O que é ser pai nos dias de hoje?
Mudanças sociais afetaram exigências desse papel tão importante na saúde mental dos filhos
Para uns, o essencial é o bem-estar material. Outros acham que basta dar o sobrenome e prover financeiramente a criança. E ainda existem os que acreditam que é preciso envolvimento, físico e emocional, para ser digno dessa experiência de vida.
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Estes são exemplos reais do que é ser pai atualmente – e poderíamos encontrar alguns deles em qualquer família brasileira dos dias de hoje. Essa complexidade do papel paterno pode ser explicada pelo momento de transição, de valores e estruturais, pelo qual a sociedade passa atualmente.
Por isso, para explicar o que é ser pai hoje, precisamos falar de machismo, de revolução feminista e também da ascensão de minorias que hoje pode ter seus filhos, como é o caso das famílias com pais trans.
“O que vemos hoje é uma mudança na estrutura familiar”, afirma Bárbara Santos, psicóloga da Clínica Holiste, em Salvador, na Bahia. “As relações, que antes eram baseadas em uma hierarquia, eram verticais, hoje se tornaram mais horizontais. É uma outra forma, mais aberta, de se relacionar”, explica.
Figura paterna
A mudança nas estruturas familiares se deve, em parte, à possibilidade que as mulheres têm de sair para trabalhar. Com isso, abriu-se um espaço de cuidado que precisa ser compartilhado para não sobrecarregar uma única pessoa – no caso, a mãe.
Dessa forma, hoje é grande o número de mulheres que exigem parceria e divisão de tarefas no cuidado com os filhos – o que nem sempre é uma situação fácil para muitos homens, que foram criados justamente em um relacionamento distante afetivamente com os respectivos pais.
“Socialmente, a imagem do pai provedor, rígido e emocionalmente indisponível está ficando para trás”, acredita Marcely Quirino, especialista em psicologia hospitalar e terapeuta cognitivo comportamental do CHN (Complexo Hospitalar Niterói). “Hoje eles enxergam a mulher, querem participar e aprender a ser pai”, diz.
Quirino também acredita que, mesmo com dificuldades, muitos homens entendem a importância de estarem afetivamente mais próximos dos filhos. “Alguns ainda querem ser o ‘herói’, mas brincam com o filho, conversam, trocam fralda”, afirma.
E, nessa troca, ambos saem ganhando. No caso da criança, a figura paterna é uma figura de autoridade (nota: não confundir autoridade com autoritarismo!) que pode ser seguida como exemplo, além de passar segurança e reforçar a própria identidade do indivíduo.
Já o homem tem a oportunidade de trabalhar os próprios sentimentos, rever dores e alegrias e escrever uma nova história ao quebrar algum ciclo de mágoas e estabelecer uma nova relação com os próprios filhos.
Essas dores, aliás, são também o motivo de alguns pais se negarem a criar vínculos com os filhos – por medo de sentirem a dor do abandono ou da indiferença que viveram quando eram, eles próprios, crianças.
“No entanto, uma vez que estejam dispostos a experimentar esse amor, esse afeto, esse lugar de troca com os filhos, eles simplesmente não abrem mão. É um caminho sem volta”, acredita Quirino.
Novas estruturas familiares
Quando falamos em paternidade, a primeira imagem costuma ser um homem hétero dentro de uma estrutura de homem e mulher. Felizmente, hoje temos espaço e liberdade para reconhecer famílias fora desse padrão.
É o caso das famílias formadas por duas mulheres, ou dois homens, ou mesmo casais trans que alcançaram o sonho de constituir família com seus filhos. Por isso, Santos acredita que, melhor do que falarmos em “paternidade”, o ideal seria estarmos conversando sobre “parentalidade”.
“Parentalidade” é um termo mais abrangente que abarca questões envolvidas na criação de filhos, independentemente de qual papel você esteja exercendo naquele contexto.
“Ser pai é difícil. Ponto final. Independente do seu gênero”, afirma a psicóloga, que lembra ainda que o lugar da paternidade pode ser ocupado por outras pessoas. “A figura do pai pode vir de um professor, um chefe, um tio, um avô”, exemplifica.