Saúde do coração: por onde começar a cuidar?
Cuidar do coração começa na juventude; veja quais exames fazer e como prevenir doenças
As doenças cardiovasculares são as que mais matam no mundo atualmente: são cerca de 17,9 milhões de pessoas que perdem a vida todos os anos por problemas como infarto e acidente vascular cerebral.
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No Brasil, dados da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) indicam que mais de 70% das mortes no país são decorrentes de doenças cardiovasculares – ultrapassando o número de óbitos por câncer.
“É, sem dúvida, a causa principal de morte hoje no Brasil e no mundo”, afirma o médico cardiologista Jadelson Pinheiro de Andrade, superintendente e diretor de cardiologia do Hospital da Bahia.
Segundo ele, nesse cenário, é papel dos médicos convencer os pacientes a mudar hábitos de vida e aderir aos tratamentos medicamentosos, quando necessário.
No entanto, muitos pacientes nem chegam ao consultório a tempo de trabalharem a prevenção e buscam ajuda especializada apenas quando o problema, já instalado, dá sinais físicos.
“Não é da nossa cultura buscar o acompanhamento cardiológico e fazer check-ups”, lamenta a cardiologista Rica Buchler, que atua nos laboratórios da rede Delboni Auriemo, em São Paulo. “O que é triste, pois muitas doenças poderiam ser prevenidas ou ter o avanço atrasado se fossem tratadas”, afirma.
O trabalho é árduo especialmente entre as mulheres, já que a doença cardiológica está muito associada ao gênero masculino – embora também seja a que mais mata mulheres atualmente.
Mas esse cenário pode mudar nas próximas gerações, já que é cada vez maior o número de indivíduos jovens que entendem a importância de cuidar da própria saúde – o que inclui aí do coração também. Continue a leitura e saiba por onde começar.
Por que cuidar da saúde do coração?
Ele é um órgão que bate, em média, 2,5 bilhões de vezes durante a vida, leva litros e mais litros de sangue a todos os órgãos do corpo e ainda ajuda a levar embora tudo o que sobra de reações metabólicas realizadas no corpo.
Não à toa, um coração funcionando é fundamental para a vida humana. E isso, por si só, já deveria ser mais do que suficiente para que todos cuidassem do seu, visando garantir que ele continue a bater forte por muitos anos.
E esse cuidado começa pela realização dos check-ups cardiológicos, um conjunto de exames que o médico recomenda para avaliar a saúde do coração, de forma individualizada.
Com base nesses exames, no histórico familiar e no estilo de vida do paciente, é possível avaliar qual o risco que o indivíduo tem para sofrer um evento cardiológico – como um infarto – nos próximos 10 anos, o chamado “escore” de risco.
“Esse é o mundo ideal”, afirma Marianna Andrade, coordenadora da UTI cardíaca do Hospital da Bahia e presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa da mesma instituição. “Buscar o médico antes de ter o problema, realizar exames, ser orientado corretamente antes que o problema apareça”, afirma.
Mas não é o que acontece. Dados do Ministério da Saúde indicam que 1 em cada três brasileiros não têm o hábito de visitar o médico regularmente.
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A situação é ainda mais preocupante entre os homens, o grupo que mais morre desse tipo de problema de saúde: estima-se que um terço deles não busca ajuda para a prevenção de doenças nem a realização de check-ups.
A recomendação, no entanto, é que todo paciente – homem ou mulher – faça uma visita ao cardiologista aos 20 anos para checar como está a saúde. “Nesse momento, o médico vai medir a pressão arterial, pedir exames básicos para ver níveis de glicose e de colesterol”, explica Buchler.
E, independente da idade, quem quer sair do sedentarismo e deseja iniciar uma atividade física também deve passar no consultório antes de sair mexendo o corpo. “As doenças isquêmicas, que provocam obstruções, são silenciosas e podem se manifestar durante esforço físico”, explica Pinheiro de Andrade.
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Tratamentos: o que esperar deles?
Como já era esperado, o aumento na expectativa de vida em diversos países fez com que as doenças cardiovasculares, mais comuns com o avançar da idade, se tornassem cada vez mais frequentes.
“Com isso, existem hoje inúmeras frentes de estudo para medicamentos e tratamentos que visam cuidar desses pacientes”, afirma Pinheiro de Andrade.
Segundo o especialista, um dos avanços mais sólidos é observado na indústria farmacêutica, que oferece hoje uma variedade importante de remédios para controlar um dos principais agressores da saúde cardiovascular: a hipertensão arterial.
“Hoje, os efeitos colaterais são bem menores do que no início, quando a medicação foi lançada”, explica o médico. “Com isso, vemos também uma maior adesão ao tratamento”, afirma.
Além dos remédios para hipertensão, medicamentos anticoagulantes mais seguros e outras substâncias indicadas para o controle de insuficiência cardíaca também experimentaram um salto no desenvolvimento nos últimos anos.
Mas é na inovação tecnológica que os avanços na medicina do coração ficam mais evidentes. Atualmente, a implantação de devices como stents (prótese que impede o bloqueio das artérias) e próteses destinadas às válvulas do coração já é realizada de forma minimamente invasiva por meio dos tratamentos percutâneos.
Nesse procedimento, um cateter é inserido por uma pequena incisão no corpo (geralmente na virilha), semelhante ao que ocorre no cateterismo. A prótese é então levada ao coração seguindo os vasos sanguíneos.
Além de reduzir o tempo de internação, o método ainda diminui o risco de infecções e sequelas – já que uma cirurgia cardíaca, de peito aberto, é muito mais complexa e com mais riscos.
O avanço é tamanho que até mesmo os aparelhos de marca-passo, que ajudam a manter o ritmo dos batimentos em pessoas que têm problemas de arritmia, se tornaram menores, do tamanho de uma pílula de vitamina, e podem também ser implantados por meio percutâneo dependendo da necessidade do paciente.
“Alguns pacientes ainda vão precisar de cirurgia aberta tradicional”, afirma o especialista. “Mas, para todos os que não precisam, existem alternativas seguras”, diz.
Transplante cardíaco: quando ele é necessário?
Um dos momentos mais dramáticos na vida de qualquer paciente é precisar esperar por um órgão para continuar vivo. No Brasil, centenas de pessoas aguardam a chegada de um coração – um processo que, infelizmente, vem acompanhado da dor de outra família que perdeu um ente querido e precisa optar pela doação
A resistência da família em realizar a doação, aliás, é um dos principais entraves para que o país aumente o número de transplante de órgãos realizados. Hoje, infelizmente, é grande o número de indivíduos que acabam perecendo na fila de espera.
De acordo com a médica Ana Luiza Sales, cardiologista do CHN (Complexo Hospitalar Niterói), os pacientes que estão na lista aguardando um coração são aqueles que apresentam insuficiência cardíaca avançada, quando as medicações e outros tratamentos não têm mais efeito.
A insuficiência cardíaca ocorre quando o coração não consegue bombear sangue de forma eficiente para o resto do corpo, resultando em acúmulo de fluidos nas pernas, pulmões e outros tecidos.
Estima-se que a doença acometa mais de 65 milhões de pessoas no mundo. As principais causas do quadro são:
- cardiopatia isquêmica (obstrução de artérias do coração);
- hipertensão arterial; valvulopatias (doenças que acometem as válvulas do órgão);
- cardiomiopatia tóxica (relacionada ao uso de medicamentos, como os usados na quimioterapia);
- doença de Chagas (provocada pelo parasita Trypanosoma cruzi).
“É um diagnóstico bastante complexo”, afirma Sales. “Realizamos diversos testes e os resultados precisam estar de acordo com números bastante específicos para que o paciente possa entrar na lista de espera”, explica.
Gerida pelo Ministério da Saúde, a lista de espera por órgãos inclui desde crianças até pessoas mais velhas. No entanto, pelos critérios estabelecidos para a realização do transplante, indivíduos acima dos 70 anos, bem como os que possuem comorbidades que reduzam sua expectativa de vida ou que possuam doenças pulmonares não estão aptos a se tornarem receptores.
Uma vez que o procedimento seja feito, no entanto, a expectativa de vida é de oito a dez anos, em média – o que, claro, pode aumentar dependendo da saúde do paciente.
“O transplante dá uma boa qualidade de vida e permite que a pessoa viva bem. Alguns se tornam até atletas, mostrando que é possível ter uma vida normal após receber um coração”, afirma a especialista, que lembra que essas pessoas devem tomar medicamentos imunossupressores para o resto da vida para evitar que o corpo rejeite o órgão.
“Por isso, é fundamental que os transplantados tenham acompanhamento médico e também que cuidem da imunidade, já que são mais suscetíveis à infecções”, explica.
Qual o papel da genética nas doenças cardiovasculares?
Quando falamos em doenças cardiovasculares, sabemos hoje que elas são multifatoriais. Ou seja, existe um conjunto de fatores que podem influenciar no aparecimento ou não delas.
Por isso, mudança de hábitos, check-ups regulares e adesão aos tratamentos, quando necessários, são passos fundamentais para se controlar e até curar problemas cardiovasculares – já que conseguem controlar os fatores ambientais que aumentam o risco para essas doenças.
No entanto, existe uma face dos problemas cardíacos que não pode ser modificada: a genética. “Junto com a faixa etária, o fator genético é o único fator de risco para essas doenças que não conseguimos mudar”, afirma Jadelson.
O jeito, então, é pesquisar essa herança familiar para prever problemas futuros e até iniciar tratamentos de forma precoce, impedindo ou retardando o desenvolvimento dessas patologias.
“A presença de genes específicos para doenças cardíacas faz com que esses quadros, muitas vezes, se manifestem de forma precoce ou até mais grave”, explica o médico cardiologista Marcelo Bittencourt, head de cardiologia da Dasa Genômica.
“Assim, o mapeamento dessas eventuais mutações é importante para antecipar o diagnóstico e, muitas vezes, também evitar mortes súbitas”, avalia o especialista.
Bittencourt lembra, no entanto, que esse tipo de mapeamento genético ainda é considerado restrito para grande parte da população por seu alto custo. Além disso, são exames bastante específicos e, por isso, não fazem parte do check-up cardiológico básico.
“A pesquisa parte de um indivíduo doente que deseja descobrir se há uma mutação genética que possa estar presente em outros membros da família”, esclarece o cardiologista.
Por isso, outra vantagem desse tipo de exame é justamente a possibilidade de planejamento familiar.
“Testando outros familiares, é possível aferir a necessidade de acompanhamento próximo mesmo em que ainda não manifestou qualquer sintoma”, diz.
Mudanças que ajudam a prevenir doenças cardíacas
Manter o coração saudável é um trabalho para a vida toda. Um dos primeiros passos é checar o seu “escore cardíaco” – ou seja, o seu risco para desenvolver doenças cardiovasculares.
Esse “escore” é feito com base na análise de histórico familiar e hábitos de vida que, somados, podem ou não colocar o indivíduo dentro da faixa de risco baixo, médio ou alto para esse tipo de doença.
Os fatores de risco para problemas como infarto e AVC, os mais comuns dentre as doenças cardiovasculares, são:
Além disso, a idade também é um fator importante: homens acima dos 45 anos e mulheres acima dos 55 anos têm mais risco de desenvolver problemas do coração.
Além do acompanhamento médico e adesão ao tratamento, a mudança no estilo de vida é fundamental para reduzir o risco dessas doenças e alcançar uma vida mais saudável e longeva. As mudanças incluem: