Será que é fome ou vontade de comer?
Não precisa evitar o docinho depois de almoçar. Saiba como lidar com a fome emocional
“Cara feia pra mim é fome”, já dizia sua mãe quando você fazia birra. E não é que ela tinha razão? Ao passar horas sem comida, o estômago se revolta e, entre um ronco e outro, o mau humor impera. Mas e quando ele já tá cheio e ainda assim clama por um doce? É possível separar a fome da vontade de comer? Especialistas garantem que sim e ainda trazem uma boa notícia: nem sempre será preciso se privar da sobremesa.
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Um bombom de 30 g, por exemplo, não costuma ultrapassar 150 calorias. Levando em conta que, em repouso, o ser humano gasta mais de mil durante um dia, a guloseima, sozinha, não arruinará seu projeto verão. O problema está no desequilíbrio. “Oriento meus pacientes a comerem o que gostam, mas dentro de um planejamento alimentar”, diz a nutricionista Lívia Soares.
Nesse sentido, pode ser pouco eficiente pautar sua dieta no mero anseio de preencher o estômago ou garantir ganho de força. Basta se lembrar do feijão da sua avó para entender que comer também passa pelas emoções. E é preciso direcioná-las da forma correta.
Nem sempre é fome, e tá tudo bem!
Sabe aquela comida que faz bem para o corpo e a alma, que mais parece um abraço? Nos anos 1960, o jornal norte-americano The Palm Beach Post chamou esse tipo de lanche de comfort food (algo como comida aconchegante).
Nostálgicos e calóricos, esses pratos são comumente vistos como o terror das dietas, mas, segundo nutricionistas, também têm seu lugar ao sol, desde que haja cautela e consciência do que se come.
Toda comida tem um papel simbólico em sua rotina. Identificá-lo é importante para se alimentar melhor e até prevenir transtornos alimentares, como a compulsão e a bulimia, explica a psicóloga Marina Beatriz Maniglia Kaluf.
O que cada refeição significa para você? Como o seu dia a dia interfere em seu cardápio? Com que frequência tem descontado em doces e frituras suas insatisfações com a vida?
Essa atenção cuidadosa está entre as bases de um conceito difundido nos últimos anos pelo ocidente: o mindful eating, ou “comer consciente”. A ideia é que você deguste tudo com calma, compreenda a importância do que ingere e desfrute de cada emoção que aquele lanche ou refeição proporciona.
Devagar e pouco
Além do “comer consciente”, outro ponto crucial é ponderar na quantidade. E aí muita gente tropeça. Porque é fácil cruzar a linha entre a trufa pequena e a caixa inteira de bombom. Então, o nutricionista Guilherme de Jesus Gonçalves traz três dicas básicas para ninguém se perder nessa conta.
1) Por estar mais associado à vontade de comer do que à fome propriamente dita, o comfort food deve ser incluído no cardápio de forma reduzida ou fracionada e em horas estratégicas. Por exemplo: após as refeições. Esse é um momento em que você já está cheio e só quer um pequeno agrado para fechar a ocasião. Assim, mata a vontade da guloseima específica e fica menos tentado a repetir a dose. Além disso, se almoçou ou jantou algo nutritivo, terá fibras e outros componentes que vão facilitar a digestão da guloseima.
2) Evite cair no canto do comfort food enquanto estiver sozinho ou no fim da tarde, quando as pessoas costumam estar mais vulneráveis ao estresse cotidiano. “Em condições como essas, você pode acabar perdendo o controle da quantidade do que ingere e isso sim é um problema”, alerta o nutricionista.
3) Cuidado com boom das plataformas de delivery. Muitas pessoas têm perdido a conexão emocional com os alimentos e construído relações imediatistas com o prato. Isso as afasta do encanto entre a “comida diferente e a comida de todo dia”, abrindo ciclos nocivos de comportamento alimentar. “Se eu posso pedir o que eu quero às quatro horas da manhã, alguns limites se afrouxam”, argumenta. Essa nova dinâmica requer ainda mais atenção e disciplina, reforça Gonçalves.
Em resumo: se você quer pizza de mussarela, não adianta pedir a de brócolis. “O efeito rebote virá”, diz Soares. Mas coma sempre com calma e guarde esta dica na manga: o jeito é não passar vontade, mas também não passar do limite.
Fontes: Guilherme de Jesus Gonçalves, nutricionista e especialista em Nutrição Clínica e Comportamental; Lívia Soares, nutricionista e especialista em fitoterapia; Marina Beatriz Maniglia Kaluf, psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e Avaliação Psicológica.