O que precisamos saber sobre a 4ª onda da covid-19?
Alta no número de casos indica que a pandemia segue ativa no mundo
O aumento progressivo de casos positivos da covid-19 desde maio deste ano não deixa dúvidas: estamos, sim, em plena quarta onda da doença. E, pelos cálculos feitos com base nas outras que vivenciamos, o pico desta aconteceu em final de junho e já dá indícios de que iniciou sua queda em agosto.
Neste artigo, você vai ler:
Gostaria de dizer que isso já era esperado, especialmente porque estamos no inverno, temporada em que muitas doenças respiratórias de fato encontram ambiente fértil para serem disseminadas.
Mas, sabemos que o Sars-CoV-2 não é sazonal. Tivemos outras ondas em meses mais frios e mais quentes; a Europa e os EUA, atualmente, estão no verão e, assim como o Brasil, também experimentam uma alta significativa nos casos de covid-19.
Assim, a quarta onda não é um produto sazonal e sim uma consequência da combinação entre novas variantes altamente transmissíveis e capazes de driblar a proteção que as vacinas conferem; e a baixa na guarda da população, que, com autorização de seus respectivos governos, deixou de usar máscara e evitar a circulação em ambientes com muitas pessoas.
É como vivêssemos em um mundo sem a existência da covid-19, dizendo para nós mesmos: “ah, se pegar, pegou.”
O preço da tranquilidade
O problema é que essa guarda baixa tem impactos enormes não apenas na saúde coletiva como também na própria evolução da pandemia.
Comecemos falando dos hospitais e do próprio sistema de saúde como um todo. No início da pandemia, os lockdowns foram instituídos também para impedir uma sobrecarga nesse sistema, causando a morte de muitas pessoas pela incapacidade de oferecer auxílio especializado a elas.
Mais de dois anos depois do início da pandemia, as vacinas de fato possibilitaram uma redução significativa no número de hospitalizados e no número de mortes. Isso é um fato.
No entanto, quando temos um aumento excessivo no número de casos, é bastante provável que tenhamos um aumento de mortos e hospitalizados. As vacinas são eficazes e protegem contra desfechos desfavoráveis; mas existem pessoas em que elas não são aplicáveis ainda ou que não têm um efeito tão bom.
São os imunossuprimidos, os idosos acima dos 80 anos, pessoas com comorbidades e problemas de saúde e até as crianças menores de cinco anos, que ainda não foram vacinadas por não terem um imunizante eficaz à disposição.
Nas últimas semanas, as crianças têm sido um dos principais focos de circulação do vírus no Brasil. Por aqui, estima-se que mais de 90% das UTIs pediátricas estejam ocupadas com leitos para pacientes com covid-19.
São indivíduos que dependem totalmente do nosso compromisso em nos vacinarmos, cumprindo o esquema vacinal regular e atentando para não deixar passar os reforços tão logo eles sejam liberados.
Infelizmente, não é o que vem acontecendo: dados compilados pela imprensa mostram que cerca de 77% dos brasileiros estão vacinados com a segunda dose, e apenas 46% receberam a terceira (reforço). Entre as crianças de 5 a 11 anos, estima-se que cerca de 38% concluíram o esquema vacinal.
Em um cenário normal, isso já seria preocupante. Em um cenário com as variantes BA.4 e BA.5, derivadas da ômicron e altamente transmissíveis, isso é um alerta importante: existe o risco de assistirmos ao surgimento de uma nova variante que escape totalmente ao nosso controle. E nos coloque na estaca zero novamente.
Tripé de cuidados
Penso ser bastante compreensível que, após mais de dois anos convivendo com o Sars-CoV-2, todos estejamos cansados. Mas, neste momento, o ideal seria manter algumas medidas iniciadas no passado para evitar que uma nova ameaça apareça.
Costumo dizer que há um tripé de cuidados a serem tomados para impedir o avanço do coronavírus: aplicação consistente e contínua de vacinas, vigilância genômica e manutenção de medidas não farmacológicas como o uso de máscaras em locais de aglomeração.
Sempre que um pilar desses é enfraquecido, os outros precisam ser fortalecidos. Ao tornar o uso de máscara opcional em transportes públicos e ambientes fechados, por exemplo, os governos deveriam ter investido na aplicação de vacinas de forma insistente. Não foi o que aconteceu.
Por outro lado, o uso de autotestes, embora sejam de grande importância, acabaram reduzindo o número de testes RT-PCR realizados em laboratórios, dificultando a dimensão real da situação que vivemos hoje por conta da subnotificação.
Isso também atrapalha o trabalho da vigilância genômica, que utiliza essas amostras de laboratório para acompanhar a evolução das variantes em circulação e a eventual emergência de outras, tão logo elas surjam.
Neste momento, o ideal seria aliarmos todas essas medidas e comprarmos tempo para que uma vacina definitiva e mais potente, capaz de impedir a proliferação até mesmo das variantes futuras, seja desenvolvida.
Até lá, no entanto, no ritmo em que seguimos, a quarta onda parece ser mais uma dentre outras que iremos viver nos próximos meses.