Apatia: muito mais que um desânimo passageiro
Entenda a diferença entre tristeza e apatia — e como essa condição afeta a vida de quem convive com o sintoma

Entenda a diferença entre tristeza e apatia — e como essa condição afeta a vida de quem convive com o sintoma
A apatia é um estado de indiferença marcada. A pessoa perde parcial ou totalmente a motivação, o interesse e a resposta emocional diante de atividades que antes eram significativas.
Diferentemente da tristeza passageira ou do desânimo comum, a apatia é persistente. Ela compromete a capacidade de iniciar e sustentar atividades, afeta as relações sociais e prejudica o desempenho em várias áreas da vida.
Frequentemente negligenciada, a apatia pode ser um sintoma de condições médicas ou neurológicas e exige avaliação profissional especializada.
Neste artigo, você vai ler:
Apatia: o que é?
A apatia é caracterizada por uma diminuição relevante do impulso, do interesse e da motivação, tornando difícil iniciar e manter ações com propósito. Não se trata apenas de cansaço ou preguiça: é uma perda de envolvimento emocional e de iniciativa que vai além do esgotamento físico.
É importante diferenciar a apatia de outras condições. A anedonia, por exemplo, refere-se à perda da capacidade de sentir prazer; já a depressão é um transtorno de humor complexo. A apatia pode estar presente nesses quadros, mas também pode surgir de forma isolada.
Especialistas classificam a apatia em três domínios principais:
- Apatia comportamental: dificuldade de transformar ideias em ações, mesmo que o pensamento esteja preservado.
- Apatia emocional: ausência de resposta afetiva a situações que normalmente provocariam alegria, tristeza ou raiva.
- Apatia cognitiva: redução do interesse por aprender, planejar ou se envolver intelectualmente.
Apatia em crianças
Embora mais estudada em adultos, a apatia pode afetar crianças e adolescentes, com apresentações diferentes e por vezes sutis. Ela pode estar associada a quadros depressivos, transtornos do neurodesenvolvimento ou eventos psicossociais estressores.
Sintomas de apatia
A apatia pode se manifestar em três dimensões principais: comportamental, emocional e cognitiva.
Comportamentais
- Falta de iniciativa;
- Redução da atividade física e social;
- Passividade frente às decisões;
- Isolamento social.
Emocionais
- Indiferença afetiva;
- Embotamento emocional;
- Falta de entusiasmo.
Cognitivos
- Dificuldade de planejamento;
- Perda de interesse por aprender;
- Concentração reduzida.
A apatia deve ser diferenciada da fadiga: enquanto a fadiga melhora com o descanso, a apatia é uma perda persistente da motivação.
O que pode causar apatia?
A apatia não é uma doença em si, mas um sintoma que pode surgir de diversas condições, desde problemas neurológicos até questões de saúde mental e deficiências nutricionais. As causas mais comuns são:
Doenças neurodegenerativas
A apatia não é uma doença, mas um sintoma que pode estar associado a várias causas:
- Doenças neurodegenerativas: Alzheimer, Parkinson, Demência frontotemporal.
- Condições psiquiátricas: Depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia.
- Outras causas: AVCs, hipotireoidismo, anemia, doenças crônicas, medicamentos e estresse crônico.
Quando procurar por um médico?
É recomendável buscar avaliação médica quando a apatia:
- Persistir por semanas ou meses;
- Prejudicar a vida social, escolar ou profissional;
- Estiver associada a alterações cognitivas, humor, sono ou apetite;
- Surgir subitamente.
A primeira consulta pode ser com um clínico geral. Ele vai realizar uma avaliação inicial e, se necessário, encaminhar para um especialista. Mas, em muitos casos, o mais indicado seria já procurar um neurologista ou um psiquiatra, especialmente quando houver suspeita de condições neurológicas ou psiquiátricas.
Diagnóstico das causas para a apatia
O diagnóstico envolve entrevista clínica, exame físico e neurológico, e, se necessário, avaliação neuropsicológica ou psiquiátrica.
Exames laboratoriais podem descartar causas metabólicas ou hormonais. Em casos selecionados, exames de imagem cerebral são importantes.
Escalas como a Apathy Evaluation Scale (AES) auxiliam na quantificação do sintoma.
Hoje, há testes que pesquisam alterações genéticas associadas a doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer, que podem ter entre seus sintomas iniciais a apatia. Conheça a seguir dois deles.
Painel NGS para Doença de Parkinson de início precoce
O Painel NGS para Doença de Parkinson de Início Precoce é um exame genético que usa a tecnologia de Sequenciamento de Nova Geração (NGS) para analisar 19 genes associados a formas monogênicas da Doença de Parkinson (DP). Ou seja, formas causadas pela mutação ou alteração em apenas um único gene.
Em torno de 10% dos pacientes, a doença manifesta-se antes dos 50 anos. Como mutações genéticas podem aumentar o risco de Parkinson de início precoce, o teste visa justamente identificar alterações nos genes associados a essas formas da Doença de Parkinson.
O teste auxilia no diagnóstico e também no prognóstico, pode direcionar o manejo e esclarecer os riscos para outros membros da família, principalmente os assintomáticos.
Beta amiloide 42/40
Este exame feito no sangue é uma maneira não invasiva de avaliar o risco para o desenvolvimento da Doença de Alzheimer. O teste mede a concentração de duas proteínas, a beta-amiloide 42 e a beta-amiloide 40.
A proporção entre elas pode indicar a probabilidade de o indivíduo ter acúmulo de placas amiloides no cérebro, uma das principais características da doença.
O exame não é um método diagnóstico, mas uma ferramenta para avaliar o risco em pessoas que já apresentam algum sinal de comprometimento cognitivo. E, assim, ajudar o médico a decidir sobre a necessidade de investigações mais complexas.
Tratamentos
O tratamento da apatia depende diretamente da sua causa e pode envolver:
- Tratamento da doença de base: depressão, doenças neurodegenerativas, deficiências nutricionais.
- Intervenções terapêuticas: terapia cognitivo-comportamental (TCC), terapia ocupacional, estimulação cognitiva e atividade física.
- Medicamentos: fármacos que atuam sobre dopamina ou norepinefrina em casos selecionados.
A apatia é um sintoma muitas vezes invisível, mas com impacto profundo na funcionalidade, nas relações e na saúde mental. Sua detecção precoce e tratamento adequado podem melhorar significativamente a qualidade de vida da pessoa afetada e de sua rede de apoio.
Fontes:
Dr. Diogo Haddad, médico neurologista do Alta Diagnósticos e
Dr. Roberto Giugliani, geneticista e Head de Doenças Raras da Dasa Genômica