Demência: o que é, quais os tipos e como é feito o diagnóstico
Saiba identificar as principais formas da condição, e entenda por que o termo “demência senil” não é mais usado

A demência não é uma doença específica, mas sim um termo “guarda-chuva” que engloba diversas doenças e condições neurológicas que afetam o funcionamento do cérebro.
A mais conhecida é a Doença de Alzheimer, mas há várias outras, como as demências vascular e com corpos de Lewy.
A demência representa um declínio cognitivo significativo — não apenas da memória, mas também do raciocínio, da linguagem e do comportamento.
Identificar os sinais precocemente permite buscar ajuda médica e planejar o tratamento de forma mais eficaz, garantindo melhor qualidade de vida ao paciente e à família.
Neste artigo, você vai ler:
Demência: o que é?
A demência é um declínio progressivo das funções cognitivas, como pensar, lembrar, compreender e tomar decisões. Com o tempo, a pessoa pode perder autonomia para atividades cotidianas simples, como cuidar da higiene, preparar refeições ou administrar finanças.
O termo não se refere a uma doença única, mas a um grupo de condições que causam lesão ou degeneração das células cerebrais.
Os sintomas iniciais variam conforme a causa:
- Na demência vascular, podem surgir dificuldades de planejamento e organização após um AVC.
- Na demência com corpos de Lewy, os primeiros sinais costumam ser tremores e alucinações visuais.
- Na Doença de Alzheimer, o esquecimento recente é o sintoma predominante inicial.
Tipos de Demência
Cada tipo de demência é causado por um mecanismo diferente de dano cerebral. As mais comuns são descritas a seguir.
Doença de Alzheimer
A Doença de Alzheimer é a causa mais frequente de demência. Trata-se de uma doença neurodegenerativa progressiva caracterizada pelo acúmulo anormal das proteínas beta-amiloide (formando placas) e tau (formando emaranhados neurofibrilares) no cérebro.
Esses depósitos levam à disfunção e à morte dos neurônios, afetando inicialmente áreas ligadas à memória recente e, posteriormente, linguagem, raciocínio e execução de tarefas.
Demência frontotemporal
A demência frontotemporal (DFT) é menos comum e costuma atingir pessoas mais jovens, entre 45 e 65 anos. Ela compromete principalmente os lobos frontal e temporal, regiões responsáveis pela personalidade, comportamento e linguagem.
Os primeiros sintomas podem incluir mudanças de comportamento, impulsividade, apatia e perda de empatia. Também podem ocorrer dificuldades de fala e compreensão. Já a perda de memória costuma surgir apenas nas fases mais avançadas.
Em alguns casos, a DFT tem origem genética, relacionada a mutações nos genes MAPT, GRN ou C9orf72.
Demência vascular
A demência vascular ocorre devido a problemas na circulação sanguínea cerebral, que causam pequenas áreas de isquemia e morte neuronal. Pode ser consequência de um AVC ou de doenças que afetam os vasos cerebrais.
Os sintomas dependem das áreas comprometidas, podendo surgir de forma súbita ou gradual. Em geral, os problemas de raciocínio, atenção e organização são mais evidentes do que a perda de memória.
Atualmente, o termo “comprometimento cognitivo vascular” é usado para descrever um espectro que vai desde quadros leves até a demência estabelecida.
Demência com corpos de Lewy
A demência com corpos de Lewy é causada pelo acúmulo anormal da proteína alfa-sinucleína dentro dos neurônios (os chamados corpos de Lewy). Essa condição apresenta sintomas que combinam características do Alzheimer e do Parkinson.
O paciente pode ter perda de memória, flutuações no nível de alerta e atenção, alucinações visuais e sintomas motores, como tremores e rigidez.
Um aspecto importante é a hipersensibilidade a medicamentos antipsicóticos, que podem piorar o quadro.
Demência pugilística
A encefalopatia traumática crônica, antes chamada de demência pugilística, resulta de múltiplos traumatismos cranianos repetitivos. É mais comum em atletas de esportes de contato, como boxeadores e jogadores de futebol americano.
Os sintomas podem surgir anos após os traumas e incluem problemas de memória, mudanças de humor e comportamento, irritabilidade e, em fases mais graves, alterações motoras semelhantes às da Doença de Parkinson.
Demência senil
O termo “demência senil” era usado antigamente para se referir a qualquer demência em idosos. Atualmente, é considerado ultrapassado e impreciso.
O envelhecimento normal não causa demência — ela é sempre resultado de uma doença específica, sendo a Doença de Alzheimer a causa mais frequente em pessoas idosas.
Fatores de Risco
A idade avançada é o principal fator de risco para o desenvolvimento de demência.
Contudo, diversos outros elementos influenciam o risco:
- Hipertensão arterial
- Diabetes tipo 2
- Colesterol alto (dislipidemia)
- Tabagismo
- Consumo excessivo de álcool
- Obesidade
- Sedentarismo
- Isolamento social
- Depressão crônica
Adotar hábitos saudáveis — como exercícios regulares, dieta equilibrada e controle de doenças crônicas — ajuda a reduzir o risco.
Diferenças entre demência e Alzheimer
A demência é o termo geral que descreve o declínio progressivo das funções cognitivas. Já o Alzheimer é uma das doenças que podem causar demência, assim como as demências vascular, frontotemporal e com corpos de Lewy.
Sintomas
Os sintomas iniciais da demência são sutis, mas tendem a progredir com o tempo.
Os mais comuns incluem:
- Esquecimento de eventos ou conversas recentes
- Dificuldade para encontrar palavras
- Desorientação em locais familiares
- Problemas de julgamento e raciocínio lógico
- Dificuldade para realizar tarefas complexas
- Mudanças de humor e personalidade
- Apatia e perda de iniciativa
- Comportamento social inadequado
- Confusão quanto a datas, horas e locais
Quando procurar por um médico?
É importante procurar avaliação médica quando os esquecimentos passam a interferir na rotina — por exemplo, esquecer o caminho de casa ou o nome de pessoas próximas.
A avaliação deve ser feita por um neurologista ou geriatra, podendo incluir testes cognitivos padronizados como o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) e o Montreal Cognitive Assessment (MoCA).
Um diagnóstico precoce permite iniciar o tratamento e adotar medidas de suporte e reabilitação de forma mais eficaz.
Exames que auxiliam no diagnóstico da demência
O diagnóstico da demência é clínico, mas apoiado por exames complementares.
Ele envolve:
- Entrevista detalhada com o paciente e familiares
- Avaliação cognitiva e funcional com testes específicos
- Neuroimagem, como ressonância magnética com análise volumétrica do hipocampo e das estruturas temporais mesiais, para identificar atrofias típicas
- Exames laboratoriais, para descartar causas reversíveis (vitamina B12, função tireoidiana, sífilis, HIV, distúrbios metabólicos)
- Avaliação do sono, quando há suspeita de distúrbios que possam agravar o quadro cognitivo
Em casos de suspeita de formas hereditárias de início precoce (antes dos 65 anos), pode ser indicado o painel genético NGS para os genes APP, PSEN1 e PSEN2, associados ao Alzheimer familiar.