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    Subvariantes e recombinantes do coronavírus são preocupantes?

    Entenda o que representam siglas como BA.1, BA.2, BA.2.12.1 e XQ

    Por Tiemi OsatoPublicado em 20/05/2022, às 13:40 - Atualizado em 25/05/2023, às 21:31
    Ilustração do coronavírus Sars-CoV-2Foto: Shutterstock

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia de covid-19 em março de 2020. De lá para cá, mais de 521 milhões de casos foram registrados globalmente, e o Sars-CoV-2, conforme se replicava, foi sofrendo mutações. O resultado são as milhares de variantes do coronavírus com as quais convivemos hoje, bem como as subvariantes e os recombinantes.

    E esses dois últimos têm se destacado recentemente. Mas o que é uma subvariante? Qual a diferença para um recombinante? Eles devem nos preocupar?

    Em primeiro lugar, vale lembrar das cinco principais variantes (que são chamadas de variantes de preocupação): alfa, beta, gama, delta e ômicron. Dentro de cada um desses grupos, existem as subvariantes, que passaram por mutações, mas não são tão diferentes a ponto de se distanciarem das suas “mães”. Encaixam-se nessa categoria BA.1, BA1.1, BA.2, BA.2.12.1, BA.3, BA.4 e BA.5, todas da ômicron. Outras vistas anteriormente incluem AY.33 e AY.4.2, da delta, e P.1.7, da gama, por exemplo.

    Já os recombinantes são misturas entre o material genético de uma linhagem com o material genético de outra. É o caso da deltacron (delta e ômicron), da XQ (BA.1.1 e BA.2), da XE (BA.1 e BA.2) e da XG (BA.1 e BA.2). “Como a ômicron tem dois grandes grupos, agora estão sendo encontradas muitas recombinações de BA.1 com BA.2”, afirma José Eduardo Levi, virologista e coordenador do Genov, projeto científico de vigilância genômica da Dasa.

    Essa situação era, em certa medida, esperada, já que a BA.2 começou a circular com bastante força em uma época na qual a BA.1 estava bem presente. Embora isso tudo possa nos dar um susto inicial, agora não há motivo para preocupação.

    “Esses recombinantes se comportam como as variantes que os originam”, diz Levi. “Eles não representam um risco aumentado nem diminuído. Do ponto de vista virológico, são uma curiosidade e algo que nos lembra das possibilidades de modificação do vírus”, analisa. E o mesmo vale para as subvariantes que temos até o momento.

    Os cientistas têm visto, eventualmente, uma maior transmissibilidade (e, no caso da ômicron, algum grau de escape vacinal), mas não versões do vírus que causem casos mais leves ou mais graves de covid-19.

    Por enquanto, os especialistas estão de olho na BA.2.12.1, porque essa é uma das subvariantes para a qual a OMS recomenda acompanhamento diferenciado. A sublinhagem da ômicron foi identificada recentemente no Rio de Janeiro em duas ocasiões.

    A primeira é relativa a 4 amostras de testes positivos das primeiras semanas de abril, que foram sequenciadas pelo Genov. A segunda diz respeito a 3 casos do final de abril e início de maio, conforme reportado pela RedeVírus MCTI.

    “A BA.2.12.1 tem apenas uma única mudança bem específica dela”, informa Levi. Trata-se de uma mutação em uma região do Sars-CoV-2 que prejudica a resposta imune, tanto aquela gerada pela vacina quanto a que resulta da infecção pelo vírus. “O resto é muito parecido com a BA.2, então o comportamento deve ser igual, mas um pouco mais transmissível”, conclui.

    O virologista destaca a transmissibilidade da subvariante em função do cenário dos Estados Unidos, onde essa característica ficou evidente. Lá, houve uma sobreposição à BA.2. “A BA.2.12.1 explodiu nos EUA”, conta Levi.

    Essa grande expansão foi vista principalmente em território norte-americano. Não podemos afirmar que ela vai acontecer no Brasil, mas também não podemos excluir a possibilidade.

    Em que estágio da pandemia estamos?

    Máscara cirúrgicaFoto: Shutterstock

    Abril foi um mês no qual o Brasil registrou alta de casos, o que fez com que começássemos maio em um patamar mais elevado. “Mas não é um aumento explosivo, como já vimos antes. E eu entendo que ele é diretamente causado pelo relaxamento das medidas de proteção, sobretudo por retirar a máscara totalmente”, explica José Eduardo Levi.

    De acordo com a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), entre 01/05 e 08/05, a taxa de positividade dos testes realizados em farmácia foi de 19,86% — o maior valor em três meses.

    Em 20/05, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou um boletim que indica aumento de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em adultos. Segundo a entidade, esse quadro é reflexo, principalmente, da quantidade de contaminações por covid-19.

    “Acredito que esse número não vai crescer exponencialmente”, comenta Levi. “A gente deve ficar em uma faixa de 10 a 20 mil casos diários por um longo tempo e, depois, isso vai começar a cair cada vez mais.”

    O virologista explica que o estágio atual brasileiro é esse: enquanto sociedade que tem acesso a vacinas e leitos nos hospitais, aceitamos conviver com um número de casos relativamente alto e um índice de mortes relativamente baixo, em prol do afrouxamento de medidas restritivas.

    Levi reforça, no entanto, que não há como prever o surgimento de uma nova variante nociva. “Não há embasamento científico para dizer que a ômicron é a última das variantes ou que a pandemia acabou”, constata ele. “Assim como surgiram cinco variantes, pode surgir uma sexta e causar um novo pico de casos, como vimos três vezes no Brasil.”

    Vale a pena ficar atento ao cenário de outros países?

    Pandemia é, por definição, a disseminação mundial de uma nova doença. Então, sim, é importante ficar de olho no que acontece nos outros países. Só que não necessariamente os episódios de lá vão se refletir aqui.

    Em junho de 2021, quando a variante delta causou uma nova onda na Índia, em países da Europa e nos Estados Unidos, não vimos um cenário parecido no Brasil. A comunidade científica ainda não sabe esclarecer esse fenômeno, mas descarta-se a explicação pela disparidade na cobertura vacinal, uma vez que o Reino Unido estava à frente do Brasil, e os Estados Unidos apresentavam similaridade com a nossa cobertura.

    Com a ômicron, vimos mais uma vez um caso semelhante. Quando a curva de contaminações dessa variante começou a cair na Europa, houve um rebote pela BA.2 e as infecções voltaram a subir. Isso ainda não ocorreu no Brasil.

    “Tanto no momento da delta quanto no da ômicron, quase 100% dos nossos casos são dessas variantes. Então elas entraram aqui e tiveram esse comportamento de dominação, mas, por algum motivo, não conseguiram se expandir como nos outros países”, diz Levi.

    Agora, a OMS aconselha que sejam acompanhadas com cautela subvariantes como a BA.2.12.1, que tem causado aumento de casos nos Estados Unidos, e a BA.4 e BA.5, responsáveis por uma onda intensa na África do Sul.

    Quando vamos sair dessa?

    Não tem como prever o fim da pandemia. Mas é possível imaginar os caminhos que podem nos ajudar a superar essa crise.

    Uma das principais vias são as vacinas. A partir da capacidade científica de projetar possíveis transformações do coronavírus, podemos criar imunizantes que bloqueiem versões do Sars-CoV-2 que ainda nem existem. Hoje, entre os mais de 300 produtos em teste, alguns são desse modelo extremamente eficaz. “A vacina do futuro é a que vai conseguir bloquear qualquer mudança que o vírus sofra”, conta José Eduardo Levi.

    Foto: Shutterstock

    Junto a isso, estão os antivirais. A possibilidade de tomar um remédio, preferencialmente barato e ingerido pela boca, pode ajudar (e muito) a controlar a disseminação do coronavírus.

    Enquanto essas tecnologias não chegam, nos resta completar o ciclo vacinal, manter a vigilância genômica e avaliar os riscos de cada situação.

    “Nós precisamos fazer a vigilância genômica e estar sempre atentos a qualquer surgimento explosivo de casos”, diz Levi. “Se algum lugar começar a reportar números altos, é preciso identificar rapidamente qual vírus está lá, ver se a vacina responde a ele e checar o que pode ser feito.”

    Quanto à avaliação de riscos, o virologista explica que, apesar de o ideal ser considerar o coletivo, estamos em um momento no qual é mais factível cada indivíduo analisar suas condições de pegar e transmitir o vírus e definir sua conduta com base nisso.

    “Se você convive com pessoas de risco — idosos, obesos, cardíacos, imunossuprimidos —, deve continuar usando máscaras caso frequente eventos com muitas pessoas reunidas”, exemplifica.

    Além disso, vale reforçar o básico: tome todas as suas doses de vacina (incluindo a extra), porque é a ferramenta mais efetiva para evitar os piores quadros da doença, e fique em casa se apresentar sintomas.

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