando 11,3 milhões de aparelhos comercializados. 

    Um outro relatório, desta vez feito pela plataforma AppAnnie (que avalia apenas usuários de celulares Android), mostrou que o brasileiro passa, em média, 5,4 horas por dia no celular, colocando o país na dianteira do ranking de quem mais passa tempo conectado. 

    Nesse cenário, podemos afirmar que não são apenas adultos que passam tempo em sites e redes sociais. Adolescentes e até crianças de 10 ou 11 anos também estão listadas como usuários cada vez mais frequentes desses aparelhos. 

    E, embora seja realmente difícil manter as gerações Z e alpha, que já nasceram na era digital, longe dos celulares, existem cada vez mais evidências de que o uso deve ser controlado e equilibrado para não gerar efeitos negativos e até aumentar o risco de suicídio entre esses jovens. 

    Em 2017, por exemplo, um estudo publicado por pesquisadores da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, já relacionava o excesso de tempo que adolescentes passavam pelo menos uma hora grudados em seus smartphones sentiam um aumento no sentimento de infelicidade.  

    Outro estudo, feito com adolescents da Korea do Sul, revelou que o excesso de uso desses aparelhos aumentava os conflitos familiares e as dificuldades na produção acadêmica, além de elevar o risco para tentativas de suicídio.

    De acordo com Lívia Beraldo, psiquiatra do Hospital 9 de Julho, o excesso de uso de telas também pode causar transtornos do sono, déficit de atenção e hiperatividade, problemas de postura e na musculatura e também aumentar o risco para o desenvolvimento de depressão e ansiedade.

    O medo irracional de ficar sem o telefone celular, aliás, já tem nome: é a nomofobia e pode gerar até uma espécie de “crise de abstinência”, com episódios de ansiedade e irritabilidade.

    Então, como saber quando há um problema e o que fazer para ajudar? 

    Quais as consequências do excesso de uso?

    Um dos problemas mais conhecidos do excesso do uso de smartphones são os danos que as redes sociais podem causar em indivíduos que ainda estão com o cérebro em formação e são emocionalmente imaturos. 

    Os estudos, por exemplo, mostram que o excesso de uso das redes sociais expõe os adolescentes a conteúdos que estimulam um certo padrão de beleza e comportamento irreal, aumentando sentimentos de inadequação e infelicidade diante da realidade fora das telas. 

    Outro problema é o cyberbulling, agressão realizada de forma on-line que muitas vezes leva os adolescentes a tentar o suicídio por não saberem como lidar com a exposição de sua imagem em um ambiente tão amplo como a internet. 

    Há ainda o vício na tecnologia em si, a tal nomofobia. Ou seja, a necessidade de usar o smartphone para se regular emocionalmente, amenizando o tédio, a ansiedade e até mesmo uma depressão que já pode estar instalada previamente.

    Nesse caso, como o cérebro do adolescente ainda é imaturo, ele tem mais dificuldade em se auto-regular e exercer o autocontrole. 

    “Por isso, os jovens estão, de fato, mais propensos a desenvolver esse tipo de vício”, afirma Danielle Admoni, psiquiatra geral e da infância e adolescência, preceptora na residência da Escola Paulista de Medicina UNIFESP e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).

    Sinais e sintomas da nomofobia (vício em celular)

    De acordo com Lívia Beraldo, pessoas com uso problemático do celular dão vários sinais e sintomas muito parecidos com a dependência química ou qualquer outro vício. 

    “Existe a ‘fissura’, a necessidade de usar o celular para se sentir melhor, abstinência quando não está com ele e até deixar de fazer outras coisas da rotina para ficar mais tempo no aparelho”, explica a especialista. 

    Outros sinais são: atrasos para compromissos por ficar muito tempo on-line; gastos excessivos relacionados ao aparelho; dificuldade em manter o celular desligado quando é obrigado, como no avião; queda na produtividade do trabalho e/ou escola por excesso de tempo on-line; e problemas de relacionamento por se ausentar para usar o celular. 

    Para que exista um diagnóstico de nomofobia, é importante que o adolescente apresente ao menos cinco dos comportamentos abaixo: 

    Arte: Andrea Petkevicius

    Como tratar e prevenir a nomofobia? 

    De acordo com Admoni, a melhor forma de tratar o vício em celular é justamente tirar o objeto, de forma gradual, da rotina do adolescente. Mas, é importante dizer que isso pode ser bastante desafiador. 

    “O adolescente pode resistir e, dependendo do grau de dependência, ele pode até tentar pegar o aparelho escondido dos pais”, afirma a médica. 

    Em casos mais graves, quando o adolescente deixa de viver sua vida “real” para ficar imerso apenas no mundo on-line, é necessário o uso de medicamentos e psicoterapia para lidar com o problema. 

    “Nem todos os adolescentes vão tentar o suicídio por causa do vício”, explica Admoni. “Geralmente, quando isso ocorre, o caso já é bastante grave e tem por trás algum transtorno mental, como a depressão, que precisa ser tratado”, alerta. 

    Por isso, a melhor forma é mesmo a prevenção, ou seja, limitar o uso diário do celular especialmente entre os mais jovens e estabelecer combinados, como permitir o uso apenas depois de terminar a lição de casa ou a prática de alguma atividade física. 

    “Os pais também precisam dar o exemplo e se controlarem no uso pessoal e não deixarem o adolescente com acesso livre ao aparelho, sem supervisão”, complementa a psiquiatra. 

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