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    O que você precisa saber sobre compulsão alimentar

    Entenda as causas e os efeitos deste transtorno relacionado a estresse e dietas restritivas

    Por Lívia InácioPublicado em 31/10/2022, às 14:57 - Atualizado em 25/05/2023, às 19:32
    Imagem: Shutterstock

    Comida tem mais que valor nutritivo, tem componente emocional. E acontece: às vezes ela vira uma espécie de válvula de escape. O problema é quando isso vira rotina: aí é hora de pedir ajuda. A perda de controle sobre o que se come é um dos principais sintomas do Transtorno de Compulsão Alimentar.

    Entenda o que é essa condição, que afeta em torno de 3,5% da população adulta geral, e conheça os principais sintomas.

    O que é compulsão alimentar?

    Segundo a edição mais recente do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM 5, utilizado como parâmetro pela psiquiatria, a compulsão alimentar integra o grupo dos transtornos alimentares, que também contempla abarca a bulimia e a anorexia.

    É importante destacar que, embora tenham similaridades, as três apresentam diferenças significativas, explica o psiquiatra Alexandre Pinto de Azevedo, que coordena um grupo sobre o tema na Universidade de São Paulo (USP).

    Tanto na anorexia quanto na bulimia, o paciente sofre distorções de imagem, ou seja, não consegue se enxergar como realmente é. Mas, no primeiro caso, o medo de engordar leva a pessoa a se privar de refeições ao ponto de atingir um índice de massa corporal inferior a 18,5 kg/m2, considerado abaixo do saudável.

    Já na bulimia, há um exagero no consumo de comida seguido de medidas compensatórias para eliminar o que foi ingerido por impulso, seja por meio de exercícios físicos, seja por indução de vômitos. A compulsão alimentar, por sua vez, é caracterizada por uma ingestão  de comida exacerbada, mas sem episódios compensatórios como os da bulimia.

    Quem tem compulsão alimentar costuma ingerir, em um período limitado, uma quantidade de comida bem maior do que a maioria das pessoas consumiria em um período similar, sob circunstâncias similares.

    Causas

    As dietas restritivas estão entre as principais causas da compulsão alimentar. Diante da insatisfação com o próprio corpo, a pessoa reduz o consumo de comida e, mais tarde, o pêndulo salta para o extremo oposto, levando o paciente a um circuito de restrição-compulsão, que se retroalimenta.

    É por essa ligação com os regimes e a autodepreciação do corpo que a compulsão alimentar, assim como os demais transtornos ligados à alimentação, tem maior prevalência entre as mulheres, uma vez que elas são mais cobradas socialmente para atingirem padrões estéticos irreais.

    O estresse é outro gatilho da compulsão alimentar. Estudos mostram que durante situações estressantes, a liberação do cortisol, hormônio que ajuda a aliviar a agitação, acaba estimulando a ingestão de alimentos. O DSM 5 lista também como estopim estressores interpessoais, sentimentos negativos com relação aos alimentos e tédio.

    Sintomas

    Entre os sintomas da compulsão alimentar, estão o hábito de comer:

    • Mais rapidamente do que o normal;
    • Até se sentir desconfortavelmente cheio;
    • Grandes quantidades de alimento na ausência da sensação física de fome;
    • Sozinho, por vergonha do quanto se está comendo.

    O transtorno pode aparecer em diferentes graus, a depender da quantidade de episódios compulsivos por semana:

    • Leve: 1 a 3 episódios;
    • Moderado: 4 a 7 episódios;
    • Grave: 8 a 13 episódios;
    • Extremo: 14 ou mais episódios.

    Azevedo lembra também que, com o grande volume de comida ingerido, os sinalizadores físicos de fome-saciedade ficam desregulados. Além disso, cada episódio compulsivo é como um grande susto no organismo, acrescenta a nutricionista Gabriela Rodrigues Silva, pós-graduada em Gestão de Saúde.

    Já de início, o estômago começa a se dilatar e secreta uma quantidade de suco gástrico, podendo causar inchaço. A longo prazo, podem vir refluxo, diabetes, sobrecarga do fígado, dos rins e do intestino.

    Diagnóstico e tratamento

    Imagem: Shutterstock

    O diagnóstico pode ser feito apenas por um médico por meio de uma consulta detalhada e precisa. É esse profissional que vai direcionar o tratamento adequado ao seu caso.

    O processo pode envolver ou não interferência medicamentosa, e o mais importante é seu caráter multidisciplinar: nessa empreitada, profissionais de diferentes áreas, como nutrição e saúde mental, unem técnicas e esforços para restabelecer o equilíbrio do paciente.

    A nutricionista Livia Soares, especialista em gastronomia saudável, destaca que a reeducação alimentar, por exemplo, vai ajudar o paciente a enxergar os alimentos de forma mais sadia.

    +LEIA MAIS: Como ter uma relação mais saudável com a comida?

    Essa ressignificação pode passar por comportamentos como o comer consciente, que prevê uma forma tranquila e focada de se alimentar, e o resgate de hábitos como o de comer na mesa, que retoma a importância do cardápio para além da ingestão. Fazendo as pazes com o prato, a pessoa vai aos poucos fazer as pazes com o autocuidado.

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