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    O que precisamos saber sobre a 4ª onda da covid-19?

    Alta no número de casos indica que a pandemia segue ativa no mundo

    Por José Eduardo LeviPublicado em 02/08/2022, às 13:52 - Atualizado em 25/05/2023, às 15:35
    Foto: Shutterstock

    O aumento progressivo de casos positivos da covid-19 desde maio deste ano não deixa dúvidas: estamos, sim, em plena quarta onda da doença. E, pelos cálculos feitos com base nas outras que vivenciamos, o pico desta aconteceu em final de junho e já dá indícios de que iniciou sua queda em agosto.

    Neste artigo, você vai ler:

    Gostaria de dizer que isso já era esperado, especialmente porque estamos no inverno, temporada em que muitas doenças respiratórias de fato encontram ambiente fértil para serem disseminadas.

    Mas, sabemos que o Sars-CoV-2 não é sazonal. Tivemos outras ondas em meses mais frios e mais quentes; a Europa e os EUA, atualmente, estão no verão e, assim como o Brasil, também experimentam uma alta significativa nos casos de covid-19.

    Assim, a quarta onda não é um produto sazonal e sim uma consequência da combinação entre novas variantes altamente transmissíveis e capazes de driblar a proteção que as vacinas conferem; e a baixa na guarda da população, que, com autorização de seus respectivos governos, deixou de usar máscara e evitar a circulação em ambientes com muitas pessoas.

    É como vivêssemos em um mundo sem a existência da covid-19, dizendo para nós mesmos: “ah, se pegar, pegou.”

    O preço da tranquilidade

    O problema é que essa guarda baixa tem impactos enormes não apenas na saúde coletiva como também na própria evolução da pandemia.

    Comecemos falando dos hospitais e do próprio sistema de saúde como um todo. No início da pandemia, os lockdowns foram instituídos também para impedir uma sobrecarga nesse sistema, causando a morte de muitas pessoas pela incapacidade de oferecer auxílio especializado a elas.

    Mais de dois anos depois do início da pandemia, as vacinas de fato possibilitaram uma redução significativa no número de hospitalizados e no número de mortes. Isso é um fato.

    No entanto, quando temos um aumento excessivo no número de casos, é bastante provável que tenhamos um aumento de mortos e hospitalizados. As vacinas são eficazes e protegem contra desfechos desfavoráveis; mas existem pessoas em que elas não são aplicáveis ainda ou que não têm um efeito tão bom.

    São os imunossuprimidos, os idosos acima dos 80 anos, pessoas com comorbidades e problemas de saúde e até as crianças menores de cinco anos, que ainda não foram vacinadas por não terem um imunizante eficaz à disposição.

    Nas últimas semanas, as crianças têm sido um dos principais focos de circulação do vírus no Brasil. Por aqui, estima-se que mais de 90% das UTIs pediátricas estejam ocupadas com leitos para pacientes com covid-19.

    São indivíduos que dependem totalmente do nosso compromisso em nos vacinarmos, cumprindo o esquema vacinal regular e atentando para não deixar passar os reforços tão logo eles sejam liberados.

    Infelizmente, não é o que vem acontecendo: dados compilados pela imprensa mostram que cerca de 77% dos brasileiros estão vacinados com a segunda dose, e apenas 46% receberam a terceira (reforço). Entre as crianças de 5 a 11 anos, estima-se que cerca de 38% concluíram o esquema vacinal.

    Em um cenário normal, isso já seria preocupante. Em um cenário com as variantes BA.4 e BA.5, derivadas da ômicron e altamente transmissíveis, isso é um alerta importante: existe o risco de assistirmos ao surgimento de uma nova variante que escape totalmente ao nosso controle. E nos coloque na estaca zero novamente.

    Tripé de cuidados

    Penso ser bastante compreensível que, após mais de dois anos convivendo com o Sars-CoV-2, todos estejamos cansados. Mas, neste momento, o ideal seria manter algumas medidas iniciadas no passado para evitar que uma nova ameaça apareça.

    Costumo dizer que há um tripé de cuidados a serem tomados para impedir o avanço do coronavírus: aplicação consistente e contínua de vacinas, vigilância genômica e manutenção de medidas não farmacológicas como o uso de máscaras em locais de aglomeração.

    Sempre que um pilar desses é enfraquecido, os outros precisam ser fortalecidos. Ao tornar o uso de máscara opcional em transportes públicos e ambientes fechados, por exemplo, os governos deveriam ter investido na aplicação de vacinas de forma insistente. Não foi o que aconteceu.

    Por outro lado, o uso de autotestes, embora sejam de grande importância, acabaram reduzindo o número de testes RT-PCR realizados em laboratórios, dificultando a dimensão real da situação que vivemos hoje por conta da subnotificação.

    Isso também atrapalha o trabalho da vigilância genômica, que utiliza essas amostras de laboratório para acompanhar a evolução das variantes em circulação e a eventual emergência de outras, tão logo elas surjam.

    Neste momento, o ideal seria aliarmos todas essas medidas e comprarmos tempo para que uma vacina definitiva e mais potente, capaz de impedir a proliferação até mesmo das variantes futuras, seja desenvolvida.

    Até lá, no entanto, no ritmo em que seguimos, a quarta onda parece ser mais uma dentre outras que iremos viver nos próximos meses.

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