Hepatite alcoólica pode comprometer o fígado de forma crônica; entenda
Doença inflamatória é provocada pelo consumo excessivo e prolongado de bebidas alcoólicas
Doença inflamatória é provocada pelo consumo excessivo e prolongado de bebidas alcoólicas
Estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde) afirmam que o uso abusivo de álcool leva cerca de 91,9 mil (sendo 80,4 mil homens) à morte todos os anos no Brasil. Uma das complicações mais sérias e comuns decorrentes disso é a hepatite alcoólica, uma inflamação no fígado que, se não for controlada, pode evoluir para quadros mais graves de saúde. E, diferentemente do que muitas pessoas acreditam, ela pode se manifestar em pessoas com diferentes padrões de consumo e não apenas nos dependentes crônicos. Continue a leitura para entender mais sobre essa condição.
Neste artigo, você vai ler:
Hepatite alcoólica: o que é?
A hepatite alcoólica (HA) é uma inflamação do fígado provocada pelo consumo excessivo e comumente prolongado de bebidas alcoólicas que leva a danos acumulativos nas células hepáticas, o que pode gerar desde quadros leves até severos, como insuficiência hepática.
É importante dizer que a doença pode acometer tanto os dependentes alcoólicos crônicos como pessoas com consumo considerado excessivo, mas que poderiam ser considerados bebedores ocasionais.
A questão é que a dose considerada abusiva nem sempre é clara para a população: de acordo com o relatório “Álcool e a Saúde dos Brasileiros – Panorama 2023”, levantado pelo Centro de Informações sobre Saúde do Álcool (CISA), 27% dos brasileiros têm consumo moderado de álcool e 17% abusivos, mas 75% dos consumidores abusivos acreditam que são consumidores moderados.
De acordo com o CISA, uma dose padrão de bebida alcoólica no Brasil equivale a 14 gramas de álcool puro. Isso equivale a 350 ml de cerveja, 150 ml de vinho ou 45 ml de destilado (como vodca, uísque e cachaça). Com base nisso, considera-se consumo moderado no máximo duas doses em um único dia ou 14 doses por semana entre homens. Para mulheres, as quantidades são de uma dose em 24 horas ou sete doses durante sete dias.
No entanto, a real quantidade de álcool que pode levar a uma hepatite alcoólica ainda não é conhecida. Sabe-se que a maioria dos pacientes que chega a esta condição ingere mais que 100 gramas de álcool por dia. Já a Associação Americana para Estudo do Fígado (AASLD) recomenda suspeitar de HA em mulheres que consomem mais de 40 gramas de álcool por dia; e de homens que consomem mais de 60 gramas de álcool por dia; desde que esse consumo ocorra por mais do que seis meses.
Embora o fígado tenha a capacidade de regenerar-se em muitos casos, o consumo abusivo de álcool compromete sua função, levando a alterações estruturais que caracterizam a hepatite alcoólica. Em casos avançados, a condição pode evoluir para cirrose, aumentando as chances de mais complicações, como o câncer hepático.
O que causa a hepatite alcoólica?
A principal causa da hepatite alcoólica é o consumo abusivo e regular de álcool. O etanol, principal componente das bebidas alcoólicas, é metabolizado no fígado, onde pode causar danos às células hepáticas. Esse processo, aliado à resposta inflamatória do organismo, desencadeia lesões que levam à inflamação do órgão.
Além disso, fatores como genética, dieta e outros hábitos de vida podem influenciar na predisposição ao desenvolvimento da doença. Indivíduos com alimentação inadequada, por exemplo, podem apresentar um risco maior devido à deficiência de nutrientes essenciais para a regeneração do fígado.
Por fim, sabe-se que a maior parte dos pacientes com quadro de hepatite alcoólica aguda tem entre 40 e 50 anos e são do sexo masculino.
É possível prevenir a hepatite alcoólica?
Sim, é possível prevenir o desenvolvimento de hepatite alcoólica, já que a doença está diretamente ligada ao consumo consciente de bebidas alcoólicas. Manter hábitos saudáveis de vida (como uma alimentação equilibrada e praticar atividade física) e limitar a ingestão de álcool são as principais formas de evitar a doença. Mas quanto seria isso?
Em 2023, o Canadá passou a recomendar que as pessoas não bebam, pois não há quantidade segura de ingestão de drinques alcoólicos. Se, mesmo assim, o indivíduo quiser beber, deve-se limitar a apenas dois drinques por semana para manter-se na faixa de baixo risco, de acordo com a diretriz do governo.
Já a OMS define como dose “padrão” a ingestão de 10 gramas de etanol puro e recomenda que homens e mulheres não excedam duas doses por dia, além de se abster de beber pelo menos dois dias na semana.
Além desses cuidados, é importante manter uma rotina regular de check-ups médicos e controlar doenças crônicas pré-existentes.
Sintomas da hepatite alcoólica
O início dos sintomas da hepatite alcoólica costuma ser súbito, agudo e frequentemente tardio, variando de discretos a graves –o que, muitas vezes, dificulta o diagnóstico precoce da doença. Os sintomas mais comuns são:
- Cansaço excessivo e perda de apetite;
- Náuseas e vômitos;
- Anorexia e perda de peso;
- Amarelamento da pele e dos olhos (icterícia);
- Dor ou desconforto abdominal, especialmente no lado direito;
- Inchaço no abdômen (ascite);
- Distensão abdominal;
- Febre e confusão mental (em casos mais graves).
Qual médico procurar?
Se você suspeita de hepatite alcoólica, o profissional indicado para fazer o diagnóstico e orientar o tratamento é o hepatologista, médico especializado em doenças do fígado.
No entanto, inicialmente, é bastante comum que o paciente busque o auxílio e a orientação de clínicos gerais ou gastroenterologistas, que podem encaminhar o paciente ao especialista após diagnóstico inicial ou mesmo suspeita de hepatite alcoólica.
Vale ressaltar que é fundamental buscar ajuda médica tão logo os primeiros sintomas apareçam, principalmente em pessoas com histórico de uso abusivo de álcool, para evitar a progressão da doença.
Exames indicado para o diagnóstico da hepatite alcoólica
Os exames requisitados no caso de suspeita de hepatite alcoólica servem para confirmar o diagnóstico e ainda determinar a extensão do dano ao fígado, além de auxiliar no planejamento do tratamento mais adequado. Os exames mais comuns pedidos para esses casos são:
- Exames de sangue: como o hepatograma, exame que realiza a análise de enzimas hepáticas, como ALT, AST, FA, GGT e bilirrubinas, além de albumina e coagulograma, para mostrar a saúde do fígado;
- Ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética: para verificar alterações estruturais no órgão;
- Biópsia hepática: apenas em casos raros.
Formas de tratamento
O tratamento da hepatite alcoólica visa interromper a progressão da doença, controlar os sintomas e prevenir complicações. Felizmente, se tratada corretamente e se o indivíduo parar de beber, é possível curar a doença em muitos casos, a menos que o paciente já tenha evoluído com fibrose hepática.
O tratamento da doença vai variar de acordo com a gravidade da doença. Em casos leves, apenas a suspensão completa da ingestão de bebidas alcoólicas já pode ser suficiente para permitir que o fígado se recupere.
Em casos mais avançados, o tratamento pode incluir:
- Medicamentos como corticoide para reduzir a resposta imunológica exacerbada do organismo;
- Suplementação nutricional para corrigir deficiências alimentares;
- Terapias de suporte, como diuréticos para controle de ascite;
- Em casos graves, o transplante de fígado pode ser a única opção viável (de acordo com os requisitos previstos na lei vigente).
A hepatite alcoólica é uma condição que exige mudanças significativas no estilo de vida. Por isso, além do suporte médico, o acompanhamento psicológico e a participação em grupos de apoio são importantes para evitar recaídas e garantir a adesão ao tratamento.
Fonte: Dra. Lisa Rodrigues da Cunha médica hepatologista