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Coração disparado? A taquicardia pode ter diversas causas

Saiba quando o coração acelerado precisa de investigação e tratamento especializado

Fonte: Dr. Rodrigo Bellio de Mattos BarretoCoordenador da Ecocardiografia na DasaPublicado em 13/06/2025, às 14:19 - Atualizado em 13/06/2025, às 14:19

taquicardia

A sensação de que o peito vai sair pela boca, com batidas rápidas e fortes, é bastante comum, especialmente depois de uma atividade física mais intensa ou de um momento de tensão. Essa aceleração é conhecida como taquicardia. E, embora possa ser normal em certas situações, também pode ser um sinal de alerta para condições que merecem investigação.

Taquicardia: o que é?

A taquicardia é uma condição em que o coração bate mais rápido que o normal, geralmente acima de 100 batimentos por minuto (bpm) em um adulto em repouso. Em condições normais, a frequência cardíaca de um adulto saudável em repouso varia entre 60 e 100 bpm. 

É natural e até esperado que esse ritmo aumente, por exemplo, durante um esforço físico mais intenso, quando o coração precisa bombear mais sangue para suprir a demanda de oxigênio dos músculos. Mas, quando isso acontece sem uma razão aparente, de forma persistente ou acompanhada de outros sintomas, pode indicar uma arritmia cardíaca ou outro problema de saúde.

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Tipos de taquicardia

As taquicardias são classificadas principalmente com base na origem do impulso elétrico acelerado no coração. As duas categorias principais são as taquicardias supraventriculares (originadas nos átrios, a parte superior do coração) e as taquicardias ventriculares (originadas nos ventrículos, a parte inferior).

Taquicardias Supraventriculares (TSV)

Originam-se nas câmaras superiores do coração (átrios) ou no nó atrioventricular, que tendem a acelerar subitamente os batimentos. 

  • Fibrilação atrial (FA):  é o tipo mais comum de arritmia cardíaca sustentada. Caracteriza-se por contrações rápidas, desorganizadas e irregulares dos átrios. 
  • Taquicardia sinusal: é um aumento da frequência cardíaca que ainda é controlada pelo nó sinusal (o marcapasso natural do coração), mas de forma acelerada. Pode ser fisiológica (exercício, estresse) ou patológica. 
  • Flutter atrial: outra forma de arritmia atrial, onde os átrios batem de forma rápida, mas geralmente regular. 
  • Taquicardia atrial: um tipo de TSV onde o foco da arritmia está localizado no tecido atrial. 
  • Taquicardia por reentrada nodal atrioventricular (TRNAV) e taquicardia por reentrada atrioventricular (TRAV): são causadas por “curtos-circuitos” no sistema elétrico do coração. A TRAV está frequentemente associada à Síndrome de Wolff-Parkinson-White. 

Taquicardias Ventriculares (TV)

Originam-se nas câmaras inferiores do coração (ventrículos). Esse tipo de taquicardia pode ser mais grave, pois os ventrículos são responsáveis por bombear o sangue para o corpo. A condição requer uma investigação mais aprofundada e a avaliação pelo cardiologista. 

  • Taquicardia ventricular idiopática: acontece em pessoas com coração estruturalmente normal e geralmente tem um prognóstico benigno. Bastante rara. 
  • Taquicardia ventricular associada a cardiopatias: pode ocorrer em corações com cicatrizes de infarto, insuficiência cardíaca ou outras doenças, sendo potencialmente perigosa e podendo levar à fibrilação ventricular. 
  • Fibrilação ventricular (FV): é uma arritmia caótica considerada parada cardíaca, onde os ventrículos tremem em vez de bombear sangue. 

Principais causas para a taquicardia

A taquicardia pode ser desencadeada por uma série de fatores, que vão desde hábitos de vida até condições médicas sérias.  

Fatores fisiológicos e de estilo de vida 

  • Exercícios físicos, que naturalmente elevam a frequência cardíaca; 
  • Fortes emoções, preocupações e crises de ansiedade; 
  • Consumo excessivo de cafeína (presente em café, chás, refrigerantes, energéticos), álcool e nicotina (tabagismo); 
  • Estimulantes como cocaína e anfetaminas; 
  • Febre e desidratação. 

Condições médicas

Dentre as condições médicas, as doenças cardíacas são a causa mais preocupante. E aqui nos referimos a quadros como: 

  • Doença arterial coronariana; 
  • Infarto do miocárdio; 
  • Insuficiência cardíaca; 
  • Doenças das valvas cardíacas (valvulopatias); 
  • Cardiomiopatias (doenças do músculo cardíaco); 
  • Cardiopatias congênitas (problemas cardíacos de nascença). 

Mas outros quadros de saúde também podem levar à taquicardia, como: 

  • Hipertireoidismo: produção excessiva de hormônios pela tireoide. 
  • Anemia: baixa contagem de glóbulos vermelhos, fazendo o coração trabalhar mais. 
  • Doenças pulmonares crônicas, como a doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e embolia pulmonar. 
  • Alterações nos níveis de potássio, magnésio e cálcio no sangue. 
  • Efeitos colaterais de medicamentos como broncodilatadores, antidepressivos e antiarrítmicos. 

Em alguns casos, especialmente em taquicardias supraventriculares ou ventriculares idiopáticas, a causa exata pode não ser identificada, ocorrendo em corações aparentemente normais. 

Sintomas da taquicardia

Os sintomas da taquicardia variam bastante e dependem do tipo, da duração e da gravidade da arritmia, bem como da presença de outras condições cardíacas. Algumas pessoas podem não sentir nada, enquanto outras experimentam sintomas incapacitantes. Os mais comuns são: 

  • Palpitações: sensação de que o coração acelerado, está batendo de forma irregular, muito forte, “pulando” batidas ou “falhando”. Pode ser descrita como uma “batedeira” no peito. 
  • Tontura ou vertigem: sensação de cabeça leve ou de que tudo está girando. 
  • Falta de ar (dispneia), que pode ocorrer em repouso ou durante o esforço. 
  • Sensação de dor, pressão ou aperto no peito, similar à angina. 
  • Cansaço extremo e falta de energia, mesmo com pouco esforço. 
  • Desmaio (síncope) ou pré-síncope, ou seja, sensação iminente de desmaio. Este é um sintoma grave que requer atenção médica imediata. 
  • Transpiração excessiva. 
  • Confusão mental ou visão turva. 
  • Mal-estar geral. 

Em crianças menores de 3 anos, os sintomas podem ser mais sutis e incluir letargia, dificuldade de alimentação, irritabilidade e sinais de insuficiência cardíaca. Crianças maiores podem relatar palpitações, tonturas, fadiga, falta de ar ou desconforto torácico. 

Em casos de fibrilação atrial e flutter atrial, a arritmia cardíaca pode levar à formação de coágulos no coração, aumentando o risco de acidente vascular cerebral (AVC). Já as taquicardias ventriculares malignas podem comprometer a função cardíaca e levar à morte súbita – por isso, o atendimento médico precisa ser imediato. 

Como agir ao sentir os sintomas?

Ao perceber o coração acelerado ou outros sintomas sugestivos de taquicardia, o recomendado é tentar manter a calma, interrompa o que estiver fazendo, sentar-se ou deitar-se e tentar respirar lenta e profundamente.

Se os sintomas forem leves e passageiros, observe e, caso se repitam, procure um médico para avaliação.  

No entanto, se as palpitações vierem acompanhadas de dor no peito, falta de ar intensa, tontura forte, sensação de desmaio ou desmaio, procure atendimento médico de emergência imediatamente. 

Em alguns tipos de taquicardia supraventricular, manobras como prender a respiração e fazer força ou tossir podem ajudar a reverter o episódio. Mas essas manobras são ensinadas por um médico durante a consulta e jamais devem ser feitas sem orientação. 

Quando procurar por um médico?

É importante procurar avaliação médica sempre que houver suspeita de taquicardia ou arritmia cardíaca, especialmente nas seguintes situações: 

  • Sintomas frequentes ou prolongados: se as palpitações ou o coração acelerado acontecem com frequência, duram mais que alguns minutos ou são recorrentes. 
  • Sintomas graves associados: presença de dor no peito, falta de ar significativa, tontura que leva a quase desmaio, desmaio (síncope), confusão mental ou fraqueza intensa. Estes podem indicar uma arritmia mais séria. 
  • Taquicardia em repouso inexplicada: se o coração está consistentemente acima de 100 bpm em repouso sem uma causa óbvia como febre, exercício recente ou estresse agudo. 
  • Histórico de doença cardíaca: pessoas com histórico de infarto, insuficiência cardíaca, doenças valvares ou outras cardiopatias devem ficar especialmente atentas. 
  • Histórico familiar de arritmias ou morte Súbita: se há casos na família, a investigação pode ser necessária. 
  • Mudança no padrão dos sintomas: se você já tem um diagnóstico de arritmia e percebe uma mudança na frequência, intensidade ou tipo de sintomas. 

Exames indicados

Para diagnosticar a taquicardia e avaliar a saúde do coração, o cardiologista pode solicitar vários exames. Alguns são focados em registrar e analisar a atividade elétrica e o ritmo cardíaco para caracterizar a arritmia. Outros podem avaliar a estrutura e o funcionamento do coração, além de identificar condições sistêmicas. 

Para avaliar a taquicardia (atividade elétrica e ritmo)

Estes exames vão “flagrar” a arritmia cardíaca, determinar seu tipo e, em alguns casos, sua origem: 

  • Eletrocardiograma (ECG ou ECG de 12 derivações): é o exame inicial e essencial. Ele registra a atividade elétrica do coração e, quando realizado durante um episódio de taquicardia, permite o diagnóstico preciso do tipo de arritmia.  
  • Holter 24 horas (ou de maior duração): é um monitor cardíaco portátil que o paciente utiliza continuamente por 24 horas ou mais. Ele registra a atividade elétrica do coração durante as atividades rotineiras e o sono, sendo especialmente útil para detectar arritmias que não são constantes (intermitentes) e que poderiam não ser capturadas em um ECG de curta duração. 
  • Monitor de eventos (Loop recorder ou Web-Loop): Similar ao Holter, este dispositivo também é portátil e pode ser usado por períodos ainda mais longos. Alguns modelos permitem que o paciente acione a gravação quando sente os sintomas, enquanto outros podem gravar e transmitir automaticamente os dados do traçado eletrocardiográfico pela internet na hora. 
  • Estudo eletrofisiológico (EEF): exame invasivo conhecido como “cateterismo cardíaco específico para arritmias”. Nele, cateteres com eletrodos são introduzidos por uma veia (geralmente na virilha) e guiados até o coração. Ele mapeia detalhadamente o sistema elétrico cardíaco, identificando com precisão a origem da arritmia. Frequentemente, a ablação (tratamento) pode ser realizada durante o mesmo procedimento. 

Para avaliar a saúde do coração e investigar causas subjacentes 

Esses exames podem diagnosticar problemas na estrutura ou no funcionamento do coração, ou ainda doenças em outros órgãos e condições sistêmicas que podem estar causando ou contribuindo para a taquicardia. 

  • Ecocardiograma: usa ultrassom para gerar imagens detalhadas das estruturas do coração, como as câmaras cardíacas, o músculo cardíaco (miocárdio) e as válvulas. Avalia a função de bombeamento do coração e pode identificar anormalidades estruturais.
     
  • Teste ergométrico (teste de esforço): enquanto o paciente caminha ou corre em uma esteira ou pedala em uma bicicleta ergométrica, ele monitora a frequência cardíaca, a pressão arterial e o eletrocardiograma durante o esforço físico. Pode ser útil para identificar arritmias que são desencadeadas ou pioram com o exercício, mas também ajuda a avaliar a capacidade do coração.
  • Exames de sangue: investigam causas sistêmicas de taquicardia. Isso inclui a verificação dos níveis de hormônios da tireoide (para diagnosticar hipertireoidismo, por exemplo), a contagem de glóbulos vermelhos (para detectar anemia) e os níveis de eletrólitos no sangue (como potássio e magnésio), cujos desequilíbrios podem afetar o ritmo cardíaco.
  • Tilt Test: utilizado na investigação de desmaios (síncopes) de causa desconhecida. Ele avalia como a frequência cardíaca e a pressão arterial respondem às mudanças de postura (de deitado para inclinado), ajudando a identificar reflexos anormais que podem levar a desmaios e, em alguns casos, estar associados a certos tipos de arritmias. 

Quando outros exames de imagem não são conclusivos ou para avaliar com mais precisão certas condições do músculo cardíaco, como áreas de fibrose (cicatrizes) que podem originar arritmias. 

  • Ressonância magnética cardíaca: fornece imagens de alta resolução da anatomia e função do coração. É um exame mais detalhado, geralmente solicitado q 
  • Testes Genéticos: Podem ser recomendados quando há suspeita de que a arritmia cardíaca tenha uma origem hereditária, especialmente se há histórico familiar de arritmias graves ou morte súbita cardíaca em idade jovem. 

Agendar exames

É importante ressaltar que a escolha dos exames dependerá da avaliação clínica individual de cada paciente, dos sintomas apresentados e das suspeitas diagnósticas do médico. Muitas vezes, uma combinação de diferentes exames é necessária para um diagnóstico completo e o planejamento do tratamento.

Formas de tratamento

O tratamento da taquicardia depende do tipo específico de arritmia, da frequência e gravidade dos sintomas, das causas subjacentes e da condição geral de saúde do paciente. Muitas arritmias benignas podem não necessitar de tratamento específico, apenas acompanhamento. Mas as principais abordagens terapêuticas são as descritas a seguir.

Mudanças no estilo de vida

Entre as mudanças que podem ser feitos nos hábitos, destacam-se:  

  • Reduzir ou evitar o consumo de cafeína, álcool e outras substâncias estimulantes; 
  • Parar de fumar; 
  • Adotar uma dieta equilibrada e saudável para o coração; 
  • Praticar exercícios físicos regularmente (com orientação médica); 
  • Gerenciar o estresse e a ansiedade através de técnicas de relaxamento, meditação ou psicoterapia. 

Manobras vagais

Para certos tipos de taquicardia supraventricular, o médico pode ensinar manobras que estimulam o nervo vago e podem interromper a arritmia (ex: Manobra de Valsalva).

Medicamentos antiarrítmicos

Diversas classes de medicamentos podem ser usadas para controlar a frequência cardíaca, reverter a arritmia para um ritmo normal ou prevenir novos episódios.  

Betabloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio, amiodarona, procainamida, adenosina (usada agudamente) são exemplos. A escolha do medicamento depende do tipo de taquicardia e das condições do paciente.

Cardioversão elétrica

Em certas arritmias agudas (como fibrilação/flutter atrial ou algumas taquicardias instáveis), um choque elétrico sincronizado é aplicado no tórax sob sedação para restaurar o ritmo cardíaco normal.

Ablação por cateter

Procedimento invasivo realizado durante o estudo eletrofisiológico. Trata-se da cauterização (com radiofrequência – calor, ou crioablação – frio) do pequeno foco de tecido cardíaco que está causando a arritmia.  

O procedimento é curativo em muitos casos de taquicardias supraventriculares (como TRNAV, TRAV, flutter atrial, algumas taquicardias atriais) e em algumas taquicardias ventriculares idiopáticas. 

Implante de dispositivos cardíacos eletrônicos

  • Marcapasso: usado principalmente para bradicardias (coração lento), mas também pode ter funções para prevenir ou interromper certas taquicardias. 
  • Cardiodesfibrilador Implantável (CDI): dispositivo implantado sob a pele, semelhante a um marcapasso, que monitora continuamente o ritmo cardíaco. Se ele detecta uma taquicardia ventricular grave ou fibrilação ventricular (arritmias potencialmente fatais), libera um choque elétrico para restaurar o ritmo normal, prevenindo a morte súbita. Indicado para pacientes de alto risco. 

Tratamento da causa subjacente

Se a taquicardia é secundária a outra condição (como hipertireoidismo, anemia, doença cardíaca estrutural), o tratamento desta condição é fundamental.

Psicoterapia

Para casos em que a ansiedade, o estresse ou transtornos de pânico são gatilhos significativos para o coração acelerado, o acompanhamento psicológico ou psiquiátrico é indicado.

A decisão sobre o melhor tratamento é complexa e deve ser tomada em conjunto com o cardiologista ou arritmologista (cardiologista especializado em arritmias).

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